O QUARTO DE HÓSPEDES estava escuro e silencioso, como boa parte do castelo Constantinescu se mantinha quase sempre. Apesar disso, pelo cantar dos pássaros do lado de fora da janela, eu conseguia deduzir que já tinha amanhecido há algum tempo.
Ergui o meu tronco devagar, ainda sentindo um leve desconforto nas coxas, pescoço e abdômen. Toquei o meu rosto na esperança de examinar o meu olho ferido, porém, descobri que ele tinha se curado totalmente ao abri-lo. Eu conseguia enxergar perfeitamente a figura vigilante sentada ao lado da cama. Saltei para o chão de um só pulo.
— Você! O que está fazendo dentro do meu quarto?
O homem de pele ébano não moveu uma fibra muscular do lugar ao me ver assumir posição defensiva frente à cama. Continuou sentado de perna cruzada com o bastão com que tinha me atingido a cara em seu colo e, finalmente disse:
— Se eu quisesse lhe fazer mal, teria arrancado a sua cabeça enquanto dormia, moça. Relaxe!
Ele tateou o cabo esculpido do pedaço de madeira que carregava e curvou levemente os lábios grossos. O brilho estranho que o envolvia no dia anterior tinha desaparecido por completo, e agora eu só conseguia captar o zunido infernal que parecia soar do seu corpo inteiro, me deixando nervosa.
— Onde está a minha filha? Cadê a Alex?
Como que em resposta às minhas perguntas, ele se levantou da poltrona e, em seguida, indicou a porta do quarto. Eu ainda estava usando as roupas rasgadas e sujas de sangue de antes, mas os meus pés jaziam descalços. Mandei que o homem enigmático caminhasse na frente a fim de evitar maiores surpresas do lado de fora, e nós dois seguimos dali até a sala de armas de Costel, no terceiro andar.
Assim que me viu acordada, o semblante de Alex se irradiou. Ela estava empunhando uma tsukamoto japonesa como que pronta a garantir a nossa segurança caso o nosso visitante se tornasse hostil, e eu reconheci na hora a arma com que Costel havia decapitado Dumitri, há dez anos. Me aproximei da menina indagando se ela estava bem e a resposta foi positiva.
— O seu olho, mãe...
Alex tocou levemente a cicatriz fina que havia restado a cruzar a minha pálpebra esquerda. Não sabia explicar como eu havia me curado tão rapidamente, mas a resposta veio imediatamente:
— Enquanto estava inconsciente, eu usei alguns dos meus conhecimentos para curar os seus ferimentos. Sinto muito por tê-la abatido com a minha bengala. Não pretendia machucá-la quando saltou sobre mim daquele jeito, mas precisei me defender.
Alex estava com um olhar ferino no rosto e espreitava o estranho andando à sua volta como um animal pronto a atacar a sua presa. Desconfiava das suas intenções, mas me tranquilizou:
— Ele se ofereceu para carregá-la nos braços até aqui em cima depois que você desmaiou, mãe. Disse que podia ajudar com os seus machucados e eu permiti. Estive de olho em vocês o tempo todo, montando guarda à porta do quarto.
A menina fez um movimento brusco com o braço e a lâmina da espada zuniu no ar. O homem que se assemelhava a um guerreiro africano por conta dos "dreadlocks" que usava para prender os cabelos longos estava agora percorrendo vagarosamente o salão, observando cuidadosamente o arsenal da coleção pessoal de meu irmão. Parou diante de um mostruário em vidro que comportava uma espada longa de lâmina reta e pontiaguda cuja empunhadura era feita de madeira. Emitiu algo semelhante a um riso pela boca e disse, sem se virar:
— É uma belíssima takoba africana. Vocês sabiam que essa era uma arma tradicionalmente usada pelos tuaregues e outras tribos nômades da região do Saara?
O interrompi de maneira rude:
— Vou perguntar apenas mais uma vez. Quem é você e o que estava fazendo em nosso jardim?
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Alina e o Concílio de Sangue
FantasyEm "Alina e o Concílio de Sangue", a intrépida vampira secular romena, Alina Grigorescu, enfrenta um novo e perturbador desafio. Após ter confrontado seres malignos para proteger sua família e o mundo da sinistra Ordem do Portal de Fogo, Alina vê-se...