Clara adentrou o quarto empurrando a porta com as costas, já que suas mãos estavam ocupadas pela bandeja que ela trazia consigo. Fechou a porta com um dos pés e caminhou até Helena, se sentando ao lado dela na cama. Já havia ido ali e limpado a sujeira que Helena havia deixado.
-- Trouxe suco de laranja e uma maçã para você. -- Falou sem jeito. -- É o mais seguro a se colocar no estômago agora, mas como sei que você é teimosa tomei a liberdade de trazer algumas torradas também.
-- Obrigada. -- Helena disse.
-- Eu também trouxe aspirina. -- Falou e Helena focou seus olhos no remédio, franzindo o cenho.
-- Estou vendo duas aspirinas aqui.
-- Você não foi a única a beber ontem à noite. -- Clara disse rindo fraco. Ambas tomaram o remédio e Helena comeu em silêncio, enquanto Clara lhe admirava quieta. Assim que Helena terminou de comer Clara sorriu. -- Não tocou nas torradas?
-- Você disse que a maçã e o suco eram o mais seguro a se colocar no estômago agora. -- Falou e Clara assentiu se levantando.
-- Vou deixar a bandeja sobre a mesinha, tudo bem? -- Falou e Helena assentiu, vendo Clara pegar a bandeja e colocar onde havia dito, caminhando em direção à sua mala logo em seguida. -- Eu, hm, eu já vou indo então, já que não precisa mais de mim. -- Falou tristemente, sentindo seu coração se despedaçar, encarando Helena uma última vez antes de puxar a alça da mala.
-- Quem disse que eu não preciso de você? -- Ouviu Helena dizer com a voz vacilando e voltou seu olhar para a mais velha. Helena se levantou e caminhou até Clara, retirando a alça da mala de sua mão e a fitando nos olhos.
-- Do que precisa? -- Clara perguntou fitando os lábios de Helena ao ver a proximidade da maior. Helena apenas suspirou.
-- Disso... -- Em um ato intenso, Helena se inclinou e beijou Clara, pegando a mais nova de surpresa e fazendo ambos corações dispararem contra o peito.
Subitamente Clara sentiu mais vontade de chorar do que queria admitir, mas retribuiu ao último beijo sem hesitar. O beijo foi curto, apenas deu para sentir as línguas juntas em uma fração de segundos, porque no instante seguinte Helena parou o beijo e envolveu Clara em seus braços, começando a chorar descontroladamente.
Clara não aguentou segurar o choro e desabou junto com Helena, desfrutando do possessivo abraço da mais velha.
-- Eu te amo. -- Clara sussurrou entre o choro.
-- Não diga que me ama, a menos que ame. -- Helena disse se separando do abraço e lhe fitando intensamente, com o rosto encharcado por lágrimas.
-- Eu te amo tanto. -- Clara disse novamente, abaixando a cabeça para enxugar algumas lágrimas. Helena ergueu seu queixo com o indicador e polegar e suspirou.
-- Olha dentro dos meus olhos e repete. -- Clara suspirou, encarando Helena de uma maneira tão intensa que Helena não precisou ouvir mais nada para acreditar no que Clara dizia.
-- Eu amo você, Helena Weinberg. -- Disse convicta. -- Amo tanto que chega a doer; amo tanto que, cada vez que você me olha, meu estúpido coração quase explode de tão rápido que bate; -- Disse sentindo um nó se formar em sua garganta ao ver Helena apoiar sua testa na dela. Ter Helena tão próxima sempre a fazia perder o ar, como se cada célula de seu corpo gritasse por aproximação e, devido a manter a distância, seus pulmões a faziam arfar de tão cansativo que era se manter longe dela. -- Amo tanto que apesar de você não acreditar, aqui estou, falando que eu te amo desesperadamente, com cada fibra do meu ser. -- Disse mordendo seu lábio inferior antes de voltar a falar. -- Eu não sei dizer o momento exato em que esse amor começou, mas tenho a plena certeza que jamais vai acabar.
Helena engoliu em seco e assentiu, deixando o silêncio pairar entre as duas por longos segundos.
-- Meu cérebro dorme quando bebo. -- Helena finalmente sussurrou. -- Me desculpa, Amor... Me desculpa... -- Pediu quase em desespero, abraçando Clara, fazendo a mesma franzir o cenho. Enxugou algumas lágrimas e se desvencilhou do abraço, lhe encarando.
-- Desculpa pelo quê?
-- Por ter desconfiado daquela estupidez. Você não faria aquilo.
-- E como deduziu isso só agora? -- Clara perguntou confusa, sentindo seu coração gritar esperançoso.
-- Por Deus, Clara... -- Helena disse erguendo sua mão e acariciando o rosto da menor. -- Você passava horas para chegar do outro lado do parque, apenas para não cansar o coelho. Não teria a coragem de me magoar. -- Clara riu baixinho e se jogou no abraço de Helena, afundando seu rosto na curva do pescoço da maior e chorando de alívio.
-- Eu senti medo. -- Clara disse enquanto chorava baixinho.
-- Eu não sei bem o que houve e preciso ainda entender, mas minha mãe me ajudou a abrir os olhos. -- Helena disse enquanto afagava os cabelos de sua esposa.
-- Sua mãe? -- Clara perguntou erguendo a cabeça, ainda abraçada com Helena.
-- Sim... -- Helena disse levando uma mão até o rosto de Clara e enxugando suas lágrimas. -- Digamos que eu não consegui dormir logo. -- Disse, se inclinando e dando um longo beijo no rosto de Clara. -- Algumas coisas ainda não batem. -- Clara olhou temerosa para Helena assim que ouviu aquilo.
-- Já está desconfiando de novo de mim? -- Perguntou e Helena riu baixinho.
-- Pretendo nunca mais cometer esse erro de novo. -- Sussurrou depositando um beijinho sobre o nariz de Clara. -- Meu cérebro deve ser apaixonado pelo álcool, porque ficou besta. Depois de minha mãe confirmar que você esteve lá embaixo o tempo inteiro eu deveria ter me tocado, mas como disse... Minha inteligência evapora quando bebo.
-- Bom saber; vou mandar quebrar todas garrafas de bebida alcoólica dessa casa. Você é rica mesmo, não vai ligar. -- Helena gargalhou ao ouvir o tom doce que sua esposa usara e tornou a abraçar forte Clara.
-- Você é minha mulher, é tão rica como eu. -- Falou inalando o cheiro dos cabelos, ainda molhados, de Clara.
-- O bem mais precioso que eu tenho é seu amor por mim. -- Disse baixinho, enterrando a cabeça na curva do pescoço da maior, como se estando ali ninguém pudesse voltar a atingi-las.
-- Então... -- Falou, vendo Clara erguer a cabeça e lhe encarar. -- Pretendo te deixar rica para o resto de nossas vidas. -- Disse roçando seus lábios nos de Clara. Clara suspirou e fechou os olhos ao sentir o esbarrar de bocas e Helena sorriu ao ver o quão rendida Clara ficava aos seus toques. Se sentiu estúpida por ter duvidado de sua esposa, afinal ela havia lhe dito a verdade sobre quem em realidade era Peter, não teria por que dizer se fosse fugir com John.
Suspirando feito idiota se inclinou, tocando tão delicadamente os lábios de sua esposa que a mesma gemeu ante a tanta doçura. Clara adentrou sua língua na boca de Helena ao mesmo tempo que levava sua mão até a nuca da mais velha. Helena, por sua vez, aproveitava o momento, porque sabia que assim que saísse daquele quarto encontraria quem a fez acreditar naquela merda. E o culpado...? Bem, ele pagaria caro por ter feito Clara derramar lágrimas quando merecia apenas dar sorrisos. Todos os sorrisos do mundo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Clarena- Over The Rainbow
FanfictionOver the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Clara, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Théo Bastos, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Sinuhe, deseja que a filha conqu...