Capítulo 34.

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Os olhos castanho prestavam atenção em como Carolyna a olhava ansiando uma resposta e a daria, sem dúvidas.

Confiaria aquilo à sua namorada, mesmo sabendo que se descobrissem a verdade ela apanharia muito.

- Como assim? - Carolyna indagou. - Vai me dizer que é uma infiltrada do governo para acabar com a corrupção daqui? - Perguntou rindo baixinho e Priscila suspirou.

- Não, Carolyna. - Ela disse rindo nervosamente. - Antes fosse, assim eu desistiria dessa merda de missão e iria ter uma vida com você lá fora. - Falou.

- E então?

- Eu confio em você, mas precisa me jurar não contar nada a ninguém, por favor. - Ela pediu e Carolyna assentiu freneticamente, sentindo a curiosidade aflorar em sua pele através dos poros de seu corpo.

- Prometo. - Carolyna falou e Priscila assentiu.

- Bem, quando eu entrei aqui eu estava arrasada pelo medo de meu avô me odiar. - Ela começou. - Passei dias e mais dias de pânico com cantadas inapropriadas de detentas veteranas e, quando eu achava que não podia piorar, me avisaram que meu avô havia falecido.

Os olhos de jabuticabas se arregalaram ligeiramente antes da menor fazer uma pequena careta.

- Céus, deve ter sido um inferno. - Carolyna disse e Priscila assentiu.

- Mas tenho muita sorte de sempre aparecer anjos na minha vida. - Ela disse com um sorriso triste em seus lábios.

- O que quer dizer? - Carolyna questionou contusa.

- Que a detenta que estava na minha cela se tornou minha amiga.

Carolyna paralisou seu olhar no de Priscila.

Yasmin havia comentado sobre essa mulher com ela, se bem se lembrava.

- O que, houve com ela?

Priscila riu e a fitou.

- Te contaram, não é?

Carolyna corou levemente e assentiu.

- Mais ou menos. - Confessou com uma careta e Priscila assentiu.

- Bem, seu nome era Vanessa e ela era a antiga líder. - Explicou. - Ela notava a constante luta que eu vivia com o assédio neste lugar e no dia que apareci com o olho roxo após três dias na detenção, ela ficou irritada, afinal havíamos nos tornado amigas.

- Por que foi para a detenção? - Carolyna perguntou curiosamente.

- Não deixaria que me tocassem facilmente e acabei brigando feio com uma delas. Ambas fomos para a detenção.

- Eu posso entender esse sentimento. - Ela disse e Priscila sorriu, umedecendo os lábios.

- Sim, ainda lembro de você dizendo que eu poderia mandar minha "capacho" te arrebentar que mesmo assim eu não tocaria em você. - Priscila falou rindo.

- O engraçado é que hoje eu faço questão do seu toque. - Carolyna disse mordendo o lábio inferior e a maior suspirou.

- Não sei o que eu fiz para te merecer, mas não estou reclamando em absoluto. - Priscila disse e Carolyna a puxou para um beijo rápido antes de a fitar com ansiedade.

- Mas e então? - Perguntou curiosamente.

- Bem, fomos nos tornando cada vez mais íntimas e resolvi lhe contar o porquê de ter vindo presa. Nessa época Vanessa começou a vomitar com frequência e a cuspir sangue constantemente e eu sempre a ajudava lavando seu rosto, a levando comida, sabe? - Perguntou retoricamente. - Depois de levar mais uma surra aleatória ela me contou que tinha pouco tempo de vida. Tinha um câncer em um estágio avançado e me confessou que fui a única que se importou com ela em todo seu tempo de cadeia. - Priscila disse, limpando a garganta. - Um dia estávamos no pátio tomando sol e ela cuspiu sangue em uma de suas tosses. Foi tudo muito rápido, no momento seguinte ela mandou eu bater nela.

Priscila fitava a parede com um olhar nostálgico, perdida nas lembranças de infelicidade daquela trágica semana.

- Não aceitei, mas ela me implorou e disse que era para o meu bem. Decidi a empurrar de leve, mas ela mesma se jogou com força contra a parede e me puxou, falando para eu fingir que a batia. Foi tudo confuso e me lembro de tê-la obedecido.

- Assim virou líder? - Carolyna indagou.

- Ainda não. Ela pediu para que eu a desafiasse no dia seguinte, mas eu não queria, ela estava fraca e pálida, porém ela era teimosa. - Disse e fitou sua namorada. - Assim conheci Malu, porque naquele dia Vanessa mandou Malu ir buscar alguns remédios para ela, porém quando voltou ouviu a conversa e Vanessa a fez jurar jamais contar nada a ninguém.

- E houve a falsa briga nesse dia?

- Sim, o sangue que ela cuspia fez tudo parecer mais real e ela gritou ter perdido o posto para mim diante de quase todas. - Priscila falou antes de suspirar. - Ela fez todas me temerem e pediu para uma de suas garotas me ensinar a lutar de verdade, porque apesar de ser a nova líder, e ter várias que estariam lá para mim na hora da pancadaria, ainda assim talvez eu precisaria lutar.

- Não sei o que dizer. - Carolyna disse abismada e Priscila lhe deu um beijo casto.

- Ela me pediu para jamais conversar com ninguém, não mostrar vulnerabilidade, falar como se eu não tivesse medo de ninguém e jamais desmentir um boato sobre algo ruim que fiz. - Priscila disse rindo com escárnio. - Naquela semana ela faleceu e todo o presídio achou que eu a matei na cela enquanto dormia. Tenho certeza de que isso foi ideia dela. - Falou rindo tristemente. - As únicas que sabem disso aqui dentro são três pessoas, além de você.

Carolyna a fitou com anseio.

- Daniela e Maria Luisa eu já sei, mas quem seria a outra? - Carolyna questionou e Priscila riu.

- Você não vai acreditar.

- Odeio essa merda de suspense, você o faz desde que cheguei. - Carolyna reclamou e cruzou os braços, fingindo chateação.

Priscila a puxou mais para seus braços e riu com vontade.

- Quanto dengo, coisa linda. - Ela murmurou e Carolyna suspirou ao sentir um beijo de Priscila contra a pele de seu pescoço.

- Diz, para mim, amor... - Carolyna pediu e Priscila assentiu.

- Digo tudo o que quiser. - Ela disse sorrindo.

E lá ia ela novamente, abrir seu coração e sua história completamente para Carolyna.

Bem, completamente não, ela jamais contaria sobre o pequeno segredo que guardava com Daniela.

Presa Por Acaso | Capri Onde histórias criam vida. Descubra agora