7. Perdão

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Estamos sentados comemorando o aniversário do Ricardo. Antônio está na outra ponta da mesa, o mais distante possível que consegue estar.

- Por que você não fala com ele? - Aline me pergunta baixinho.

- Amiga... não - respondo em um sussurro, enquanto nego com a cabeça e respiro fundo, tentando aplacar a dor que sinto em meu peito por toda essa situação. Mas não consigo, quando as lágrimas começam a jorrar, me levanto rapidamente e vou para a parte externa do bar.

Me sento na calçada ao mesmo tempo que Aline senta a minha esquerda e Lari à minha direita, Bruna se agacha à minha frente e todas me abraçam enquanto meu corpo se contorce inteiro junto com os soluços que saem do fundo da minha alma.

Choro por longos minutos, e sinto que já não aguento mais toda essa situação.

- Me desculpem meninas. Mas eu não aguento mais - me viro para a Lari - eu te amo muito Lari, muito mesmo, mas eu não vou conseguir esperar até o seu casamento. Eu não consigo mais lidar com isso. Com a distância, eu ainda conseguia fingir que não doía tanto, mas vê-lo tão perto é muito mais do que meu coração pode suportar.

- Tudo bem amiga, eu nunca vou te pedir pra ficar se isso machuca tanto o seu coração. Sei que tudo vai muito além do que imaginamos, só espero que você fique bem ok?

Balanço a cabeça concordando.

- Você vai embora quando? - Aline pergunta.

- No primeiro voô que eu encontrar.

- Você sabe que não vai se livrar de nós de novo não é?, pode arrumar os quartos na sua casa porque na primeira oportunidade todas nós estaremos na Austrália - Bruna fala me arrancando uma risada.

Quando consigo que meu choro cesse, resolvemos voltar. Me sento no meu lugar e evito olhá-lo o máximo que consigo pelo resto da noite.

- Vamos Amandex, verdade ou consequência? - Ricardo pergunta animado.

- Verdade - eu respondo, por que já bebi doses suficientes por essa noite.

- É verdade que você... porra Amanda, não dá nem pra brincar contigo, você sumiu por dez anos e eu não sei nada da sua vida, ninguém aqui sabe.

O que deveria soar como uma brincadeira, dói no fundo da minha alma, e o clima que antes era agradável parece totalmente fúnebre agora, já que todos estão em completo silêncio.

- Desculpa... - Ricardo pede, quando se dá conta do que falou.

- Tudo bem Ricardo, é a verdade não é? - dou um meio sorriso - ninguém sabe de nada - tento amenizar o clima.

- Então que tal se você fizer um resumo pra gente? - Aline pede, tentando desviar o foco.

Todos me olham esperando.

- Bom - busco na mente o que posso dizer, já que nada de emocionante aconteceu nesse tempo - eu fui morar na Austrália, e me formei com honras na Universidade de Sydney dois anos depois que fui embora. Recebi vários prêmios e desenvolvi muitas pesquisas na área da medicina, ganhando renome internacional por isso, principalmente na pandemia. Atualmente sou chefe de UTI no maior hospital do país, que fica em Camperdown, onde eu moro. Sou consultora em várias revistas mundiais e professora visitante em algumas Universidades.

- Porra Amandinha, você é pica - Fred grita.

- Calma, qual é seu nome completo mesmo? - Igor pergunta.

- Amanda Alice de França Meirelles - Antônio responde por mim antes que eu possa falar.

- Eu vi uma reportagem sobre você na TV - Igor praticamente grita - você está concorrendo a um prêmio milionário, por estar liderando uma equipe que está avançando nos estudos buscando uma vacina contra fungos. Você é a Alice França...

- Eu mesma - respondo sem graça, sabendo que o meu anonimato caiu por terra para sempre.

- Porra Amanda, você deve ser o que?, multimilionária e não contou para as suas amigas? - Bruna fala me dando um leve soquinho no ombro, me arrancando uma gargalhada.

O telefone do Antônio toca, e ele franze o cenho antes de se levantar e sair para atender. Observo suas expressões e noto que ele responde nervoso a tudo que escuta do outro lado da linha. Depois de três ou quatro minutos, ele encerra a ligação e retorna para a mesa. Mas diferente de antes, ele para ao meu lado e aproxima o rosto do meu ouvido.

- Posso falar com você?, é urgente - ele pede agoniado e eu prontamente me levanto, o seguindo até a parte de fora do bar - meu pai, eu não sei se você sabe a situação...

Balanço a cabeça concordando.

- Ele, ele... ele não está bem, soube que você está na cidade e quer falar com você. Eu não sei porque... - ele fala perdido em devaneios, e não olha nenhum segundo em minha direção.

- Por favor Antônio, não me peça isso - falo enquanto um enorme calafrio passa por todo o meu corpo e minhas forças começam a se esvair.

- Amanda - ele finalmente me olha - eu não sei o que te fez ir embora, e mesmo que eu saiba, eu nunca vou te perdoar, e estou sendo bem sincero com você em relação à isso. Mas, se aí dentro, você sentir qualquer coisa que seja ainda por mim, vamos até lá por favor, converse com ele e escute o que ele tem a dizer, ele está morrendo - ele pede, quase em súplica.

- Tudo bem - sussurro, me sentindo fraca - vou apenas pegar minha bolsa e pagar a conta.

Fazemos o caminho para a fazenda em um carro por aplicativo. Buscando distância, Antônio se senta no banco do carona e eu fico na parte de trás. Nesse momento, eu não me importo com suas ações, nem com o quanto ele não tolera estar perto de mim. Eu estou apenas com medo de encarar tudo que me atormentou por mais de dez anos.

Subo as escadas até o quarto, e me lembro de todos os bons momentos que passei ali. Quando chego em frente à porta, respiro fundo antes de entrar e encarar o meu pior pesadelo.

Entro no cômodo e fico o mais longe possível da sua cama. Apenas ouvindo o que ele tem a me dizer. Permaneço apenas o tempo necessário, e quando sinto que estou no meu limite, corro porta afora e desabo em pratos agachada no chão.

O que antes era medo, se transforma em algo muito maior. Me sinto à beira de uma crise de pânico e seguro a cabeça que começa a girar. Meu estômago se revira e eu respiro fundo tentando não vomitar.

Vejo dois pés se colocando a minha frente e quando olho para cima encontro os olhos de Antônio sobre mim, quase como se sentisse...pena?

- Foi ele não foi?, foi ele que te fez ir embora dez anos atrás - ele pergunta, e não há um pingo de dúvida em sua vez.

Cansada de mentir, apenas balanço a cabeça concordando.

O que estão achando?, preparem os lenços porque o próximo capítulo é muito triste. Curtam e comentem muito, incentivem a autora aqui a continuar escrevendo pra vocês. estarei de volta, beijos 💋


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