Dez anos após sumir do mapa, Amanda está de volta à sua antiga cidade. Os motivos que a trazem não são bons, muito menos todas as memórias que insistem em vir à tona. Enfrentar o passado pode ser doloroso, mas nada se compara a dor de ver o seu anti...
Já é tarde quando caminhamos de volta para a sua casa, e ela pega seus pertences no carro.
- Obrigado por hoje.
Ela dá um meio sorriso.
- Será que... podemos voltar a nos falar?, sabe, sair para tomar um café ou sei lá, essas coisas que amigos fazem.
- Eu... Não somos amigos Antônio...
- Mas podemos voltar a ser. Por favor, eu não vou aguentar te ver saindo de novo da minha vida. Eu sei que você provavelmente vai embora daqui em breve, e eu não te ver por muito tempo, ou talvez nem te veja mais. Só deixe as pessoas se aproximarem de você Amanda. Você foi privada disso por muito tempo, todos aqui te amam muito. Inclusive eu.
Ela me olha surpresa demais, assim como fez em todas as vezes que falei que a amava essa noite.
- Eu vou ficar até o casamento da Lari e do Fred, tenho certeza que nos esbarraremos muito por aí até lá. Tchau.
- Tchau pequena - eu me aproximo dela, seguro os dois lados do seu rosto entre as mãos e lhe dou um beijo demorado na testa.
Quando eu a solto, ela abre o portão e se vira em direção às escadas.
- Antônio?
- Hmmm?
- Você tem alguém na sua vida?
- Não, há um longo tempo...
Ela dá um sorrisinho sapeca, do jeitinho que ela sempre fazia, se vira e sobe as escadas correndo.
Volto para casa e é difícil dormir. Não me sinto confortável estando em baixo do mesmo teto que o meu pai, sabendo o que ele fez, mesmo que hoje sua situação seja das piores possíveis.
Quando acordo no dia seguinte, resolvo mudar algumas coisinhas. Deixo Eric na escola e ligo para um antigo amigo.
- Joaquim?.
- Antônio, a que devo a honra?
- Eu gostaria de visitar alguns apartamentos, o mais rápido possível.
- Eu estou disponível essa tarde. Você tem alguma coisa em mente?
- De frente pra praia. Pelo menos dois quartos.
- Certo, mas a praia fica a pelo menos quarenta minutos da fazenda, você não...
- Na praia amigo. Nos vemos mais tarde então?, me confirma o horário e endereço pelo WhatsApp. E Joaquim?
- Sim?
- Eu gostaria de visitar pelo menos três unidades diferentes. Quero ter mais de uma opção para escolher.
- Tudo bem Antônio, nos vemos depois então.
Passo em uma floricultura e escolho um enorme buquê de rosas, lhe escrevendo junto um cartão.
Volto para a fazenda e resolvo conversar com a minha mãe. Estamos sentados no escritório, e seu rosto está horrorizado enquanto ela escuta tudo que eu falo.
- Antônio, filho. Eu preciso te contar uma coisa, só te peço que ouça tudo antes.
- Certo mamãe.
- Eu já suspeitava que seu pai tivesse alguma coisa a ver. Há alguns anos atrás, uma mulher procurou seu pai aqui na fazenda, ele estava irredutível, não queria falar com ela. A enxotou daqui como um cão sarnento. Um tempo depois eu a encontrei enquanto caminhava na orla, ela veio até mim e me falou coisas horríveis.
- Que coisas mãe?
- Ela me disse que foi amante do seu pai durante anos, e que ele me escondia um filho que teve fora do casamento. Mas o que me deixou com dúvidas, foi ela ter falado que seu pai não era quem eu imaginava ser, que ele tinha feito coisas terríveis. Inclusive com você.
Ela enxuga algumas lágrimas que caem pelas suas bochechas.
- No início eu não entendia filho, eu contratei um investigador particular e ele seguiu seu pai por três meses inteiros, mas era como se seu pai soubesse. Sua conduta era totalmente correta sabe?, ele não fazia um desvio sequer. E quando eu pensava no que ele podia ter feito à você, eu só pensava na Amanda.
- Por que você nunca me falou sobre isso mãe?
- Por que eram somente suspeitas Antônio. Somente na semana passada eu descobri que a mulher era uma enfermeira no mesmo hospital onde a Amanda deu entrada dez anos atrás, um dia antes de sumir. Só que os registros só tinham a sua entrada, sua saída nunca foi catalogada.
- Eu nunca esperei isso do papai. Nunca. Ele nunca foi muito amoroso nem tão presente quanto a senhora, mas sabe, eu era o filho dele. Ele sabia o quanto ela era importante pra mim. Ela era tudo.
- Esse é o problema de homens como o seu pai Antônio. Os desejos dele vêm acima de tudo. Ele provavelmente não estava satisfeito com a sua ideia de se casar e não administrar os negócios dele. Ele sonhou com isso pra sua vida desde que você nasceu, da mesma forma que o seu avô sonhou, ou que o seu bisavô também. E ele não quis permitir que nada saísse dos planos dele. Ele veio de uma criação completamente arcaica e machista.
- O que ele fez vai muito além dos limites de qualquer ser humano.
- Eu sei meu amor. Eu nunca vou defendê-lo de nada disso. Seu pai também já me fez coisas terríveis, mas hoje eu o vejo ali, sobre aquela cama, e eu sei que ele está pagando em vida por todo o mal que causou a tantas pessoas.
- Eu estou indo embora da fazenda mamãe, em poucos dias. Vou ver alguns imóveis essa tarde, quero recomeçar a minha vida, sem nada disso aqui...
- E o que você pretende fazer filho?
- O possível para recuperar a mulher que eu amo.
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