Capítulo 12

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• Maiara •

Maria Luiza: O pai da Alice é tão chato – murmura Malu ao meu lado na cama. — Eu não acredito que ele derramou o chá que você fez para ajudar ela.

Fecho os olhos e suspiro.

Homens, como sempre, só se superam.

Maiara: Homem sendo homem.

Maria Luiza: Achei que seria diferente depois de outro dia... você sabe, quando quase se beijaram e...

A minha cabeça gira para vê-la em questão de segundos. O que ela quer dizer com isso?

Maiara: Não viaja, Malu. Aquilo não foi um quase beijo. – Afasto-me dela e levanto da cama, então sigo o meu caminho para fora do quarto. — E isso não quer dizer nada... não é como se depois de um beijo a gente pudesse esperar alguma gentileza de alguém.

É mentira, porque eu só quero que ela perceba que eu não tenho nenhum tipo de reação ao pai da sua amiga.

A verdade é que quando a gente compartilha um momento íntimo com uma pessoa, a gente espera sim o mínimo de gentileza. É o que ele deveria ter me entregue ontem, quando me viu na sua casa, entregando um chá para a sua filha que se contorcia em cólica abdominal.

Abro a porta do banheiro e entro ali para tomar o meu primeiro banho do dia.

Não posso perder muito do meu tempo pensando no porquê de uma pessoa ser tão escrota ao ponto de não olhar para o outro com o mínimo de simpatia. Um corpo bonito não pode me deixar cega para uma personalidade de merda.

Maria Luiza: Eu acho que ele é lindo – diz Malu ao entrar no banheiro, assim que eu começo a banhar. — E acho que vocês combinam muito.

Maiara: Você está louca! Não me atrele a um... um... troglodita como ele – rosno, e ela cruza os braços na frente do peito.

Encostada na parede perto do box, ela me encara.

Maria Luiza é uma adolescente de fases.

Há dias que ela não quer me ver nem pintada de ouro. E há dias, como hoje, que ela quer me deixar maluca, enquanto se aproxima de mim. Em outro momento, eu explodiria, o que a afastaria de mim. E não é isso que eu desejo.

Maria Luiza: Ele é um pai solo, Maiara. É claro que ele vai ser durão... sabe, e você gosta de homem assim.

Fico de costas para ela, pego o meu sabonete e me apresso em banhar em silêncio, assim essa conversa acaba logo e eu posso sair daqui.

Que situação.

***

Maria Luiza: Por que não esperamos a Alice sair? – questiona a minha irmã pela milésima vez enquanto caminhamos pelo condomínio.

Maiara: Porque não podemos ficar incomodando uma pessoa que já percebemos que não gosta nada da gente – murmuro de volta, sob saltos que maltratam os meus pés. — E sempre nos viramos sozinhas.

Maria Luiza: Com um carro na garagem sempre foi fácil – diz ela e bufa em seguida. — Mas você é uma topeira ambulante que, além de deixar o seu ex roubar tudo o que o papai deixou, ainda deixa uma Mercedes na garagem dele. Eu não sei o que fazer com você.

Fecho os olhos, sentindo a dor das suas palavras.

É verdade que eu deixei o carro novo na garagem do prédio, mas é que quando a gente está saindo de um relacionamento, a última coisa que passa na nossa cabeça é levar qualquer coisa que possa fazê-lo ser lembrado por um minuto maldito que seja. E aquele carro foi ele quem me deu.

Um acordo imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora