7

21 1 0
                                    

Eu tremia, devido ao frio intenso vindo do mar e principalmente devido ao turbilhão de coisas que se passavam na minha mente. Eu estava cheio delas. A ponto de explodir.

Me afastei de Dave o mais rápido que pude quando o ouvi falando numa voz baixa e rouca, como o sussurro do vento. Acabei caindo da cama e me arrastando até a porta, em choque. Haviam se passado anos desde que eu conseguira bloquear a sua maldita voz, mas agora, algo a trouxe de volta e isso me apavorava.

Deixei o quarto e desci até a sala. Moira dormia no sofá, num estado deplorável. Passei direto por ela e saí de casa, sem nenhum destino definido, apenas querendo ficar longe dali.

Minhas roupas agora eram totalmente inapropriadas para a noite, e eu tentava manter o corpo aquecido à medida que meus pelos se eriçavam em contato com o ar gélido. Esfreguei as palmas das mãos e as soprei com hálito quente, mas não foi o bastante. Se houvesse luz o suficiente, com certeza poderia ver as pontas dos meus dedos ficando roxas.

As correntes se agitam com os meus movimentos. Estou sentado num balanço cravado na areia da praia Willingdon. Não tinha a intenção de vir parar aqui, mas foi para onde meu subconsciente me trouxe. O mar fica a apenas alguns metros à frente, mais próximo do balanço que o normal, devido a maré alta.

Acredito que não haja mais ninguém por perto, a não ser os carros que passam rapidamente pela rodovia atrás de mim. Há diversos relatos de ursos e pumas na trilha próxima. Eu posso muito bem ser atacado se continuar aqui, na semi-iluminação dos postes a distância, mas ao menos o barulho das ondas acalma a minha mente.

Quase me queimo ao tentar acender um cigarro, tentando aparar a chama com a minha camisa. Os pinheiros balançam violentamente e o som dos galhos se remexendo contra o céu escuro é nostálgico.

Me lembro de tentar vir a este mesmo lugar na infância, junto com a escola. Toda semana os professores promoviam atividades ao ar livre, mas eu nunca pude ir, já que Moira não me acompanhava. A praia nem sequer fica longe de onde moramos, apenas uns cinco minutos a pé.

As imagens das minhas mãos sufocando Moira me voltam à mente e as afasto para longe o mais rápido possível. Provavelmente, ela continua no sofá, ou caída em algum canto da casa.

O vento espalha meu cabelo em frente ao rosto quando muda de direção, passando a soprar lateralmente. Há uma espécie de cobertura bem aqui ao lado, feita de uma madeira clara e revestida com uma brilhante camada de verniz. Uma mesa feita do mesmo material permanece sob o teto, ladeada por dois longos bancos de estilo rústico.

Aquele era o lugar favorito de Agatha. Quando éramos mais novos, não nos importávamos com os dramas do mundo e gostávamos de sair para aproveitar a natureza. A Sra. Sheehan, mãe de Ag, costumava nos trazer aqui nas tardes de sábado para um piquenique, mas era cuidadosa demais para nos deixar vir sozinhos. Um dia, depois da escola, resolvemos arriscar uma visita à praia às escondidas. Tudo corria conforme os planos, mas uma chuva violenta estragou tudo quando agitou o mar, derrubou árvores e nos deixou ilhados sob a cobertura, até uma irritada Sra. Sheehan vir nos buscar.

Contudo, meu local favorito ficava além do gramado, longe dos pinheiros ao redor da sorveteria que abria todo verão, da construção que abrigava a mesa de piquenique e da trilha a leste. Havia um caminho construído com pedra e cascalho, que começava na areia branca e adentrava o mar, ligando a praia à uma plataforma flutuante, que permanecia estável a alguns metros da costa.

As pessoas usavam o lugar para pescar, mas Raphael e eu costumávamos ir até lá quando Agatha não dava as caras, seja lá pelo motivo que fosse. Nos sentávamos na borda e encarávamos o espaço vazio do horizonte, entre as sombras das ilhas vizinhas, com a água batendo na metade da perna e deixando nossos jeans encharcados.

O Sussurro do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora