4. Reencontro

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Eu me sentia devastada. Sentada em uma cadeira no canto da capela, eu olhava as pessoas ao redor e sentia um grande nada.

Olhava meu pai deitado naquela enorme caixa e perguntava a Deus o porque.

Enquanto eu aceitava o abraço das pessoas eu ainda não conseguia assimilar tantas informações, e me sentia agindo quase no automático.

Eu olhava a minha mãe e não entendia porque ela não chorava. Apoiei a cabeça em seu ombro, lutei para manter um pouco da compostura, estava cansada, estragada. Meu cérebro não funcionava direito.

Talvez fosse por isso que me sentia..., merda. Eu não sabia o que sentia.

Estava olhando pro chão, tentando controlar aa lágrimas que caiam e a respiração que me faltavam. Pedia a Deus que tudo isso fosse apenas um pesadelo. Mas quando ergui a cabeça, e o vi, depois de mais de dez anos, com os olhos presos em mim, e entendi que tudo estava realmente acontecendo.

Nos poucos segundos que sustentei seu olhar, eu pude perceber que ele estava ainda mais lindo do que há dez anos atrás.

Seu corpo que antes era grande, havia se tornado muito mais forte e definido. Seu rosto que antes era liso, agora encontrara masculinidade com uma barba cheia, que emoldurava muito bem todos os seus traços.

Desviei os olhos com medo. Eu tinha medo do que sentia e das reações que meu corpo e minha mente poderiam ter depois de tantos anos. Eu tinha medo de olhar em seus olhos e encontrar toda a raiva e dor que lhe causara quando decidi ir embora.

Eu sabia que havia mágoa, sabia que ele nunca me perdoaria, e mesmo assim não me sentia pronta para encarar nenhum desses sentimentos.

Quando as lágrimas voltaram com tudo, eu apenas precisava de um tempo, e sem olhá-lo novamente, eu saí dali e me escondi entre os carros estacionados.

Era demais lidar com tudo. O choro lavou a minha alma com toda a força possível, meu corpo tremia inteiro e eu acreditei estar a beira de um colapso quando Aline, uma grande amiga minha apareceu.

- Eu te vi sair. Achei que precisava de ajuda - ela se agachou ao meu lado e apenas afagou as minhas costas, enquanto eu permanecia me entregando à dor.

- Obrigada. Me desculpa por nunca ter mantido contado - agradeço quando consigo me acalmar um pouco.

- Ninguém aqui pode te culpar Amanda. Todo mundo que te conhece de verdade sabe, que se você foi embora da forma que foi, alguma coisa te obrigou a fazer isso - ela me fala com a voz doce, a mesma voz que sempre me acalmava em momentos de dor até dez anos atrás.

Eu a abraço, agradecendo à Deus por receber uma palavra de conforto nesse momento.

- Obrigada - sussurro e me levanto - eu não posso explicar agora o que aconteceu, mas obrigada mesmo. Você foi uma grande amiga, eu senti muita falta de você em todos esses anos.

- Eu continuo sendo sua amiga Amandex, e estarei aqui sempre que precisar.

Caminhamos de volta para a capela e eu mantenho a cabeça baixa, não quero vê-lo.

As orações começam e eu tento me manter calma, até que é a vez da minha mãe e ela me convida a cantar uma música que meu pai amava.

Meu olhos inundam enquanto eu tomo fôlego e canto baixinho.

Só se tem saudade do que é bom
Se chorei de saudade não foi por fraqueza
Foi porque eu amei
E se eu amei, quem vai me condenar?
Se eu chorei, quem vai me criticar?
Só quem não amou, quem não chorou
Quem se esqueceu que é um ser humano
Quem não viveu, quem não sofreu
Só quem já morreu... e se esqueceu de deitar

De repente um enorme coro preenche a capela, e noto várias pessoas ao redor cantando junto. Quando levanto a cabeça, encontro os olhos dele, que parecem estar concentrados em entender cada uma das minhas reações.

Ele também está cantando, e me recordo que catorze anos atrás, quando a sua família o enviou para um intercâmbio no Canadá, eu havia lhe enviado essa música.

Abaixo novamente a cabeça e desvio o pensamento para o meu pai. Busco na cabeça todas as nossas memórias e consigo preencher meu rosto com um pequeno sorriso em meio ao choro, quando lembro o quanto ele sempre me fazia sorrir.

Faço o caminho até o túmulo em completo silêncio. Com medo que as forças me faltem e eu sucumba a qualquer momento.

Jogo rosas brancas sobre o caixão, e estou prestes a me virar para ir embora quando sinto suas mãos nas minhas costas.

- Oi.

- Oi - sussurro me virando. Olho em seus olhos rapidamente, e não aguentando mais tanta dor, deixo a inconsciência me abraçar enquanto tudo começa a girar até que fica preto.

O que vocês estão achando da nossa história?, deixem um feedback. Em breve estarei de volta. Beijos ❤️

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