Capítulo 18.

2.2K 226 66
                                    

Os olhos de jabuticabas analisavam de longe a ruiva de olhos castanhos se sentando na mini arquibancada do outro lado do pátio.

Ela ainda tinha a pose séria e fria.

Fazia cerca de uma semana desde que conversaram e depois daquilo Priscila não lhe respondia mais.

Carolyna tentou de tudo, porém era impossível.

Priscila realmente havia ficado chateada.

- Brigaram? - A voz de Yasmin soou por detrás de Carolyna, fazendo a menor assentir.

- Fui uma idiota com ela. - Carolyna disse e Yasmin fitou Priscila, franzindo ligeiramente os olhos devido ao sol intenso.

- Você é bem corajosa. - Disse. - Ninguém aqui ousaria ser idiota com ela depois de saber que ela quase matou a antiga líder daqui. - Comentou. -  Só não matou porque a outra se rendeu.

- Essas informações são verídicas? - Carolyna  perguntou.

- Dizem que sim, dizem que a mulher morreu dias depois e que foi Priscila quem matou, mas não levou a culpa porque soube disfarçar o crime.

- Priscila não seria capaz. - Carolyna murmurou e Yasmin riu.

- Você está se apaixonando? - Perguntou. - Porque só assim para achar que ela não seria capaz, ela é a líder daqui, Carolyna.

Carolyna ficou quieta.

Não discutiria sobre sua opinião com mais ninguém, afinal ninguém ali conhecia Priscila como ela.

Estava ali há pouco tempo, mas apesar disso ainda era a pessoa que mais conhecia Priscila ali.

Claro que possivelmente Daniela e Malu conheciam melhor a garota e exatamente por isso elas não discutiam sobre Priscila.

Ninguém entenderia.

- Não estou me apaixonando. - Carolyna disse. - Mas gosto muito dela.

- Três semanas e já está caidinha. - Yasmin disse rindo, soltando um pequeno ronco junto.

- Não estou muito bem para humor hoje, Yasmin, desculpa. - Carolyna disse tristemente, sorrindo fraco antes de caminhar até sua cela.

Naquele dia a luz do sol não faria diferença.

Era para ser um dia feliz, ela havia organizado em sua agenda aquela data havia meses.

Sua sobrinha completava três anos e ela sequer poderia dar um abraço, quem dirá aquele monte de coisas que havia organizado.

Ela se sentou em sua cama e se pôs a chorar baixinho, se perguntando aonde havia errado em sua vida para estar pagando um preço tão alto.

Sua advogada não voltou a dar notícias, muito menos sua irmã.

Como será que Sofia estaria?

Será que ela perguntava sobre Carolyna?

Olívia teria lembrado de comprar o unicórnio para a menina em seu nome?

Com o coração destroçado Carolyna apoiou o rosto nos joelhos, abraçando as pernas para chorar em posição fetal.

Ela sempre brigava com seu irmão.

Como não brigar?

Ele era bastante irresponsável.

Claro que tinha apenas dezoito anos, porém tinha uma filha para quem devia responsabilidade e muita das vezes não a exercia, deixando o cargo vago para Carolyna.

A garotinha era mais apegada à sua tia Carolyna do que ao próprio pai.

Apesar de tantas brigas, Carolyna e Lucas haviam passado horas organizando aquele dia.

Algo que jamais se repetiria.

Nem Sofia completaria três anos outra vez e nem Carolyna teria seu irmão para organizar algo em conjunto.

O nó se apossou de sua garganta e ela desabou em um choro intenso, porém parou quando sentiu uma mão em seu ombro.

- É hoje o aniversário que você citou, não é? - Priscila perguntou, ignorando toda a frieza do decorrer da semana e Carolyna assentiu, tendo seus olhos inchados e avermelhados.

A maior suspirou e se sentou ao seu lado, trazendo-a para seus braços em uma abraço apertado.

Carolyna não hesitou, se deixando cair em um choro forte, tendo seu rosto enterrado na curva do pescoço da maior.

- Sh... - Priscila sussurrou e Carolyna a abraçou ainda mais forte, deixando suas defesas abaixadas.

- Eu cuidava dela como uma mãe. - Carolyna disse em meio ao pranto e Priscila suspirou. - Eu contava histórias e brincava com ela, eu... sinto tanta falta dela.

- Como ela é? - Priscila perguntou, querendo entreter a menor.

Carolyna fungou e respirou fundo, pensando no que diria.

- Ela é doce, divertida. - Começou, se lembrando da pequena figura. - Ela tem a cor dos meus cabelos e dos olhos, porém sua pele é um pouco mais clara. - Carolyna disse, enxugando algumas lágrimas antes de se esquivar do abraço de Priscila para olhá-la. - Ela é tão esperta para sua idade, você precisa ver, Priscila...

Priscila suspirou, vendo um brilho lindo cintilar nos olhos da menor.

- Ela parece adorável. - Disse e Carolyna sorriu finalmente.

- Céus, ela é. - Carolyna disse e Priscila repuxou o canto dos lábios em um meio sorriso.

- Gostaria de falar com ela? - Priscila perguntou e Carolyna assentiu tristemente. - Sabe que esta manhã eu consegui uma coisa... - Priscila falou, retirando algo de dentro de seu sutiã. - Preciso devolver até as cinco, mas que tal se eu conhecer a voz dela, hm?

Carolyna abriu a boca em completa surpresa ao ver um telefone celular na mão de Priscila.

- Você, me emprestaria mesmo? - Carolyna  perguntou e Priscila riu.

- Está brincando? Você me deixou curiosa sobre essa criança. - Priscila falou e Carolyna sorriu. - Só espere um minuto, vou chamar a Malu para vigiar enquanto estivermos na ligação.

- Estivermos? - Carolyna perguntou confusa.

- Você realmente acha que eu não vou dar um oi para ela? - Priscila perguntou e Carolyna se jogou em seus braços, a abraçando fortemente.

- Céus, eu te beijaria agora mesmo. - Carolyna  comentou. - Obrigada mesmo, Priscila, eu jamais vou me esquecer disso.

A maior apenas assentiu um pouco sem graça por Carolyna ter citado beijo e logo se levantou.

- Não precisa me agradecer. - Ela disse, desaparecendo dali.

Quando voltou viu que Carolyna  tinha lavado o rosto e estava batendo o pé ansiosamente contra o chão.

- E então? - Carolyna perguntou em expectativa e segundos depois viu Malu parar na frente da cela, de braços cruzados enquanto Priscila tapava parcialmente a visão lá de fora com lençóis.

- Vem cá. - Priscila pediu, se sentando na cama de Carolyna com as costas na cabeceira, de costas para as grades e Carolyna se aproximou, sentindo Priscila
a puxar para o meio de suas pernas antes de sorrir. - Vire-se para a frente. - Priscila disse rindo, vendo que Carolyna estava paralisada fitando seus lábios. - Sua irmã tem alguma rede social ou algo que dê para fazer vídeo-chamada?

- Tem. - Carolyna respondeu e Priscila sorriu.

- Então coloque ela na linha, faremos uma vídeo-chamada.

Priscila não podia entender o tamanho do sentimento que despertou em Carolyna ao ajudá-la com aquilo e, mesmo brigadas, era bom demais voltar a estar entre os braços da mais nova.

Presa Por Acaso | Capri Onde histórias criam vida. Descubra agora