Capítulo 34 - A surpresa de Dumitri

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OS DIÁRIOS DE DUMITRI

15 de novembro, 1822.

Hoje recebi Adela em meu castelo e, como tem sido costumeiro sempre que nos encontramos em segredo, ela compartilhou comigo a alcova por longas horas.

Devo confessar que tenho me agradado de fortuita companhia em meus tão desolados dias. A irlandesa de cabelos-de-fogo é uma amante voraz. Aprecia tanto o sadismo quanto o masoquismo, e pratica a ambos com a mesma desenvoltura.

Há noites que seus uivos e gemidos do mais intenso prazer ecoam pelas paredes grossas de minha morada, e retumbam pelos corredores, aterrorizando os empregados que mantenho sob meu teto.

Adepta de relações intensas e violentas, não se satisfaz enquanto não acrescenta sangue a seus delírios luxuriosos, o que me torna ainda mais sedento pela gruta cálida e rubra que guarda entre as coxas.

Embora jamais pensei que fosse admiti-lo, ainda mais depois de nossos casuais entreveros nas reuniões do Concílio de Sangue, eu já não odeio mais a senhorita Quinn. E, se a mesma fosse descendente legítima de um moroi, eu a desposaria sem pestanejar, a fim de que formássemos juntos uma linhagem mais digna de comandar os clãs vampiros pelo mundo.

2 de janeiro, 1823.

Há menos de três horas, Adela e eu compartilhamos o néctar vital e outros fluidos de uma esplêndida mulher africana, trazida a nós pelo meu leal servente, Rowan. Não estava habituado a ter uma companhia tão exótica em meus aposentos, mas, como de costume, a senhorita Quinn tornou a minha refeição do dia ainda mais deleitosa com seus anseios libertinos e a sua inclinação pelo sadismo.

Enquanto Rowan tratava de remover os resquícios da meretriz de ébano da cama, convidei Adela para um opulento jantar composto por costelas de cordeiro e vitela malpassadas. Entretanto, ela prontamente recusou o convite. Vampiros transformados, destituídos de linhagem moroi, não se deleitavam com iguarias culinárias como carnes ou variedades de doces. Alimentavam-se exclusivamente de sangue, sem encontrar prazer algum em consumir algo além de sua dieta básica.

Segundo o que confessou em nossa aprazível conversa pós-coito, além do paladar limitado, a irlandesa também não se sentia à vontade em ambientes sacros. Incomodava-se com símbolos religiosos, tinha aversão a alho e não possuía nenhum tipo de dom psíquico como telepatia ou compulsão.

Quinn desconhecia, de antemão, que estava me revelando parte de suas fraquezas, as quais me proporcionavam vantagens não apenas sobre ela, mas principalmente sobre seus dois companheiros de clã, Lucien e Mael.

Enquanto "mestiços", eles não se mostravam dignos da coroa que os transformava em patriarcas de toda uma estirpe. Como legítimo filho de linhagem vampírica, eu era o verdadeiro portador do cetro que uniria os exércitos de sanguessugas rumo ao porvir. E, em aliança com Quinn, teria apenas mais dois obstáculos a superar.

31 de maio, 1825.

Escrevo esse registro do alto da torre de uma antiga fortificação irlandesa, às margens do lago Lough Leane, em Killarney.

Após muitas de nossas discussões acerca de magia e misticismo, sem que seus pares soubessem, Adela me convidou para conhecer a terra onde ela nascera e crescera, ainda no século XVIII.

Como uma criança nativa, imbuída de todo tipo de relatos acerca de criaturas mitológicas fantásticas, Adela cresceu imersa nesse mundo de encantamentos, e se tornou uma mulher ávida por essa rica cultura.

Assim como eu, desenvolveu verdadeiro fascínio pelos povos celtas de quem boa parte dos irlandeses descendem, e viajamos juntos no intuito de descobrir mais a seu respeito. Devemos retornar para a Bulgária em dois dias e, embora a nossa visita seja breve, pretendo usar de todas as horas em meu poder para adquirir maior conhecimento sobre a cultura céltica.

Alina e o Concílio de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora