Capítulo 30

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-- Você não deveria ter acordado as patroas, homem teimoso. – Rosália disse negando com a cabeça.
-- Ele fez certo em nos avisar. Se o doutor dissesse que você precisava ir ao hospital eu precisaria mandar alguém preparar a carroceria para levá-la. – Helena disse. Clara apenas assentiu, estava abraçando sua esposa por trás, com a cabeça apoiada em seu ombro.
-- Mandei levar seu sangue para análise e, por se tratar de alguém daqui da casa principal, em algumas horas já saberemos o que houve, mas aparentemente foi algum estresse que sofreu. -- Eu estou bem. – Rosália disse. – Me levantei apenas para tomar um copo de água e me senti mal, mas foi algo passageiro.
-- Se você não tivesse caído na frente de meu quarto eu não teria ouvido. – Jerry disse, acariciando o braço da mulher.
-- Enquanto isso precisa de repouso. São algumas horas só até termos o resultado, mas mesmo assim. É sempre bom prevenir.
-- Ótimo. Então já podem voltar a dormir. Eu ficarei bem. – Rosália disse, mas ninguém se moveu. – Ouviram o homem. Preciso descansar. – Falou firme, elevando a voz e todos riram, assentindo.
-- Não pretendo sair daqui. – Helena disse se desvencilhando de Clara, se aproximou e segurando a mão da mulher. Rosália lhe olhou com ternura.
-- Oh, minha menina. – Disse enquanto uma de suas mãos seguravam o rosto de Helena. – Sempre tão preocupada. – Sorriu. – Mas eu ficarei bem, foi só um susto, não se preocupe. No momento eu só preciso que me faça um favor.
-- Qualquer um.
-- Volte para seu quarto, para o aconchego de sua esposa. Pela manhã nos vemos. – Helena a olhou e entortou a boca, fazendo Rosália rir alto. – Não seja desobediente.
-- Tudo bem. – Se rendeu. – Volto logo pela manhã ou assim que o doutor tiver os resultados. – Helena disse dando um beijo na testa de Rosália. – Se cuida. – Acariciou a mão da mulher uma última vez.
O doutor saiu, junto com os outros empregados.
-- Boa noite, meninas! – Rosália disse e Helena segurou os dedos de sua esposa.
-- Vai na frente, quero trocar uma palavrinha com Rosália antes. Já te alcanço. – Clara disse e Helena assentiu, se inclinando e fazendo Clara segurar seu rosto enquanto suas bocas se encontravam em um terno encostar de lábios.
-- Boa noite, Rosália. – Helena disse, saindo do quarto logo em seguida. Clara caminhou até a beira da cama da mulher, que sorria.
-- Você é mais esperta do que pensei, criança. – Ela disse e Clara sorriu compreensiva. – Como descobriu?
-- Bem, primeiro desconfiei porque sempre que Helena menciona a mãe dela você fica pálida. Segundo porque você a olha de uma forma única. Terceiro porque comecei a reparar bem e os olhos são os mesmos, alguns traços também, não precisa ser muito gênio para descobrir depois de se estar desconfiada e, bem, por último... você esqueceu de fechar a caixa de lembranças dela, que está em cima de sua cômoda. – Disse apontando para a cômoda marrom escura do lugar. Rosália arregalou os olhos e Clara logo segurou sua mão. – Ela não reparou, não se preocupe.
-- Sou uma covarde. – A mulher disse segurando as lágrimas.
-- Por que nunca a contou? Por que diz se chamar Rosália quando na verdade se chama Maria?
-- O pai dela aceitou me deixar perto de Helena depois de tanto que insisti, mas somente sob essas condições.
-- Mas depois que ele se foi...
-- Oh, querida, Rosália é a empregada favorita de Helena. Ela me adora, me mima, me obedece e me respeita; me valoriza e cuida de mim, me permite cuidar dela também. – Disse sorrindo orgulhosa. – Maria é só... – Suspirou. – Só uma prostituta, que escondeu a verdade da filha a vida inteira. Ela me odiaria! Então para que dizer a verdade e só trazer dor e destruição?
-- Ela merece saber. – Clara disse, apesar de entender o ponto de vista da mulher mais velha. – Helena não te julgaria pelo seu passado.
-- Não quer mentir para ela, hm? – Maria disse sorrindo e Clara assentiu timidamente.
-- Ela e eu estamos nos dando bem e eu não queria construir nada em cima de mentiras. – Confessou cabisbaixa.
-- Você aprendeu a amá-la, estou errada? – Clara corou e mordeu seu lábio inferior.
-- Não sei se é amor. – Maria deixou uma risada gostosa escapar de seus lábios.
-- Diga-me, criança... Como se sente quando está com ela? – Os olhos de Clara brilharam ao lembrar-se de Helena.
-- Plena. – Clara respondeu com um sorriso brincando em seus lábios. – E ao mesmo tempo perdida. É como se com ela eu me achasse e me perdesse ao mesmo tempo. – Constatou. – Quando ela vai trabalhar me sinto... vazia, mas quando ela volta não me contenho de tanta alegria. – Disse mordendo seu lábio inferior. – Também tenho sentimentos ruins, como quando ela está perto de Paula. Tenho vontade de esganá-la por ser tão sonsa e não saber dizer não àquela garota. – Falou trincando o maxilar e Maria riu, sabendo que se tratava de ciúmes.
-- Voc...
-- Ela tem aqueles olhos, que me olham com tanto afeto que tenho vontade de mergulhar neles e nunca mais sair daquelas águas. – Maria sorriu ao ouvir o comentário da nora. – Mas não é só a beleza que me prende, sabe? Algo na paciência e doçura dela me cativa. Helena é doce, delicada, paciente e benevolente. – Disse com sinceridade. – É madura, responsável, gentil, honesta... Não consigo reunir todas as qualidades, mas sei que tem muito mais.
-- E ainda diz que não é amor...
-- Acho que é cedo demais para dizer que é amor, mas com certeza estou apaixonada por ela. – Clara confessou. – Perdidamente apaixonada e só agora posso ver isso. Precisei quase perdê-la para perceber isso.
-- Por que quase a perdeu? – Maria perguntou curiosa.
-- Digamos que desconfiei de algo estúpido.
-- Bem, não volte a cometer o mesmo erro. Helena é uma espécie rara de ser humano bondoso. Não se acha muitos dela por aí. – Maria disse, segurando a mão de Clara com uma mão e dando leves batidinhas com a outra. – Me responda algo, criança... Se Helena te dissesse que é infeliz ao seu lado, que deseja a separação por estar apaixonada por outra pessoa, você deixaria ela livre? – Clara sentiu seu peito contrair ao imaginar a cena.
-- Eu... insistiria, lutaria por ela. Não posso deixá-la ir tão fácil assim. – Falou. – Mas se nada do que eu fizesse adiantasse... – Entortou a boca e suspirou. – Bem, eu quero muito que Helena seja feliz, Maria. Ela merece. – Sussurrou.
-- Então se divorciaria?
-- Sim. – Confessou em tom baixo. – Ela merece a felicidade mais do que qualquer pessoa no mundo e eu não tenho o direito de prendê-la; de privá-la de ser feliz.
-- Então escute o que vou lhe dizer, querida. – Maria disse, encarando-a nos olhos. – A paixão é intensa, ardente, algo incrível, mas também é egoísta. – Falou. – Você até pode estar apaixonada por Helena também, mas seu amor por ela está presente. Você está disposta a abrir mão dela para deixá-la ser feliz com outra pessoa, mesmo a querendo. – Apontou os fatos. – Só o amor é generoso assim; só o amor é capaz de dar essa liberdade, apesar da dor. – Clara lhe fitou compenetrada. – O amor não é questão de tempo; não é sobre ser cedo demais ou não; é sobre sentir, se dar; é sobre o respeito mútuo e o desejo de sempre querer bem o outro; é sobre não ser egoísta. Você está sim apaixonada por ela. Essas coisas de frio na barriga, ansiedade, saudade, desespero, desejo intenso e ciúmes infundado é coisa da paixão. O amor é mais maduro, mas apesar de ter todos os sintomas da paixão, você a ama. – Falou convicta. – E, querida, amar alguém e estar apaixonada por essa mesma pessoa ao mesmo tempo é algo incrível. Nada mais bonito do que a mistura dos dois.
-- Uau. – Clara disse analisando cada palavra dita por Maria.
-- Vocês merecem ser felizes juntas já que partilham do mesmo sentimento. – Disse sorrindo, com lágrimas nos olhos. – Helena nunca foi tão feliz como tem sido ultimamente e eu não vou me permitir acabar com o casamento de vocês. – Ela disse. – Jamais me perdoaria... Então vou contar a verdade a ela, só me dê um tempo.
-- Está ótimo para mim. – Clara disse sorrindo. – E, Maria... Ela não te odiaria jamais. Helena é a pessoa mais preciosa que conheço na vida. Ela pode até ficar com raiva por um tempo, mas vai te entender.
-- Assim espero, querida. – Disse em um tom fraterno. – Agora volte para suas atividades sexuais. – Clara arregalou os olhos e olhou para a mulher, que gargalhou.
-- Nós não... – Sua voz era puro embaraço.
-- Oh, por favor... Ambas chegaram aqui com os robes totalmente tortos no corpo, com os cabelos desgrenhados e com os seios avisando que, se não estavam com frio... – Deu um olhar sugestivo sem dizer mais nada e Clara enrubesceu ainda mais.
-- Não acho que esse seja um assunto apropriado a se discutir com a minha sogra. – Clara disse timidamente e os olhos de Maria brilharam ao ouvir ser chamada de sogra.
-- Certo. Boa noite, querida. – Clara abriu o maior dos sorrisos.
-- Boa noite, Maria.
[...]
-- O que queria com ela?
-- Segredo. – Clara disse ao fechar a porta. Retirou seu robe, que havia posto por cima da camisola curta, e se aninhou entre os braços de Helena assim que subiu na cama.
-- Vai me esconder as coisas então? – Helena disse em um falso tom de surpresa.
-- Nunca! Quando ela decidir te contar você saberá, tudo bem? – Falou, dando um beijo no rosto de Helena.
-- E por que você já não conta?
-- Porque esse é um assunto que não me diz respeito. Agora vamos dormir porque já, já o médico volta e estou com sono. – Helena assentiu, deixando um beijo na testa de sua esposa antes de apagar a luz do abajur e se aconchegar mais com Clara em seus braços.

Clarena- Over The RainbowOnde histórias criam vida. Descubra agora