Alina e o Concílio de Sangue

Capítulo 48 - O grimório perdido de Dubhghaill

OS DIÁRIOS DE DUMITRI

4  de maio, 1878.

O ataque feroz e violento perpetrado pelas forças militares a serviço de Mael D'Aramitz ocorreu durante o dia, nos obrigando a lutar à medida que os raios do sol ameaçavam fulgir por entre as nuvens espessas do céu siberiano.

Enquanto minha família e eu descansávamos em nossos leitos, mais de cem de nossos operativos foram retalhados pelos homens de D'Aramitz, pegos completamente desprevenidos e de guarda baixa.

Usando roupas brancas e armas letais banhadas a prata, os nossos inimigos se aproveitaram de nossa momentânea fragilidade para vencer os mais experientes farejadores sob o meu comando. Dizimou inteira a família Lorenz da guarda de ataque. Destruiu o posto de observação usado pelos Hudgens. Ateou fogo no armazém onde os O'Toole guardavam as nossas armas.

Os gritos ecoavam nos corredores da fortaleza quando Magda, Filimon, Emil e Crisan se prepararam para o contra-ataque. Serj Bogdanov, o leal soldado strigoi que eu havia recrutado há mais de cinco anos na Rússia, estava na linha de frente, estraçalhando quantos adversários podia com seu corpo maciço e a agressividade típica dos de sua espécie.

Claudius tinha conseguido guarnecer a entrada da fortaleza com outros cinquenta militares de nossa mais alta patente, porém, nem mesmo a sua velocidade de ação foi capaz de deter o avanço inimigo. Antes que eu pudesse sair para ajudar Bogdanov na resistência, o meu sogro já tinha sido morto à porta da nossa morada, empalado por uma lança com a ponta de prata.

Eu havia treinado meus três filhos na arte da guerra, por isso, sabia que eles conseguiriam triunfar perante o ataque covarde de D'Aramitz. O próprio Filimon liderou um contingente de mais de cem homens que simplesmente expulsou as forças do francês de dentro da fortaleza Ardelean, e ainda conseguiu liquidar com todos aqueles que tentavam superá-lo na esperança de tomar posse da propriedade.

O gelo e a neve abundante na região dificultavam a ação inimiga, mas, em contrapartida, a luz do dia nos enfraquecia durante a nossa tentativa de reação. Quando Serj e eu avançamos cem metros além da fortaleza para matar todos aqueles que chegavam na retaguarda das fileiras de batalha, nós dois estávamos exaustos, assim como nossos comandados.

Um verdadeiro cemitério de aliados e adversários se estendia à frente da propriedade à medida que a minha espada ceifava a vida dos amigos de D'Aramitz e os dentes alinhados e pontiagudos de Bogdanov arrancavam as suas cabeças. Àquela altura, já não era mais possível calcular o tamanho do dano que a guerra insana havia causado ao meu contingente. Tudo que queríamos era encerrar de uma vez a batalha e, para isso, era necessário continuar lutando até o fim de nossas forças.

Quando o último homem a serviço do Concílio de Sangue caiu no campo de batalha, eu retornei à fortaleza na tentativa de contabilizar quantos dos nossos haviam sobrevivido. No início do ataque, éramos mais de quatrocentas cabeças. Ao fim de tudo, menos de duzentas haviam resistido.

Filimon e Emil lideraram as forças que varreram as tropas de D'Aramitz do nosso território e, naquele dia, eu me senti bastante orgulhoso de meus dois filhos mais velhos.

Eu ainda estava coberto de vísceras vampiras e sentia a pele arder pelo contato indireto com os raios do sol por entre as nuvens espessas quando me atentei à presença de Crisan na sala de reuniões. Tinha pousado a minha espada num dos bancos ao lado e removia a couraça de batalha de cima do corpo quando o garoto me deu a mais triste das notícias.

Durante a batalha a leste da fortaleza, Magda havia liderado o grupo formado pelos Bassan e pelos Cretus, duas famílias vampiras que haviam se juntado a nós nas últimas décadas. Dotada de sua experiência em lutas, adquirida ao longo de sua vida como farejadora de Claudius, minha bela e amada esposa conduziu com bravura a luta até as montanhas mais geladas da Sibéria, a fim de encurralar seus inimigos.