Eles são primos, mas ela sempre teve segundas intenções. Ele nunca soube, então nunca se importou em poupá-la de suas experiências. Ela não aguentou mais e transformou o sentimento bom em ódio e mágoa.
O tempo passou e as coisas voltaram a mudar qu...
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— Lucca, vai doer. Dizem que na costela dói. — Eloá fala e Lucca dá uma risada de sua reação.
A garota estava muito nervosa por diversos aspectos. Até então, Lucca acreditava que o maior motivo era o fato de estarem fazendo uma tatuagem escondidos, aos 16 anos, mas não. Eloá tinha mais medo da dor.
— Calma, Lolô. — Ele segura a mão dela. — Eu estou aqui, não vai doer tanto assim. E quando estiver machucando, pode apertar a minha mão. — Fala e ela sorri.
— Quero ver se na sua vez vai pensar assim também, machão. — Ela fala e geme de dor na primeira agulhada.
Lucca também reclama, mas por conta do apertão que levou da garota. A tatuagem não era grande, mas tinha alguns detalhes que poderiam fazê-la demorar, sem contar com a parte colorida, que tende a doer mais para algumas pessoas. Pelo menos era o que o garoto tinha lido na internet.
— Isso definitivamente dói mais do que imaginei, Lucca. — Eloá reclama. — Pior que nem tem como voltar atrás, senão vou ficar com um dedo na costela e ninguém vai entender nada.
Lucca dá outra risada e encara a prima.
— Lolô, você é mais resistente do que imagina. — Lucca a encoraja. — A dor vai virar lembrança depois. A mais bela delas, vai por mim.
O tatuador concordou com Lucca e colocou músicas para que Eloá pudesse se distrair. Após aproximadamente três horas, a tatuagem dela estava pronta.
Foi então que a garota correu em direção ao espelho e percebeu que toda a dor tinha mesmo valido a pena, pois o desenho estava a coisa mais linda do mundo.
— Eu amei. Amei mesmo, ficou lindo! — Eloá sorri animada, contagiando o primo. — Agora é sua vez, Lucca.
O rapaz assente e se deita na maca do tatuador. Após todo o processo de higienização, o profissional penetra a agulha na pele de Lucca.
Diferente de Eloá, o garoto não geme de dor. Ele dá um grito, arrancando uma gargalhada da prima.
— Que isso, machão? — Ela caçoa dele. — Pensei que fosse corajoso. — Se aproxima, senta ao lado dele e segura sua mão. — Agora é minha vez de te acalmar. Vai passar rápido e a dor deixará de importar assim que visualizar o resultado no espelho.
Lucca assente e fica ali, de mãos dadas com a prima. Ele não queria admitir, mas tudo ficou mais suportável quando a melhor amiga disse aquelas palavras acolhedoras. Eloá podia não saber, mas era o porto seguro dele.
E ele podia não saber, mas era a paixão de Eloá. A garota estava extremamente radiante por estar vivendo aquilo ao lado de Lucca. Não sabia como o primo a enxergava, mas os dois estavam mantendo uma relação de amizade e parceria.
Lucca e Eloá, a dupla dinâmica e inseparável. Era assim que dona Conceição os definia.
Apesar de receosa pelas consequências, a garota estava animada, muito animada. Porque aquela tatuagem apenas evidenciava como um era importante para o outro. Estava ansiosa para compartilhar como estava apaixonada.
Uma pena que o sentimento dele não correspondia ao dela. Por mais que a química entre os dois fosse ótima, Lucca prezava demais pela amizade que mantinham, além da relação familiar, para permitir que ultrapassasse disso, por mais que, às vezes, seu coração quisesse o contrário.
Já cogitou o sentimento algumas vezes, mas não passou disso: uma mera cogitação.
Na cabeça dele, a família já surtaria se soubesse dos beijinhos acalorados que andavam dando... ou dos toques indiscretos que não conseguiam evitar, quem dirá se resolvessem assumir um relacionamento.
Ainda mais eles, que cresceram juntos. Lucca nem gostava de pensar nisso. E olha que aquilo surgia em sua mente mais vezes do que gostaria.
Por fim, a tatuagem foi terminada e Lucca chegou à conclusão de que a prima tinha razão. Assim que observou o desenho no espelho, percebeu que toda a dor tinha sido válida.
Agora estaria unido a sua prima para sempre. Não importa o quanto briguem, ou decidam se afastar. Segundo o significado do "Akai Ito", ambos sempre retornariam, pois estão destinados a isso, a estarem juntos. São almas que deveriam se encontrar.
***
Eles conseguiram esconder as tatuagens pelo total de sete dias, mas foram entregues pelas gêmeas, que acharam um absurdo não serem convidadas para realizar tal ato insano. Elas não levaram em consideração o fato de terem apenas 10 anos, o que enfureceu os primos mais velhos.
Ambos ficaram de castigo. Dona Conceição achou um absurdo Lucca ter influenciado Eloá a tatuar algo às escondidas. Ela tinha certeza que a ideia não havia partido da garota, pois a mesma era tão certinha, jamais cogitaria fazer algo do tipo.
Separados, seus pais perguntaram se estariam tendo algum envolvimento amoroso, tendo em vista que esse tipo de tatuagem indicaria que sim. Prontamente responderam que não, o que de fato era verdade. Por mais que Eloá quisesse muito mais e Lucca não compreendesse o próprio coração, o que os dois tinham não se saía do campo físico.
Com o tempo, todos aceitaram os desenhos semelhantes. Passaram, até mesmo, a achar bonito. Tia Maria quis fazer uma igual, mas Lucca não deixou.
O "Akai Ito" era algo entre eles, algo íntimo entre duas pessoas que, de fato, estavam destinadas a sempre se reencontrar.
