Capítulo 17 - Do Passado ao Presente

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OS DIÁRIOS DE DUMITRI

14 de junho, 1800.

Enquanto transcrevo estes pensamentos no resguardo de minha fortaleza em Varna, neste instante, as Guerras Napoleônicas persistem em terras itálicas, sem término vislumbrado.

Recentemente, Napoleão Bonaparte e suas hordas tiveram uma série de conflitos contra os austro-húngaros, almejando conquistar a região da Itália e obter sucesso em sua progressão pela Europa. O eminente estrategista francês implementou táticas inovadoras como a mobilidade, concentração de forças e emprego diligente de artilharia, facultando-lhe alcançar vitórias inquestionáveis. Além disso, o perspicaz conquistador entabulou alianças com algumas das cidades-estados italianas, tais como Gênova e Veneza, que se opunham ao jugo austríaco naquelas paragens.

Bonaparte obteve todos esses avanços sendo tão somente um homem comum. Certamente, um indivíduo notável em sua obstinação. Se tão-somente possuísse os meus dons especiais, governaria o mundo por completo.

No mês passado, obtive a oportunidade de retornar à morada que um dia chamei de lar, entre 1772 e 1794. Embora envolto no clima hostil da guerra, foi-me concedido o privilégio, como dignitário, de alienar algumas das outras terras pertencentes à família Montanaro. Em tempos de austeridade, logrei adquirir um valor aquém da valia real das propriedades do nobre marquês, mas, por prudência, converti tudo em moeda corrente, e depositei o numerário nos cofres do Banco Internacional.

Mantenho o marquesado de meu finado sogro em Gênova como um tributo a um passado feliz, quando lá estive ao lado de sua formosa filha, porém, não almejo retornar a tal localidade até que as tropas de Napoleão se retirem desses arredores, e a guerra chegue ao fim. Em meu regresso à Bulgária, decidi retomar meu antigo sobrenome de batismo, deixando de lado o "Di Montanaro", para ser chamado meramente de marquês Dumitri Ardelean, como sempre deveria ter sido.

13 de fevereiro, 1801.

Ainda que ciente de que a solidão é um fardo que devo suportar, por ter sido agraciado (ou acaso amaldiçoado?) com uma vida eterna, tenho compreendido esforços cada vez maiores para estabelecer conexões com meu passado, bem como rastrear, ainda que escassas, evidências da existência de seres vampíricos como eu.

Recentemente, aceitei a designação de mim mesmo como um "moroi" e tenho feito descobertas notáveis ​​sobre minha espécie. A mais intrigante delas é que somos capazes de procriar à maneira dos humanos, bastando encontrar uma parceira adequada, uma moroi que tenha nascido e se desenvolvido com as dádivas vampíricas.

Em minhas pesquisas na aludida biblioteca do marquês Di Montanaro, deparei-me com um antigo volume moldavo que cataloga as famílias e linhagens mais ancestrais da Europa, remontando até o limiar do século X. Infelizmente, meu nobre senhor Montanaro, não havia nutrido interesse suficiente pelo segundo volume dessa mesma coleção, deixando um vazio significativo em sua estante.

Na presente data, desloco-me de Varna até uma agradável cidade moldava chamada Hîncesti, em busca de um antiquário altamente recomendado. Segundo informações, em seu interior, encontrarei o livro que tanto me desperta interesse, e pelo qual estou disposto a desembolsar uma pequena fortuna.

14 de fevereiro, 1801.

Ontem, como adiantado no relato anterior, visitei o afamado antiquário em Hîncesti. Quando lá cheguei, logo na entrada, enxerguei motivos místicos nas laterais da porta da loja, bem como uma tábua escrita em runas antigas o seu nome "Din Trecut în Prezent – Antichități", ou, em tradução livre, "Do Passado ao Presente – Antiquário".

Assim que adentrei o estabelecimento, um sino ressoou sobre a minha cabeça, preso ao batente. Depois, avistei um ambiente deveras charmoso com prateleiras repletas de objetos fascinantes que contavam histórias do passado.

Alina e o Concílio de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora