20. A ULTIMA NOITE

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Lúcia ainda não acreditava no que estava vendo e muito menos no que Alex dissera, porque ela virá o corpo totalmente queimado de Antônio naquela noite e também esteve presente quando ele foi enterrado naquela maldita cova. E o rapaz jovem à sua frente, com aqueles olhos tão negros e sombrios, de aparência quase demoníaca não podia ser o Antônio. E por que, então, Alex estava tão convicto daquilo? Lúcia ainda estava tentando ver uma forma de encontrar respostas para suas perguntas mas a cada vez que uma resposta surgia, ela se encontrava banhada por mais perguntas que não possuíam qualquer solução aceitável. Afinal, os mortos não podiam reviver.

Alex dava passos lentos em direção à Lúcia e aos outros, olhando-os com aquele seu olhar maligno e sedento por sangue. A cada vez que ele se aproximava, Lúcia se afastava dando dois passos para trás; a arma sempre na direção do coração de Alex. Ela ainda não sabia o que fazer, sua mente pensava em algumas estratégias que pudessem detê-lo sem perder a chance de leva-lo até a delegacia. Se atirasse nele agora e perdesse muito sangue, tinha a chance de Alex morrer e ela ficar sem o autor dos crimes. Mas ao mesmo tempo em que não queria atirar nele, a vontade de Lúcia era de mata-lo ali mesmo para a proteção de seus dois filhos e os amigos deles.

A cena se repetiu até chegarem à base do palco do auditório. Alex os tinha prendido contra a parede do palco, deixando-os totalmente encurralados iguais ratos de laboratório. Rindo, ele estendeu a mão em direção a Diego, que segurava também uma arma, e, com poder da sua mente, Alex fez com que a mesma flutuasse até a sua mão. Diego olhou para aquilo totalmente abismado, assim como Lúcia e os outros. Se Alex tinha habilidades sobre-humanas ou poderes sobrenaturais, aquilo significava que ele não era um assassino comum. Que droga estava acontecendo ali, então?

– Acredito que esteja na hora de você, Lúcia, saber o que aconteceu comigo... – disse Alex, apontando a sua arma na direção de Lúcia e os outros. – Mas talvez não acreditem no que aconteceu... nem eu mesmo acreditei quando percebi...

E assim como Lúcia, Alex entrou num mar de lembranças enquanto narrava para o grupo à sua frente o que lhe acontecera. Mas as suas lembranças o estavam levando diretamente até o momento em que se encontrava enterrado naquela cova lamacenta e cheia de bichos.

Era a mesma noite, mas a diferença estava no tempo e no céu que, depois que Lúcia e os seus amigos haviam saído dali, melhorou gradativamente e, entre algumas nuvens, a luz da lua começará a surgir. Era uma bela lua cheia, brilhosa e prateada. Os seus raios lunares, estranhamente, batiam com uma luminosidade estranha sobre a cova de Antônio. Minutos depois, a terra começara a se mover, e dela surgiu uma mão suja de lama. Mas a pele estava clara e prateada como a lua, com uma luz fantasmagórica ao seu redor, como se fosse uma áurea. Após as mãos surgirem, foi a fez da cabeça e depois todo o corpo. E a coberta esfarrapada e suja em que fora enrolado, caiu no chão, revelando um jovem rapaz totalmente diferente. Este era musculoso, a pele branca como marfim que parecia brilhar na noite. Os seus olhos, que antes eram verdes como esmeraldas, agora estavam negros como a noite, com veias sobressalentes que mais pareciam teias de aranha. Antônio era uma nova pessoa, até seu rosto havia mudado, tudo estava diferente exteriormente e internamente. Mesmo chocado, estava gostando dessa sua nova forma.

O rapaz saiu lentamente de sua cova, os olhos voltados para a lua, quando a voz de uma mulher lhe chamou suavemente. Vindo da direção da casa abandonada logo atrás dele, a voz era doce e meiga, diferente tudo o que ele ouvira, era quase como se fosse uma melodia que, ao dizer seu nome, encantava-o.

Totalmente nu e sujo de lama, Antônio seguiu até a casa, completamente hipnotizado pela voz que o chamava. Ele abriu a porta com um empurrão e adentrou na escuridão, mas, mesmo que estivesse totalmente escuro, ainda conseguia enxergar perfeitamente. Como era possível? O que estava acontecendo com ele? A voz continuava a lhe chamar e quando Antônio percebeu, estava de frente para uma estátua de uma mulher. Antiga e empoeirada, a estátua brilhava de forma suave e sinistra.

A Escola das Sombras: O Assassino das Trevas [LIVRO UM]Onde histórias criam vida. Descubra agora