A MINHA HIPERSENSIBILIDADE auditiva não havia captado qualquer movimento advindo do exterior daquele cômodo, por essa razão, ver Alex parada a um passo da soleira da porta foi uma surpresa muito grande.
— Você não pode estar falando a verdade! Diga que é mentira, tio Costel. DIGA AGORA!
Com uma agilidade sobrenatural, a garota miúda e magra venceu os quase quatro metros da entrada até Costel de um só salto. Agarrou o colarinho do casaco escuro que ele usava e ficou a sacudi-lo, encarando-o de baixo.
— Eu não sou um vircolac... Eu... Eu sou uma vampira como você... Como a minha mãe... como a Yuliya... Diga a verdade, tio Costel! Diga!
Eu conhecia o meu meio-irmão dos anos de convivência através das décadas, das videiras na Valáquia até o nosso último encontro em Bucareste. Por mais que eu o visse agora como um monstro vil e desalmado, ele estava verdadeiramente acuado pela pressão exercida por Alex.
— Você não devia ter ouvido a nossa conversa, querida... Deixe-me explicar...
Alex o empurrou com fúria em direção ao balcão do bar e continuou a puxar o colarinho do seu traje. Sua voz havia assumido um timbre mais rouco e muito mais ameaçador.
— Você me contou do dia em que Dumitri me sequestrou em Vaucluse, que ele me mordeu e que me infectou com o seu sangue moroi em Bucareste... Você me fez acreditar que foi graças aos meus dons vampirescos que eu sobrevivi depois de dois dias enterrada em Veneza... Você me garantiu que foi por isso!
— E foi, meu amor. Eu não menti para você. — Costel estava quase gaguejando. Era como se ele temesse a minha filha mais do que tudo no mundo. — Se não fosse pelo sangue de Dumitri a correr em suas veias, o seu organismo não teria resistido à mordida e você teria morrido de verdade. Em termos simples, você é metade vampira...
Alex se afastou do tio após emitir um rosnado. Tentei me aproximar a fim de acalmá-la, mas ela rechaçou o meu avanço. Eu também não havia conseguido absorver toda aquela história ainda e a minha mente ardia, confusa.
— Vocês dois me enganaram todo esse tempo. Me encheram de mentiras sobre a mulher francesa, o meu pai soldado, a guerra... Era tudo uma grande e doentia farsa para me enganar!
Eu não sabia como um corpo tão pequeno era capaz de gerar tanta força, mas tão logo disse aquilo, Alex desferiu um golpe contra a parede do balcão, o esfacelando quase inteiro.
— Alex, se acalma — disse, tentando diminuir a distância física entre nós duas. — Eu não menti para você sobre a sua verdadeira mãe. Eu jamais soube que o Enzo e ela haviam sido amantes antes de nós a resgatarmos em Schwartzwald. Eu também fui enganada.
— Mentirosa! Você sabia o tempo todo e não me falou nada sobre o meu sangue, sobre a minha maldição!
Lágrimas espessas e vermelhas começaram a escorrer dos olhos de Alex. Naquele momento, era como se o tom azul da sua íris estivesse se adaptando ao seu choro e se tornando tão carmesins quanto ele.
— A sua mãe não sabia a verdade, Alex. Eu confirmei a história de que o Enzo era o seu verdadeiro pai em minha viagem para a Alemanha. Você já estava morando comigo na época e eu a deixei aos cuidados de Jean-Paul e de Ørjan no castelo, a fim de investigar a sua origem. Eu nunca te contei toda a história porque sabia como você reagiria...
Os meus olhos nem foram capazes de captar o seu movimento. Alex voltou a estrangular Costel como que transformada num facho de luz. O envergou sobre o que restava do balcão e passou a pressioná-lo.
— Eu vi o meu pai transformado em uma fera irracional a rosnar bem na minha frente. Ele não me reconhecia e estava prestes a me estripar... Eu carrego em meu sangue a mesma maldição que o transformava naquela... coisa... E você escondeu isso de mim!
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Alina e o Concílio de Sangue
FantasyEm "Alina e o Concílio de Sangue", a intrépida vampira secular romena, Alina Grigorescu, enfrenta um novo e perturbador desafio. Após ter confrontado seres malignos para proteger sua família e o mundo da sinistra Ordem do Portal de Fogo, Alina vê-se...