38 - Somos cúmplices

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Não acredito que estou sentado nesta cadeira, em frente à esta tela de computador, exercendo uma função que, desde que me entendo por gente, não me interessa

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Não acredito que estou sentado nesta cadeira, em frente à esta tela de computador, exercendo uma função que, desde que me entendo por gente, não me interessa. Não fui à faculdade hoje. Estou nesta sala desde às 8h.

Na verdade, não fui à faculdade em nenhum dia da última semana, pois estou utilizando este período para tentar digerir essa situação, mas não consigo, definitivamente ficou entalada na minha garganta.

A indignação do meu pai é, com certeza, compreensível, não tiro sua razão, mas tentar controlar minha vida é algo que ultrapassa o limite, penso. Contudo, logo após o corpo de delito, ele me deu um ultimato: ou exerço minha função na empresa, já que, segundo ele afirma, "tenho condições de viver na putaria", ou tenho a mesada cortada e corro atrás do meu sustento.

Engoli meu orgulho e abracei a responsabilidade imposta por ele. Não vou ficar reclamando, porque isso seria extremamente errado da minha parte. Sempre tive tudo nas mãos, agora chegou o momento de agir um pouco para conquistar as coisas, afinal.

O pior foi a forma como tudo se desenrolou. Além de ter que engolir o ultimato do meu pai, tive que assimilar a porrada que levei na cara daquele babaca do Bruno. E ainda pior foi digerir o motivo que me levou a correr atrás da insana Clara.

Fiquei tão transtornado com a cena que vi na sacada de Eloá que mal consegui pensar racionalmente. O mais intrigante é que não tenho o mínimo de direito de ficar irritado, afinal, não temos nada. Nunca tivemos. Por minha culpa? Sim, em partes, mas a realidade é essa.

A confusão na minha mente se agravou ainda mais quando Eloá socou o rosto de Clara para me defender. Não esperava por isso. Na verdade, ninguém esperava. Depois que a poeira abaixou, meus pais vieram me perguntar como estava a nossa relação, já que ela tinha tomado as minhas dores. Para duas pessoas que se odeiam tanto, a atitude foi, no mínimo, surpreendente. Obviamente, me fiz de desentendido e respondi que deve ter sido algo instintivo, mas não pude deixar de esconder um sorriso quando ela me lançou aquele olhar enigmático ao ouvir Clara afirmar que éramos "unha e carne". Espero que, assim como eu, tenha se lembrado do nosso passado. Éramos muito mais que dois adolescentes tarados um no outro. Ela pode jurar que me aproveitei de seus sentimentos, mas nem eu entendia os meus. Na verdade, acho que só entendi agora, tarde demais.

Mas foda-se, tudo acabou depois daquele almoço de domingo e, obviamente, da fatídica noite no clube de strip. Tenho evitado o contato com Jonas desde então, até porque não consigo encará-lo sabendo das traições que cometi, mas acredito que tudo esteja bem entre o casal. Se não terminaram após a ida dele àquele lugar, esse relacionamento irá longe.

E é isso. A única coisa boa nesse maldito dia, diante de tanta bagunça que permeia minha cabeça, é que estou em uma sala diferente da de Mário, porque ele é absolutamente insuportável quando o assunto é a empresa. Odeio pessoas sistemáticas, e ele é a maior de todas. Ainda bem que o tempo não está passando devagar, faltam apenas dez minutos para o meu horário de almoço.

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