Capítulo 39

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- Sim? - Clara respondeu abrindo a porta já vestida. O garoto percorreu os olhos por seus trajes bagunçados, cabelos molhados desgrenhados e parou no sorriso que brincava no rosto de Clara.

- Se quiser eu posso matá-la. - Ele disse com o maxilar rígido. - Ela não deveria te obrigar a...

- Cala a boca. - Ela disse abaixando o tom de voz, porém irritada, encostando a porta do quarto. - Ela não me obrigou a nada.

- Onde ela está? - Ele perguntou.

- No banho. - Esclareceu. - Deixa que ela já sabe que tem que ir ao trabalho, obrigada mesmo assim. - Ia entrando no quarto, mas sentiu a mão forte segurar seu pulso. Suspirou e se virou para ele novamente.

- Por favor, Théo. - Sussurrou. - Agora não.

- Clara, eu... sinto sua falta. - Disse acariciando com o polegar a mão da garota.

- Nunca mais ameace matar a minha esposa. - Ela disse convicta, lhe olhando apenada. - Eu queria dizer que sinto muito por tudo o que houve, mas não sinto. - Ela disse se soltando do toque do rapaz. - Você é um cara incrível, de bom coração, Théo, mas...

- Cla? - A voz de Helena soou dentro do quarto e ela lembrou que Helena iria tomar um banho bem rápido mesmo, afinal só tiraria o cheiro de sexo, já que havia tomado banho nem uma hora atrás.

- Já vou, amor. - Ela gritou encarando o rapaz. - Me enganaram para eu me casar, não pense que sou desse tipo, mas coisas aconteceram nesse tempo. Agora não posso conversar, te procuro mais tarde. - O homem assentiu contrariado, mas sentiu alívio ao ouvir que Clara fora enganada para casar-se. Não havia lhe abandonado a toa, afinal.

- Sim, Senhora. - Voltou para seu papel e ia se retirando, mas viu a porta se abrir atrás de Clara.

- Olá, Peter. - O homem queria muito odiá-la, achar algo que o fizesse detestá-la, mas até agora só havia encontrado doçura e gentileza. - Quer tomar café conosco?

- Não obrigado, senhora. Só vim avisá-la sobre seu compromisso.

- Certo. Decerto, Clara lhe informou sobre o trabalho dela?

- Oh não, decidi que adoro ficar em casa mesmo. - Clara falou prontamente, sentindo-se nervosa por ter ambos em sua frente. Helena abraçou-lhe pela cintura e lhe deu um beijo no pescoço.

- Mas amor...

- É sério. Posso ajudar Mari... digo, Rosália na cozinha. - Não sabia se poderia revelar o segredo para todos, então preferiu esconder por enquanto até Helena decidir o que fazer. - Adoro cozinhar e, ah! Também posso dar aulas de equitação. Adoro montar a cavalo.

- Tudo bem então, princesa. - Helena disse, fazendo Clara suspirar aliviada. - Não vou tomar café então, já me atrasei demais, hm? Como algo por lá. Me acompanha até a saída, Peter?

- Claro, senhora.

- Te vejo a noite, vida. - Helena disse se inclinando e selando os lábios de Clara. - Eu te amo.

- Também te amo. - Clara sussurrou, percebendo o desconforto do homem ali parado.

- Então... - Théo começou, limpando a garganta. - A garota ali parece ser boa no que faz, hm? Aposto que se divertiram por completo. - Théo não era o tipo de homem que se refería assim às mulheres, era um homem correto, mas precisava saber se Clara e Helena haviam consumado o casamento. Se minutos antes estavam rolando entre os lençóis.

- Jamais lhe dei intimidade para se referir com tamanha falta de respeito à minha mulher, senhor Leroy. Peço que se limite a fazer comentários construtivos, caso contrário, cale a boca, pois não tolero isso. - Helena tinha princípios, não era esse tipo de mulher que saía por aí falando da intimidade com a esposa e Théo achou isso digno, apesar de ainda procurar defeito na mulher ali.

- Desculpe, Senhora. Pelo que vejo você a ama muito, hm?

- Sim. Aquela mulher ali significa tudo para mim. - Helena disse enquanto caminhavam. - A prometi que lhe faria feliz e trato de tentar cumprir isso todos os dias. - Bem, se Théo fosse perder Clara para alguém, pelo menos esse alguém tratava Clara bem.

- Admiro isso na senhora. Há pessoas que se casam focando apenas na própria felicidade. Isso não costuma funcionar se você pensa só em si.

- Tem toda a razão. Você namora? Parece ter princípios, rapaz. - Théo trincou o maxilar.

- Namorava, senhora.

- Oh, o que houve?

- Ela me trocou por outra pessoa.

- Sinto muito. - Helena disse verdadeiramente. - Espero que um dia encontre alguém que lhe retribua o amor. - Seria cômico se não fosse trágico. O quão irônico poderia ser a mulher que roubara sua namorada lhe confortando?

- Ela gostava de mim, tenho certeza. - Ele disse se contendo para não soar ríspido. - Acontece que pessoas ricas podem comprar casamentos. - Helena lhe fitou seriamente.

- Tem toda a razão. Acho ridículo esse meio de tratar as mulheres como meros objetos. Elas deveriam escolher com quem querem ficar. - Disse despreocupada.

- Infelizmente a mulher pobre não tem direito de escolha. Por exemplo, se sua esposa alegasse ser apaixonada por outra pessoa, a deixaria livre? - Perguntou debochado.

- Já ofereci comprar uma casa para minha esposa e seu ex, dar o divórcio. - Falou. - Então o que acha? - Théo a olhou surpreso.

- Sua esposa... é apaixonada por outra pessoa? - Helena sorriu aliviada.

- Não. Ela negou minha oferta e já disse que me ama, por sorte. - Confessou. - Não sei por que te contei essas coisas, sinto muito. Não gosto de molestar. - Théo se conteve para não chorar e apenas negou com a cabeça.

- Sem problemas, senhora. É bom fazer amizades ao longo da vida.

- Me chame de Helena. - Ela pediu, chegando ao seu cavalo, finalmente. - E tem razão. Amizade é essencial. Tenha um bom dia, senhor Leroy.

- Para a senhora também, senhora Weinberg Albuquerque.

- Já disse para chamar-me de Helena. - Helena disse ao montar.

- Então pode me chamar de Peter.

- Certo, Peter. Até logo.

- Até, Helena. - Disse, vendo o cavalo se distanciar de sua visão. Propôs assassinar uma mulher boa, que aparentemente amava sua esposa. E o pior, propôs isso a alguém que a amava de volta. Precisava ouvir Clara lhe dizer isso. Se Clara negasse, ele faria qualquer coisa para tê-la de volta, inclusive matar Helena caso Clara dissesse que ela lhe forçara a algo e fugir com sua paixão, mas se Clara assumisse amar Helena ele deixaria o caminho livre para a felicidade da moça.

Amava Clara, mas não se prestaria ao papel de se converter em alguém sombrio por ela. O amor era sobre a liberdade, e se Clara amava Helena, ele a deixaria livre para voar para onde quisesse e seguiria seu próprio caminho.

Clarena- Over The RainbowOnde histórias criam vida. Descubra agora