29 - A noite é uma criança

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— Não acho que um clube de strip seja o lugar mais apropriado para você estar no momento, Jonas

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— Não acho que um clube de strip seja o lugar mais apropriado para você estar no momento, Jonas. Esqueceu que agora é um homem comprometido? — Pergunto, e ele vira uma dose de tequila.

— Onde mais eu comemoraria o fim da minha vida de solteiro? — Jonas pergunta, e eu o encaro. — E cala a boca. Você está me julgando, mas não pensou nem duas vezes antes de concordar em vir. — Fala, e desta vez sou eu quem bebe a dose de tequila.

— Primeiro, sou um homem solteiro, então minha presença aqui é a coisa mais natural do mundo. — Pontuo com um dos dedos, logo levantando outro. — Segundo, Jonas, você está começando um namoro. Isso não é uma despedida de solteiro, não é como se você e Eloá fossem casar amanhã. — O observo de forma repreensiva. — Eu acho que você está tentando arrumar alguma desculpa para ganhar uma dança privativa.

Meu estômago se revolta contra minha própria fala. Só de imaginar que os dois, futuramente, podem firmar algo mais sério do que essa droga de namoro.

Desde o maldito dia em que Eloá confessou que teve sentimentos por mim durante a adolescência, que me sinto um completo imbecil.

Isso porque lutei contra mim mesmo com todas as forças possíveis para que não sentisse o mesmo.

Ou, ao menos, assumisse o sentimento para mim mesmo, já que as borboletas no estômago estavam sempre presentes quando o assunto era Eloá. O resultado dessa droga? A perdi da pior forma possível, porque ela ainda me odeia e apenas me enxerga como objeto sexual.

Está sendo doloroso e extremamente difícil assumir isso, porque sou uma pessoa muito orgulhosa, mas não dá para fingir que esse meu mau humor dos últimos dias não tem motivo.

E é exatamente por isso que aceitei vir até aqui. Mulheres gostosas dançando no meu colo por dinheiro e álcool sendo despejado desenfreadamente na minha garganta talvez mudem essa sensação horrorosa que é saber que meu melhor amigo está namorando a garota que, desde o princípio, deveria ter sido minha.

— Eu só acho, Lucca, que todos nós temos nossos pecados. — Jonas fala e me arranca desse poço de lamentações internas. — Se você não falar, ela nunca vai saber que estive aqui.

— Sabe que está falando da minha prima, né? — Questiono com uma sobrancelha arqueada enquanto encho meu copo com um pouco de vodka, pois pedimos uma garrafa. — Acha mesmo apropriado dividir esse segredo justamente comigo?

— A prima que você fez questão de dizer diversas vezes que odeia, senhor puritano. — Ele revira os olhos, se joga para trás na cadeira e observa a garota que está dançando no palco. — Depois de tanto tempo, apenas toquei sua prima nesta semana, sabia? Então não me julgue por querer um pouco de diversão. — Ri enquanto observa os movimentos sensuais da mulher. — Não é como se eu fosse fazer isso sempre.

Respiro fundo, ignoro sua escrotidão e viro mais um copo de vodka.

Talvez Jonas mereça que eu continue "ensinando" à Eloá o que é bom de verdade na cama. Quem sabe no meio do caminho ela perceba que o namorado não chega nem aos meus pés e desista dessa droga de relacionamento.

Não sou uma pessoa que costuma se achar melhor que os outros. Apenas trabalho com fatos e, até então, todas as experiências que tivemos juntos e separados levam ao mesmo resultado. As mulheres que dividimos sempre falam a mesma coisa. Nunca entrei nesse mérito, até porque jamais me interessei genuinamente por qualquer uma delas. Mas agora é diferente. Não me importaria em dividir se fosse qualquer outra, mas estamos falando de Eloá.

Também não acho que o fato de eles terminarem fará com que minha prima venha correndo querer algo comigo, afinal, o mundo não é cor de rosa e, pelo que ela já me contou por alto, sofreu muito durante a adolescência devido à minha falta de empatia com seus sentimentos. Contudo, pelo menos terei espaço para conversar sobre algo que deveria ter sido assumido há cerca de oito anos.

Para além disso, a única coisa que posso fazer é assumir as consequências da minha irresponsabilidade afetiva. Queria ter percebido tudo isso antes. Estou me sentindo muito mal com tudo isso.

Tenho mais uma vez meus pensamentos interrompidos após uma forte cotovelada de Jonas. Puta merda, cara? Quem vem para a droga de um clube de strip para ficar trocando papo furado? Eu só quero afogar as minhas mágoas em cachaça, caralho.

— O que foi agora, Jonas? — Questiono emburrado. — Ainda não conseguiu escolher a droga da dançarina que vai contratar para te fazer uma dança privativa?

— Ô, seu cavalo ignorante! Está de mau humor? — Me repreende e eu reviro os olhos. Sei que em outras épocas já teria saído daqui com alguma mulher, mas, agora, estou vivendo um momento de muitas descobertas internas. — Óbvio que escolhi. Uma pra mim e outra pra você. — Ele aponta para a dupla e eu as observo.

A mulher que dançará para Jonas tem a pele dourada e está vestindo um corselete vermelho de couro, uma hot pant preta, meia calça arrastão e uma bota de couro da mesma cor do corselete. Tudo isso em um corpo que, ah, nem se fala. "Desenhado", seria a palavra certa.

Seus olhos estão cobertos por uma máscara preta e seus lábios pintados por um gloss cor de chocolate. Os cabelos presos em um longo rabo de cavalo, evidenciando seus ombros e pescoço, que brilhavam com a luz.

Diria que teria sido uma ótima escolha, se o filho da puta não estivesse comprometido.

A morena começa a dança sensual rodeando seu corpo e pressionando seu peitoral com uma das mãos, mas nem tenho muito tempo para observar, pois a dançarina que Jonas escolheu para mim logo aparece.

Elas vestem roupas parecidas, só que de cores diferentes. O corselete dela é azul, igualmente a suas botas de couro. Mas algo nela é muito familiar, e nem preciso pensar muito para entender de quem se trata.

A pele bronzeada e sedosa, o cabelo preto chanel e os olhos verdes abaixo da máscara. O perfume doce e hipnotizante de sempre.

— Dentre todas as dançarinas desse clube, Jonas realmente tinha que escolher você, Clara? — Pergunto e ela sorri, já dando início à dança.

— O mundo gira, mas sempre voltamos para o mesmo lugar, não é? — Reflete. — Surpresa? Sim. Chateada? — Cochicha no meu ouvido. — Não. Afinal, a noite é uma criança.





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