Capítulo 5 - Verdades e mentiras

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A SALA DE ESTAR DO CASTELO era um ambiente majestoso e elegante, com elementos que remetiam ao estilo clássico europeu. O teto alto era emoldurado em gesso e sustentado por colunas de mármore branco, que conferiam imponência e sofisticação ao espaço.

As paredes eram revestidas com painéis de madeira esculpidos à mão com motivos florais e paisagens campestres. Em sua área central, havia um grande sofá em estilo imperial, com tecido de veludo vermelho escuro, ornado com delicados bordados em fio de ouro. Ao lado, um conjunto de poltronas e cadeiras com braços estofados em couro marrom-escuro, de aspecto envelhecido, davam um toque rústico à decoração.

O bar ao canto era feito de madeira maciça e adornado com enfeites em bronze e vidro lapidado. Sobre ele, havia diversas garrafas de bebidas finas, como uísque e brandy, bem como taças e copos de cristal. Me aproximei sem intenção alguma de beber o que meu irmão me oferecia. A minha sede era de vingança, não de vinho.

— Como sabia sobre o bebê que eu estava esperando, Costel?

Ele me olhou por sobre a taça cristalina levada ao seu nariz. Apreciou o odor marcante do Bordeaux e não o bebeu num primeiro momento.

— Eu jamais contei a ninguém sobre a gravidez. Nunca tive coragem de falar sobre esse assunto. Como você soube?

Ele bebericou o vinho e me empurrou a segunda taça.

— Não é óbvio? — perguntou-me, cínico. — Dumitri soube que você estava esperando um filho meu no momento em que tocou o seu corpo, pouco antes de transformá-la. Ele descreveu em um de seus diários, de maneira bastante detalhada, a noite de amor que tiveram, irmãzinha. Se eu gostasse desse tipo de literatura erótica, eu teria ficado empolgado. O velho Dumitri levava jeito como romancista!

Estapeei a taça oferecida a mim e ela se espatifou na parede atrás do balcão do bar.

— Não foi uma noite de amor. Aquele monstro me violentou antes de me morder. Eu fui assombrada por pesadelos constantes ao longo de vários anos por causa disso. Sinto nojo todas as vezes que me lembro daquelas mãos decrépitas me tocando sem que eu pudesse fazer nada a respeito. Eu amava você e estava esperando um filho seu na época, Costel. Como pode ser tão insensível a esse fato?

Nenhuma resposta emocional. Seus olhos continuaram me fitando como se estivéssemos falando de um passeio tedioso numa rua qualquer e não da vida que eu gerava em meu ventre antes de toda a desgraça que havia me abatido.

— Dumitri te enxergava como o invólucro que iria carregar os descendentes dele, Alina, nada além disso. Se nós dois não tivéssemos armado um plano para envenená-lo com o sangue de um homem morto e fugido para a Rússia na época, com certeza ele teria realizado o seu intento, e hoje eu seria tio de pelo menos uma dezena de outras criaturinhas maléficas e desprezíveis como o velho Ardelean.

— Mas... como é possível? O meu sistema reprodutor expulsou a criança que eu gerava no momento em que Dumitri me transformou... Eu sei, eu sinto que não sou mais capaz de conceber um bebê... Como eu daria filhos àquele maldito?

Costel terminou de beber o líquido escuro em sua taça e começou a providenciar outra dose. Lacrou a garrafa com a sua rolha e a botou junto às demais, na prateleira de divisórias envidraçadas às suas costas.

— Como eu disse anteriormente, dois morois legítimos podem se reproduzir entre si, se assim o desejarem. Não sou capaz de explicar em detalhes o processo biológico que envolve o ato da concepção, mas há inúmeros relatos de vampiros que simplesmente nasceram com seus dons, que herdaram as habilidades especiais dos pais diretamente. Eu conheci alguns deles pessoalmente, Alina. Não é uma lenda.

Alina e o Concílio de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora