Capítulo 41 - O poder interior

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FOI COMO SE EU DESPERTASSE de um sonho. Ainda era capaz de sentir meus pés sobre um piso úmido cheirando a plantas silvestres. Havia o som das ondas do mar quebrando em recifes próximos da areia. A brisa suave soprava empurrando os meus cabelos... E eu sentia uma paz de espírito que nunca antes havia experimentado.

No momento seguinte, estava deitada em minha cama, no porão do chalé de Edmonton. Meu braço esquerdo jazia espetado de agulhas e a máquina de hemodiálise ladeava o quarto, trabalhando ruidosa. Três bolsas de sangue tremelicavam do alto penduradas por hastes de alumínio, e uma delas estava quase no fim. Eu estivera sendo alimentada. Só não sabia por quanto tempo.

Era noite do lado de fora quando venci vagarosamente os degraus que me conduziram até o piso superior da casa. Meus músculos doíam e o meu estômago queimava como se eu tivesse ingerido um quilo de prata temperado com alho.

A porta do chalé estava fechada, mas consegui ouvir os seus passos curtos vindos de fora, tão logo ela percebeu que eu estava acordada. Alexandra surgiu pela sala esbaforida. Me agarrou com força, como se não me visse há anos.

— Eu achei que você não fosse mais acordar, mãe. Tive tanto medo!

Minha pele estava sensível e senti incômodo conforme o tecido da roupa de Alex roçava em mim. Apesar disso, nunca tinha sido tão bom receber o seu abraço.

— Po-Por quanto tempo eu estive apagada?

Minha voz estava mais rouca que o normal. Sentia mesmo como se estivesse ausente por um longo período, mais do que a minha aparência surrada demonstrava.

— Você dormiu por mais de uma semana, mãe. O Akanni nos teleportou da Moldávia antes que a luz do sol desfizesse o seu corpo. Assim que me botei de pé, eu a arrastei para o subsolo e comecei a alimentá-la com as bolsas de sangue da geladeira. Estava sem pulso e não respirava. Eu entrei em desespero quando achei que a tinha perdido.

Acariciei os cabelos macios de minha filha. Ela se soltou do abraço por um instante, então, lhe beijei a testa afetuosamente.

— Eu... Eu não me lembro de nada. Estávamos em Hîncesti. Costel me jogou contra o chão, começou a me morder... então... senti o corpo em chamas...

Não havia sinais de queimadura em minha pele, e até mesmo os ossos de minha mão esmigalhada já haviam se reconstituído. Fora a fraqueza, a queimação no estômago e a sensibilidade da pele, era como se eu realmente tivesse sido ressuscitada. Só não sabia como... Ou porquê.

Alex seguiu em direção ao quarto onde dormia e surgiu de lá com a Presa-de-Leão em mãos. A lâmina africana ainda possuía manchas escuras do sangue do anjo, e foi repentinamente que me lembrei de como Thænael o havia atingido mortalmente o peito. Me senti mal com essa lembrança e a pergunta me soou óbvia nos lábios:

— Onde ele está? Onde está o Akanni?

Alex sacudiu a cabeça vagarosamente enquanto ficava cabisbaixa.

— Eu ainda estava desacordada quando me materializei no chão da nossa casa... Quando acordei, havia apenas um brilho fosco enevoando a sala e a espada estava caída no chão, toda ensanguentada. Não havia mais nenhum sinal dele. O Akanni se foi, mãe. Usou o que ainda restava de sua energia para nos salvar em Hîncesti, em seguida, se desfez no ar.

Eu não conseguia acreditar. Mesmo com tudo que havia presenciado em meio àquele cemitério... A luta feroz entre pai e filho, o golpe mortal que lhe serrou do estômago ao coração... Eu não conseguia conceber que Akanni havia sido destruído... junto com as nossas melhores chances de sobrevivência.

— Ta-Talvez ele não tenha morrido... É possível que ele só esteja por aí recuperando as forças... Ele... Ele é um anjo. Um ser de luz poderoso. Nada pode destruí-lo.

Alina e o Concílio de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora