Capítulo 39 - Vida e morte em Hîncesti

10 5 1
                                    

NÃO HOUVE TEMPO hábil de preparação para o que viria a seguir. Akanni mandou que nós buscássemos nossas armas no interior do chalé, vestiu seu sobretudo, calçou um par de botas e andou em direção ao terreno diante da casa. Quando nós duas descemos as escadas, eu com minhas pistolas dentro do coldre, Alex empunhando a tsukamoto que trouxera do castelo na Transilvânia, o anjo cintilava um tipo estranho de energia pela pele. Seus olhos estavam inteiramente brancos e ele apenas sussurrou que estava na hora de partir.

Era difícil descrever em palavras o que aconteceu, mas como num piscar de olhos, nós três havíamos vencido os milhares de quilômetros que separavam a América do Norte da Europa. Uma explosão de bile me pegou desprevenida assim que firmei meus pés, e eu me vi imediatamente de quatro no chão a vomitar tudo que havia comido no jantar. A exemplo de mim, Alex também não conseguiu se segurar e fez o mesmo, se esvaindo em vômito pouco antes de comentar cheia de ironia:

— Porra! Então é assim que o Capitão Kirk se sente todas as vezes que ele é teletransportado da Enterprise?

Eu demorei alguns segundos para abrir os olhos. Sentia na pele um vento frio soprando de um planalto e me apoiei em uma estrutura de pedra à minha direita para me erguer. Ainda estava sob efeito da náusea causada por nossa viagem instantânea no interior do clarão liberado por Akanni e nem me dei conta da mudança de fuso-horário. Ajeitei a coluna quando percebi que estávamos agora em um cemitério na Moldávia, a pouco tempo do amanhecer.

— THÆNAEL!

O grito emitido pela voz rouca de Akanni me pegou desprevenida. Saquei as Berettas de dentro do casaco antes que soubesse o que estava acontecendo, porém, em resposta ao anjo, ouvi um sotaque romeno muito familiar que me causou arrepios por todo o corpo.

Costel! Nós o encontramos!

Havia uma cova aberta a menos de oito metros de onde tínhamos nos materializado. Em volta dela, quatro vampiros de aspecto matreiro jaziam com pás em mãos, e eles se precipitaram em direção a Akanni tão logo o anjo saltou sobre seu mestre. Estavam mortos antes mesmo que se aproximassem dele, e seus corpos dilacerados caíram em pedaços no interior do buraco de terra aberto em cimento antigo.

Alex não esperou nada antes de partir para cima de Yuliya, e as duas se atracaram em um embate violento por entre as lápides e sepulcros do cemitério largo construído em uma região quase erma de Hîncesti.

Disparei duas vezes com os canos apontados para a cabeça de Thænael, porém, ele se movia rápido demais para que eu o conseguisse atingir daquela distância.

A espada de Akanni avançou em direção ao pescoço da criatura que ocupava o corpo de meu meio-irmão, mas foi detida pela estrutura de uma escultura em mármore por onde Thænael se esquivou. Os dois se moviam tão velozmente que eu só conseguia enxergar borrões em torno deles, por isso, era difícil apontar as Berettas no intuito de explodir o crânio do nefilim.

Akanni parecia mesmo imbuído em decapitar seu último filho na Terra. Usava movimentos de luta que eu desconhecia enquanto girava a lâmina da Presa-de-Leão no ar, e grunhia de maneira intercalada, como que fazendo um esforço maior do que o seu corpo podia aguentar para vencer seu oponente.

Ele havia me precavido a respeito de sua fraqueza momentânea após a conjuração do feitiço de localização, mas depois de vê-lo agindo de maneira tão brutal em sua luta contra Thænael, eu achei que fosse exagero de sua parte.

Não era.

— Eu realmente gosto dessa carcaça humana que escolheu para usar, Akanael. É mais robusta que a última que eu dilacerei — a voz era a de Costel, mas as palavras não eram mais as de meu irmão. Naquele momento, o homem que crescera comigo na Valáquia estava totalmente adormecido no interior daquele corpo, e não tinha mais forças para voltar à tona.

Alina e o Concílio de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora