Capítulo 3

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• Fernando •

Maycon: Olha, eu não amo ver você todos os dias, mas é insuportável olhar para a sua cara e ver que você não é capaz de esticar os lábios em um sorriso – diz Maycon sentado à minha frente com um olhar de ranço que não me deixa menos irritado.

Reviro os olhos, impaciente.

Fernando: Você já deveria ter se acostumado com o meu jeito – murmuro, desviando o olhar do rosto dele para a pilha de papéis que ele deixou sobre a minha mesa.

Uma coisa sobre trabalhar com Maycon e a sua companhia: é estressante para um grande caralho.

Desculpas aos que gostam de sorrisos, simpatias e piadas sem o menor sentido, mas eu detesto. Se estou no meu trabalho é para trabalhar. Não quero saber da vida de ninguém, dos negócios de ninguém e, muito menos, de quem é nova ou não no pedaço. Se há novas vendedoras gostosas ou que estão interessadas em qualquer coisa relacionada, seja a eles ou a mim, não me importa em nada.

Maycon e os funcionários que ele enfiou na minha empresa são reis na arte que eu mais odeio na minha vida e esse é só um dos motivos pelo qual não suporto trabalhar com ele. E muito provavelmente, eles me odeiam também, então... estamos igualados.

Maycon: Ninguém consegue se acostumar com esse seu bico horrível. As mulheres que você se envolve devem ser cegas ou conseguem se enganar muito bem. Não entendo porque correm tanto atrás de você – diz apontando para os meus lábios, mas eu não poderia me importar menos com o que ele gosta ou não, afinal não é para isso que está sentado na minha frente. — É desgastante para a nossa relação que me trate como...

Fernando: A única relação que eu tenho com você se resume a trabalho e, da mesma forma que não me interessa o que as mulheres que eu me envolvo estão pensando ou desejando, também não deveria importar para você – digo, interrompendo o seu discurso. — Já conseguiu o contrato da empresa falida?

Ele suspira e eu arqueio uma sobrancelha.

Está vendo? Fala demais, trabalha de menos.

Se estivesse focado em negociar a compra da empresa, não estaria enchendo a porra do meu saco. Parece que eu nunca tenho o suficiente em um dia.

Tudo conspira para triturar o resto de paciência que ainda vive em mim.

É desgastante que eu tenha vizinhas novas, onde uma delas fica parte da noite inteira conversando com a minha filha na janela e essa não é a pior parte: eu posso ouvir tudo do meu quarto. Se elas falam de meninos? Sim, elas falam e eu escuto tudo. Se elas falam de artistas que são fãs? Falam sim e eu acordei sabendo de cor o nome completo de Ariana Grande.

Qual a relevância de Ariana Grande para a minha vida? Nenhuma.

Fernando: Tenho um compromisso e não vou ficar a minha manhã inteira olhando para a sua cara. Faça a droga do seu serviço – murmuro emputecido demais para manter a calma...

Que calma?

Nunca estou calmo e, com certeza, vou morrer cedo. A culpa é de pessoas incompetentes como Maycon, que fica horas sentado na minha frente, olhando para a porra da minha cara e falando de vidas que não interessam a minha conta bancária. O engraçado é que no final do mês quer receber a merda do seu salário como se estivesse fazendo alguma coisa de relevante para a empresa.

Vai se foder, cara.

Respiro fundo, eu não vou me estressar.

Maycon: Fernando, você ainda vai sentir a minha falta.

Um acordo imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora