EU AINDA ESTAVA DESORIENTADA quando abri os meus olhos e me vi presa a um aparelho que me tirava o sangue de um lado ao mesmo tempo que me alimentava de plasma sintético do outro. Ao analisá-lo de perto, o aparato tinha o formato de cruz e parecia funcionar como uma versão gigante da máquina de hemodiálise que Alexandra havia usado em Edmonton para me manter viva. Era difícil racionalizar o que quer que fosse em meu estado. Eu estava crucificada pelada, e os meus braços jaziam atados a cateteres que me sugavam sem parar. Arrancando as minhas forças.
Eu estou sendo drenada... De novo!
Alguns minutos de esforços inúteis para me libertar das algemas de aço que me mantinham fixada ao equipamento de absorção depois, ela adentrou o ambiente de ficção científica em que eu estava metida. Sorriu em minha direção saboreando o meu desespero. Se aproximou o bastante para que pudesse tocar o meu rosto.
— Cheguei a pensar que não fosse mais acordar, Alina. Já faz três dias que o inibidor neural que dei a você misturado ao vinho foi removido do seu organismo. Demorou mais do que o previsto para recobrar a consciência. Está se sentindo bem?
Eu queria cuspir em seu rosto, mas a minha boca estava mais seca que o deserto do Saara.
— Vai... pro inferno!
Adela emitiu um riso quase diabólico antes de me aplicar um tapa forte o bastante para que eu perdesse o senso de equilíbrio por alguns instantes.
Logo depois, ela andou até o centro da sala. Pegou um controle-remoto de cima de um balcão, acionou o botão e começou a deslizar vagarosamente o tampo de vidro que cobria uma área retangular construída no chão. A estrutura vítrea terminou de deslizar para o lado um minuto depois, revelando uma piscina de quase um metro e meio de profundidade quase totalmente cheia de sangue. O meu sangue.
— Valeu muito a pena ir para a cama com Dumitri em todas aquelas noites maçantes, no seu castelo em Varna. O velho valaquiano se tornava muito falante depois de gozar. Enquanto eu o acompanhava sob os lençóis, ele me revelou segredos inconfessáveis a respeito do legado da família Dubhghaill e as propriedades inigualáveis que o sangue de seus descendentes contêm.
Os meus ouvidos ainda zuniam por efeito do tapa, mas consegui ouvir com clareza o que a irlandesa dizia. À medida que ela observava a piscina vermelha borbulhante à sua frente, eu analisava o meu entorno. Precisava encontrar alguma brecha de segurança, ou algum modo de escapar da minha cruz.
— Eu demorei para ligar os pontos. A princípio, não sabia que você era filha da menina que Dumitri perseguia tão obsessivamente pelos corredores desse castelo, há mais de um século. Nem tampouco desconfiava que ambas eram descendentes da bruxa Alanna Dubhghaill. — Adela se voltou para mim por um segundo antes de continuar a falar. — As coisas só começaram a fazer sentido quando eu a vi pessoalmente pela primeira vez em Montbéliard. As suas feições eram praticamente idênticas às da pequena empregada que Lucien Archambault mantinha no castelo, Ruxandra. Era impossível que não fossem parentes próximas. Isso fez com que eu começasse a estudar a sua ascendência de maneira mais aprofundada.
Os meus braços estavam dormentes e eu sentia uma estranha vibração em minha arcada dentária conforme o equipamento a filtrar meu sangue me enfraquecia. Não era preciso um olhar mais atento para perceber que os cateteres ligados a mim passavam por uma tubulação que alimentava diretamente a piscina onde Adela agora fazia menção de mergulhar.
Eu devo estar aqui há pelo menos uma semana... eu não teria produzido sangue suficiente em meu organismo para encher uma piscina em dois ou três dias... Ou teria?
— Dumitri era obcecado por misticismo. Passávamos horas discorrendo sobre o assunto quando eu o visitava em seu castelo, ou quando viajávamos juntos longe dos olhos de Lucien e Mael. Diferente de meus dois associados, eu admirava a sua inteligência e, por um tempo, eu realmente considerei a ideia de me unir a ele para acabar com Archambault e tomar o seu trono — ela emitiu o seu riso diabólico a encarar mais uma vez o líquido vermelho abundante dentro da piscina. — Infelizmente, tive que me voltar contra Ardelean quando o idiota deixou que Ruxandra descobrisse a sua manipulação psíquica, antes que ela fosse tomada à força por ele. Eu não pude mais compactuar com seus planos e, para manter a nossa aliança em segredo, deixei que Mael iniciasse uma perseguição mortal a meu antigo amante, a fim de silenciá-lo. Pobre Dumitri!
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Alina e o Concílio de Sangue
FantasyEm "Alina e o Concílio de Sangue", a intrépida vampira secular romena, Alina Grigorescu, enfrenta um novo e perturbador desafio. Após ter confrontado seres malignos para proteger sua família e o mundo da sinistra Ordem do Portal de Fogo, Alina vê-se...