Capítulo 8

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• Fernando •

Alice: Pai! – grita Alice do corredor.

Abro os olhos, ainda baqueado do treino de ontem, para vê-la empurrar a porta e entrar de uma vez no meu quarto. Desde quando Alice acorda antes das nove horas da manhã em um sábado?

Fernando: O que foi, minha filha? – questiono ainda meio grogue ao me virar.

A luz do corredor bate em cheio no meu rosto e eu preciso fechar os olhos.

Alice: O senhor não vai acreditar!

E por que ela está gritando?

Fiquei surdo e não tomei conhecimento?

Fernando: Se você não me contar, eu não vou acreditar mesmo – sussurro e puxo o lençol para me cobrir mais um pouco, mas a minha filha é muito fora de si às vezes e puxa o cobertor de onde eu me cobri. Não sei para quem ela puxou desse jeito, mas eu sei que não foi para mim. — Por que você acordou cedo?

Alice: Ariana Grande está em São Paulo! – grita, pulando em cima de mim e eu acho, por um segundo, que essa menina vai me deixar doido.

E, a propósito, odeio esse nome.

Fernando: E o que isso vai mudar nas nossas vidas? – questiono, me sentindo pronto para voltar a dormir.

Alice: Pai! É a Ariana Grande! O senhor está me escutando?! – grita mais um pouco e eu estou prestes a levantar.

Eu não queria dormir mesmo.

E, inclusive, o meu despertador começa a vibrar ao meu lado antes do zumbido ensurdecedor iniciar, o que indica que são cinco horas da manhã.

De um sábado.

Em que Alice nunca acorda antes das nove horas.

Fernando: É impossível não escutar você, bebê.

Jogo as cobertas para o lado e a puxo para um beijo de bom dia.

Alice: Pai, eu não sou um bebê! – reclama, mas retribui o meu abraço e se aconchega a mim. — Mas, se eu for, o senhor vai me levar para ver a Ariana?

Solto uma risada, porque ela deixou o seu tom de voz tão baixo, suave e agradável que eu não tenho uma possibilidade cabível nessa vida de não me divertir com essa pequena interesseira.

Consigo ver nos seus enormes olhos castanhos escuros o que está pensando e querendo, como uma louca, fazer.

Fernando: Você sabe que eu nunca recuso que você faça alguma coisa que está ao meu alcance, certo? – questiono e mesmo que meus olhos ainda estejam sensíveis pela luz intensa, ainda consigo olhar para a expectativa que ela envia para mim. — Mas, dessa vez... só dessa vez, não vai ser possível.

Ela murcha inteira nos meus braços e os seus olhos enchem de lágrimas.

Alice: Por favor, pai... lá vai ter várias pessoas! Várias fãs vão lá para ver a Ariana!

Suspiro.

Por que é tão difícil para a minha filha entender coisas tão simples?

Fernando: Eu preciso ir trabalhar, bebê. – Deslizo os meus dedos no seu cabelo bagunçado. — E você precisa estudar. É isso que meninas de quinze anos fazem.

Ela bufa, desviando o olhar do meu rosto.

Em silêncio, se desfaz dos meus braços e levanta da minha cama. Coloca o par de chinelos e caminha para fora.

Um acordo imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora