Capítulo 29

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• Maiara •

Quatro meses depois...

Quando os meus pais morreram, lembro que fiquei perdida, sem saber para onde ir e o que fazer, mas eu tinha uma criança de cinco anos que, pior do que eu, era atacada de todos os lados pelos nossos familiares.

Precisei me erguer nesse momento, mas não foi por mim.

Foi por ela.

Foi porque eu, com dezenove anos, tinha, a partir daquele momento, responsabilidade por aquela menina que os nossos pais deixaram para trás com aquele trágico acidente. Agarrei Malu com os meus dois braços, a sentença final de que a herança era nossa e a guarda da Malu era minha, uma vez que eu era maior de idade e tinha completo equilíbrio para cuidar de nós duas, e fui embora.

Aprendi que eu precisava reaprender a andar sozinha e que deveria me tornar uma rocha para que ninguém mais ousasse tentar atingir a nós duas.

Nem eu, nem Malu teríamos os nossos pais como base a partir dali, então eu precisava me tornar a nossa base.

E eu me tornei. Como agora.

Nunca é fácil sentir que uma pessoa não se importa com você.

Namorei Luiz por cinco anos e a dor que eu senti quando descobri que ele roubou a minha herança não foi maior do que sentir que o Fernando não se importou nem um pouco com a revelação da minha gravidez.

Mas, sabe, a minha vida não podia parar porque o pai do meu bebê não se importa com nós dois.

Ok, ele é o meu vizinho.

Ok, ele escolheu não se comunicar comigo.

Ok, ele é um pai excepcional para Alice e não parece ser o mesmo homem que me deu as costas assim que eu disse que estava grávida, o mesmo que não me procurou dia nenhum durante os quatro meses seguintes, mas escolheu me encarar de longe como se existisse uma barreira nos separando.

Ele me via todos os dias. Era inevitável, somos vizinhos, afinal. Eu percebia o seu olhar descendo para a minha barriga e via que ele tinha algo a dizer, mas ele nunca diminuiu o espaço entre nós. Fechado como antes, Fernando voltou a sua casca dura que eu conheci com ressalvas apenas na presença da Alice.

Sérgio: Minha filha, eu comprei verduras e legumes para que possamos fazer uma sopa no jantar. Você vai querer? – questiona o senhor Sérgio.

Abro um sorriso e aceno em resposta, grata por tê-lo aqui todos os dias.

Ele não parou de pisar na minha casa desde que eu desmaiei pela primeira e última vez. Não faço ideia de como ficou sabendo da minha gravidez ou que ele é o avô, até porque nunca tocou no assunto, mas fez questão de me deixar saber que ele sabe e sente muito pela postura do filho.

Sérgio: Alice e Maria Luiza vão para um passeio da escola hoje – comunica e, com um prato, contendo duas maçãs, ele se aproxima de mim.

Senta ao meu lado e começa a descascá-las.

Ele sempre descasca, fatia e corta em cubos as frutas e eu roubo todas as cascas, porque é a parte mais deliciosa da fruta.

Maiara: Elas estão tão felizes com a gravidez – comento e ele sorri.

Sérgio: Alice passa o dia inteiro falando sobre o que vai fazer quando o bebê nascer.

Não tenho dúvidas de que ela será uma irmã babona e muito presente. Sinceramente? Me sinto muito sortuda por ter os dois comigo.

Um acordo imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora