17. Problemas

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Minhas costas bateram no tatame com força suficiente para roubar o ar dos meus pulmões. Aturdido, pisquei várias vezes olhando para o teto, tentando recobrar o fôlego.

O rosto do meu treinador apareceu no meu campo de visão.

- Você só está me fazendo perder tempo. Se veio até aqui, se concentre no que está acontecendo aqui. Seus pensamentos estão a milhões de quilômetros.

Agarrei a mão que ele me ofereceu e fui posto de pé em um puxão. Ao nosso redor, vários outros atletas treinavam duro. A academia estava tomada por ruídos e atividades.

E ele tinha razão. Eu não conseguia pensar em mais nada além da minha pequena e de um enorme problema que estava me atormentando há dias, a mãe de Eric.

- Desculpe - murmurei - Estou com a cabeça meio cheia.

Ele se movia como um relâmpago, acertando meu ombro e depois meu joelho com golpes rápidos e certeiros.

- E você acha que trazer os seus problemas pra cá vai te ajudar?, você só vai sair daqui cheio de machucados e hematomas.

Eu me agachei, fazendo força para tentar me concentrar. Ele fez o mesmo, me encarando com seu olhar atento e implacável. Quando Dórea veio para cima de mim de novo, consegui detê-lo. Ele pegou ainda mais pesado depois disso, obrigando me a esquecer qualquer outro pensamento até mais tarde, quando eu já estava em casa.

Isabel me ligou mais ou menos uma hora depois, quando eu estava na banheira, cercado por pensamentos.

- Fala - sou direto com ela, buscando evitar os rodeios que ela dá enquanto tenta me convencer de alguma coisa.

- Antônio. Eu quero vê-lo.

- Não acho uma boa ideia.

- Você não pode decidir isso.

- Eu posso. A decisão é totalmente minha, principalmente quando você resolveu abandoná-lo há três anos Isabel, como se ele não fosse importante para você.

- Eu era muito nova, queria seguir os meus sonhos, além do mais, você não me amava. Eu só quero vê-lo Antônio, em breve começarei uma nova temporada de desfiles e não sei quando estarei de volta ao Brasil. Eu só quero vê-lo e pedir desculpas.

Me sinto sem paciência.

- Vou conversar com ele, ele é quem vai decidir se quer te ver agora ou não.

Ela protesta.

- Ele é só uma criança. É claro que não vai querer me ver. Faça o que for possível, obrigue-o se for necessário.

- Isabel, escuta uma coisa. Nem mesmo um juiz seria capaz de me obrigar a fazer qualquer coisa. Eu já falei, ele vai decidir, se ele quiser te ver ele vai. Caso contrário, você pode tentar depois de novo.

- Isso é injusto...

- Injusto? - solto uma risada quase de escárnio, sentindo ódio por tudo que Eric passou por causa dela - Isabel, você não sabe nada que o meu filho passou por sua causa. Injusto foi tudo que ele precisou vivenciar enquanto aprendia a lidar com a falta da mãe, que preferiu abandoná-lo para viver qualquer coisa que achou ser mais interessante.

- Você não tem esse direito...

- Eu tenho, e se estiver achando ruim, você pode entrar com alguma ação exigindo os seus direitos, mas eu tenho certeza que nenhum juiz vai ficar do seu lado nessa. E não estou sendo ruim, apenas quero que você respeite o seu filho, ele é apenas uma criança e já sofreu demais por sua causa.

- Tudo bem.

Ela fala com uma voz que não demonstra nenhum pingo de emoção.

- Vou falar com Eric, e entro em contato com você. Tchau Isabel.

Desligo. Totalmente chateado.

Tentei contato com Isabel ao longo desses três anos. Eric a chamou por um ano inteiro durante todas as noites, buscando uma mãe que não era presente nem quando morávamos juntos. Então por que ela queria contato agora?

Depois do jantar, me sentei com Eric em sua cama.

- Filho, vem cá. Eu preciso falar uma coisa com você - dou uma batidinha na cama, pedindo que ele se sente ali.

Ele larga os dois bonecos no chão e corre até onde lhe indico.

- Oi papai.

Respiro fundo, tentando me acalmar.

- Lembra o que eu te disse sobre a sua mãe quando você me perguntou sobre ela?

- Sim. Que ela precisava trabalhar longe, mas que depois ela ia voltar.

- Sim. Ela voltou, e quer muito te ver. O que você acha?

- Eu não quero papai. Por favor.

- Eric, é sua mãe. Vamos até lá, você pode vê-la pelo tempo que quiser, eu vou estar lá com você.

Seu olhos marejam e seu olhar parece perdido.

- Eu quero continuar morando com o senhor. O senhor cuida tão bem de mim...

- Filho - o chamo, erguendo o seu queixo para que me olhe - nada no mundo vai me afastar de você, nunca. Eu te amo mais do que tudo, entendeu?, só acho importante você ver a sua mãe, ter esse contato com ela. Tudo bem?

Ele balança a cabeça concordando.

- Mas você promete que vai ficar comigo papai?

- Eu prometo.

Depois disso, fazê-lo dormir é uma grande luta, sei que ele ficou apreensivo com a possibilidade que lhe apresentei, mas acho que é importante ele voltar a ter contato com a mãe. Quando enfim ele adormece, saio do quarto e vou até a sala, onde depois de checar as horas, ligo pra minha pequena.

- Oi amor - ela me atende animada, depois do segundo toque - estou morrendo de saudade de você.

- Eu também estou meu amor. Como andam as coisas?

- Estou animada - ela faz uma pequena pausa, e parece bater alguma porta atrás de si - A premiação que a equipe está concorrendo acontece em três semanas, eu queria muito que você estivesse aqui.

- O visto já saiu, mas o Eric ainda não estará de férias...

- Tudo bem - ela parece resignada - E por aí?, como as coisas estão?

Fecho os olhos lentamente e abaixo a cabeça. Começo a explicar pra ela toda a situação, e com toda paciência do mundo ela me ouve e aconselha.

- Obrigado pequena. Eu te amo muito.

- Eu é que te amo fofinho. Preciso ir, estão me chamando. Até mais.

Curtam e comentem muito. Em breve estarei de volta. Beijos ❤️

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