Capítulo 30

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• Fernando •

Estou no meio de uma crise de enxaqueca horrível.

Parece que dez mil tratores passaram por cima da minha cabeça e eu tenho que lidar com cada um deles. A garrafa de whisky ao meu lado é a única responsável por me ajudar a filtrar essa merda incômoda.

Respiro fundo, encho o meu copo e tomo um grande gole.

O Whisky me salvou muitas vezes no passado. Foi o meu refúgio quando tentei fugir de todas as merdas que estavam passando na minha cabeça até então. Agora que estou confuso, preso em um vazio existencial de possibilidades, ele se tornou, mais uma vez, a minha válvula de escape para dormir, para encarar mais um dia e continuar morando ao lado de uma mulher que me destrói a cada vez que me encara de um jeito tão doloroso.

Dói nela o meu silêncio.

Eu sei, eu vejo nos seus olhos o quanto a distância que acabou se formando entre nós dois é dolorosa, mas eu não conheço uma outra forma de reagir a tudo isso.

Posso perder a minha filha. E isso está me matando.

Maycon: Senhor – diz Maycon ao abrir a porta. — A sua filha está aqui.

Franzo a testa, confuso. Ela nunca apareceu em nenhuma filial que estou trabalhando. Por que, de repente, está aqui?

Fernando: Mande entrar – digo e deixo o copo de lado.

Logo que ele se afasta, Alice entra na minha sala com um meio sorriso, que, assim que vê a minha garrafa de bebida, se desfaz e exibe uma careta.

Alice: A última que eu achei no seu quarto, joguei fora – diz ela, sem parar de andar. Quando fica na frente da minha mesa, solta uma respiração profunda e estende a mão. — Esqueci uma coisa na sua carteira.

Fernando: O que você poderia ter esquecido na minha carteira, Alice?

É a sua nova tática para tirar dinheiro de mim. Ela não me pede mais dinheiro.

A minha carteira deixou de ser minha e, agora, é dela. Já deixa a sua identidade ou qualquer papel ali dentro que é para ter uma desculpa para me pedir e tirar, por conta própria, o quanto quiser.

Mas, dessa vez, estou prevenido e ela não vai me arrancar um centavo.

Tiro a carteira do meu bolso e a entrego.

Fernando: Quem trouxe você? – questiono e ela revira os olhos.

A menina revirou os olhos para mim? Não é possível.

Alice: Maiara. Acabamos de sair do médico – informa ao abrir a minha carteira.

Fernando: Por que vocês foram no médico? – questiono, inclinando-me na mesa. Ela não me disse que teria algo... ou que eles precisavam ir ao médico. — Aconteceu algo? Ela está bem? O que...

A minha filha, ao ver que o que ela busca não está ali, cerra os olhos.

Alice: Onde está o dinheiro? – questiona, me fazendo rir sem que eu queira.

Fernando: E desde quando você tem dinheiro perdido na minha carteira, Alice? – questiono e ela suspira. — O que aconteceu com a Maiara?

Encara-me por um segundo ou dois, não sei, mas o peso do seu olhar no meu foi grande o bastante para que eu me sentisse desconfortável. Enfia a mão no bolso da sua calça e retira o celular de lá.

Zapeia com o dedo em algo até que vira a tela na minha direção.

Alice: O senhor precisa parar de me usar para saber delas – resmunga com uma careta enorme. — Maiara sente muito a falta de um apoio, sabia? – Sim, eu sei. É perceptível, mas que tipo de apoio eu vou ser se não consigo nem manter a minha filha comigo? Como eu vou proteger a mãe do meu bebê, se não estou conseguindo manter a minha filha mais velha? — A minha irmã está com dezesseis semanas de vida e precisamos ir comprar o enxoval o mais rápido possível. O médico disse que devemos aproveitar essa fase, porque mais tarde Maiara não vai poder fazer esforço. – A gravação mostra o médico pressionando o aparelho na barriga da Maiara. — É uma menina.

Um acordo imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora