Capítulo 33

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-- Hey... Te achei. -- Clara disse ainda arfando. Havia corrido muito, muito mesmo. Achou Helena sentada no pé de sua cama, abaixada de um jeito que, se Clara não entrasse no quarto, não conseguiria ver Helena. -- Baby... -- Clara disse ao fechar a porta. As únicas luzes ali eram as vindas do abajur, já que as cortinas estavam fechadas. Se aproximou dela, se sentando cautelosamente ao seu lado no chão.               
-- Há quanto tempo? -- Helena perguntou com a voz neutra. Seus olhos estavam escondidos, pois sua cabeça estava encostada em seu braço, apoiado nos joelhos, de modo que Helena olhava para seu próprio colo e ninguém conseguiria ver seu rosto.             
-- Desconfio há algum tempo, mas só ontem tive a certeza. -- Confessou deixando um longo suspiro se esvair. Helena levantou a cabeça rapidamente e lhe fitou.              
-- Jura? -- Clara apenas fez um leve balançar de cabeça assentindo e Helena se jogou em seus braços de supetão.                
-- Pensei que tivesse me enganado também. -- Disse se entregando ao choro que estava preso em sua garganta. Clara sentiu o abraço forte demais, mas como não a machucava deixou Helena assim mesmo. Sua mão direita foi aos cabelos de sua esposa, em uma carícia calma.
-- Eu disse ontem a você que não me cabia te contar isso. -- Falou calma. -- Como está?                     
-- Horrível. -- Helena disse chorando intensamente. Clara odiava ver Helena chorar assim, mas sabia que seria bom extravasar.                     
-- Eu sinto muito não...
-- Você não tem culpa de nada, Cla. -- Falou reprimindo alguns soluços. -- Ela não podia ter feito isso comigo. Não podia ser minha mãe. -- A frustração na voz de Helena era notória. Clara apenas continuou sua carícia por vários minutos em silêncio, deixando Helena chorar e desabafar. Não seria fácil para ninguém passar por semelhante situação. Depois de algum tempo Helena foi se acalmando gradativamente.                   
-- Bae... Eu não entendo algo... --
Clara decidiu quebrar o silêncio. -- Se você ama tanto Rosália, que agora sabemos que se chama Maria, por que é tão ruim a ideia de ela ser sua mãe?               
-- Você não entende...? -- Helena disse se aninhando mais nos braços da mais nova. -- Ela mentiu para mim a vida inteira. Ela sempre esteve aqui, mas me fez acreditar que não, que minha mãe não me amava o suficiente. -- Falou com a voz embargada. -- Ela me traiu, Clara. Me fez achar que eu não era digna do amor de uma mãe. Me fez pensar longas noites em qual seria meu defeito, no porquê de uma mãe abandonar uma filha tão pequena.               
-- Vem aqui. -- Clara disse retirando os sapatos e se levantando, se deitando na cama. Helena a seguiu e em segundos voltou a se aninhar em seu abraço como um filhote de gato. -- Você deveria terminar de ouvir a história dela.                    
-- Clara, você é a minha esposa. Deveria estar ao meu lado. -- Helena disse fazendo um bico. Ainda chorava, mas Clara soube que dessa vez era manha.               
-- Hey... -- Clara disse segurando seu rosto com ambas as mãos, fazendo Helena olhar em seus olhos. -- Eu sempre estarei ao seu lado, certo? Só quero que clareie os pensamentos
-- Helena assentiu e lhe abraçou novamente.              
-- Posso te pedir algo? -- Helena sussurrou.              
-- O que quiser.                    
-- Me dá um beijo? -- Falou ao erguer a cabeça, deixando seu rosto próximo ao de Clara.                     
-- Não precisa me pedir algo assim. Meus beijos são todos seus. -- Clara disse se inclinando e selando os lábios de Helena. Só queria tirar toda a dor do coração de Helena. Se pudesse pegar para ela a dor, pegaria, não suportava ver Helena tão vulnerável.                     
-- Seu beijo me acalma. -- Helena disse no intervalo de um selinho e outro.                 
-- Bom saber disso. -- Clara disse sorrindo fraco no fim do último selinho, mas sua respiração oscilou ao ver Helena lhe olhar de uma forma intensa. Sentiu seu coração se acelerar e seu corpo esquentar. Não era certo pensar nisso agora. Não era. -- Lena? -- Chamou baixo quando Helena se inclinou mais e deixou um beijo em seu pescoço.    
-- Hm? -- Helena disse subindo uma trilha de beijos até o lóbulo de sua orelha, onde mordeu delicadamente. Clara tremeu levemente e fechou os olhos desfrutando da sensação.
-- Está me seduzindo? -- Perguntou rindo. Helena parou o que fazia e lhe fitou fixamente.
-- Eu preciso? -- Clara riu e lhe deu um tapa no braço de leve.
-- Não quero...Você sabe... -- Ela disse e Helena assentiu, se inclinando devagar e tomando seus lábios em um beijo caloroso. Jamais se acostumaria com a sensação em seu estômago cada vez que sentia a língua de Helena tocando a sua. Gemeu baixinho quando Helena acariciou sua coxa, para logo apertar de uma forma estratégica. -- Lena... -- Tentou novamente entre o beijo, com a voz falhada.
-- Desculpe. -- Helena disse aplicando força ao fechar os olhos. Respirou fundo e voltou a abrir os mesmos.
-- Não tem que se desculpar, tonta. -- Clara disse passando o dedo indicador sobre o nariz de Helena.
-- Claro que tenho. Você disse que não queria e eu...
-- Não é que eu não queira. -- Se retratou prontamente. -- Porque se você pudesse sentir como fica a minha calcinha cada vez que me beija assim... -- Falou vagarosamente, com a voz ligeiramente mais rouca, livre de vergonha, mordendo seu lábio inferior.
-- Clara... -- Helena disse, apertando o maxilar para conter o desejo de gemer ao ouvir aquilo. -- Dizer isso não ajuda. -- Falou rindo, porém em seus olhos ainda era possível ver a chama do desejo.
-- O fato é que...Bem, eu quero que nossa primeira vez seja incrível. -- Confessou corando levemente. -- E você está triste, com a mente cheia. Não quero ser seu escape. Não quero que façamos isso enquanto você pensa na sua mãe.
-- Oh meu Deus. -- Helena disse horrorizada. -- Ela não é... Eu não pensaria... -- Diante do olhar severo de Clara apenas se deu por vencida, deixando seus ombros caírem. -- Entendi seu ponto. Desculpe.
-- Não se desculpe. -- Falou segurando a mão de Helena. -- É que eu quero que seja especial. Eu nunca... tive relações com mais ninguém. -- Disse abaixando o olhar para as mãos delas entrelaçadas sobre a cama. -- Eu sei que pode parecer patético e que você já deve ter saído com várias, mas...
-- Zero. -- Clara franziu uma sobrancelha.
-- O quê?
-- Eu disse zero.
-- Zero o quê? -- Perguntou confusa.
-- Esse é o número exato das várias mulheres com quem estive. -- Clara lhe fitou surpresa.
-- Mas então como você... Como sabe que...
-- Diz uma coisa... -- Helena disse deslizando seu dedo indicador da mão livre pela coxa de Clara em uma carícia torturante, fazendo ele parar quase na virilha da garota. Clara quase gemeu diante do tesão que sentiu subitamente. -- Se sente atraída por mim? -- Clara assentiu com a respiração completamente desregulada. -- E uma pessoa heterossexual sentiria isso? -- Perguntou, brincando com seu dedo em uma zona perigosa. Clara apenas negou com a cabeça, quase sem ar.
-- Eu não sei o que eu sou... Eu gostava de homens, tenho certeza, mas...
-- O termo correto é bissexual. -- Helena disse se forçando a retirar a mão de onde estava. O corpo de Clara quase gritou de raiva diante da falta de calor, no entanto sua mente agradeceu.
-- Como?
-- Bissexual. Quem gosta tanto de pessoas do sexo masculino quanto do sexo feminino. Às vezes você pode gostar mais de homem ou mais de mulher, mas não deixa de ser sentir atraído por ambos os sexos.
-- Oh. -- Clara desconhecia o termo. Onde viviam o preconceito era imenso. Quem era, geralmente, escondia isso somente para si mesmo. Helena tivera a coragem de revelar para todos, mas por ser a comandante ninguém lhe faltava com o respeito. Com o tempo os moradores dali passaram a entender que não era nada demais a orientação sexual das pessoas, mas ainda existia muitos com um terrível preconceito.
-- E eu sou homossexual. Nunca tive relação sexual com ninguém, mas jamais me senti atraída por nenhum garoto. -- Confessou. -- Não preciso de sexo para saber do que gosto.
-- Entendo bem. -- Clara disse ainda se recuperando das provocações de sua esposa. -- Então nunca ficou com ninguém, hm? -- Clara perguntou sorrindo. Estava feliz de repente. Saber que Helena não tinha estado com outra pessoa lhe fazia sorrir bobamente.
-- Para sexo não. -- Disse e Clara tentou se concentrar na parte boa, e não na parte onde seu cérebro lhe fazia imaginar Helena beijando outra mulher. Não que imaginasse que Helena nunca tivesse beijado ninguém, e, bem, ela também já havia beijado antes de Helena, mas o formigamento de raiva que lhe surgia ao pensar em Helena com outra pessoa era inevitável. -- E eu também quero que seja especial.
-- Certo. -- Clara disse encostando sua testa na de Helena. O olhar da mais velha de tristeza voltou a aparecer e Clara acariciou o seu rosto. -- Vai ficar tudo bem. -- Sussurrou.
-- Será?
-- Estou tão certa disso.
-- E por quê? -- Helena perguntou sentindo a carícia de Clara.
-- Porque me casei com uma mulher tão madura... -- Falou baixinho. -- Tão honrada, tão justa... E por isso sei que quando a sua raiva passar você fará a coisa certa.
-- Mas...
-- Sem "mas". Só deita aqui comigo e me abraça. -- E no momento seguinte ambas estavam abraçadas sobre a cama de casal.

Clarena- Over The RainbowOnde histórias criam vida. Descubra agora