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Minha mente se tornou um completo caos, mais do que é naturalmente. Havia voltado para dentro da escola, muito depois do quarto tempo começar e me dirigido até o refeitório. Não há quase ninguém aqui, se eu não contar com as pessoas que atravessam o espaço aberto entre as mesas, apressados, a caminho de alguma aula, ou em direção ao banheiro, andando a passos largos para evitarem de serem abordados pelo diretor e precisarem mostrar a agenda, com uma permissão para sair da aula. Torço para que ninguém me note no canto, pois não tenho uma permissão. Não tenho nem sequer uma agenda, e definitivamente não tenho paciência para explicar o que estou fazendo fora da sala.

Bebo um gole do café que comprei com algumas moedas. O líquido desce frio pela minha garganta. A bebida já havia perdido o calor há algum tempo e apenas jazia no copo, grande o suficiente para abrigar uma quantidade de café capaz de abrir um buraco no estômago de qualquer um.

Meus joelhos balançam, posso sentir meu cabelo bagunçado e mesmo com os olhos fechados com força, sei que pareço estar tendo algum tipo de ataque. Porém, sou só eu tentando afastar Dave, mais uma vez. Ele não se mostra para mim agora, mas a sua presença é tão consistente quanto o piso lustrado no qual o meu pé bate de maneira compulsiva. Ele não fala, mas me mostra coisas, me faz pensar nelas e impede minha mente de se esquivar das sujeiras que cultiva e distorce. Desenterra desejos do mais profundo do meu subconsciente, os deforma e com eles me tortura.

Vejo Raphael na praia a todo momento, em diferentes flashes enevoados. Vejo-o tirando a roupa, os olhos das pessoas sobre o corpo dele e o ciúme me invade, ardendo no peito. Vejo-o beijando uma garota, não necessariamente Jannet Bennet, mas uma garota bonita qualquer que eu sei que ele gostaria de estar beijando. A ardência aumenta.

Tomo o resto do café em goles exagerados, quase me engasgando. Minha garganta dói e a sensação me ajuda a clarear um pouco as ideias, brevemente. Tento me lembrar da repulsa que sentia por Raphael há menos de uma hora atrás, do ódio que cresceu dentro de mim ao vê-lo como um pervertido cruel, de como aquela situação que ele havia me contado era doente e o quanto eu não queria pensar nela, mas é inútil. Dave tem o controle e logo mais imagens explodem atrás dos meus olhos.

Agora elas são ainda mais reais, nítidas. Não há nevoa, a pouca luz não importa. Vejo Raphael tirando a roupa novamente. Meus olhos percorrem seu corpo seminu, assim como o dos presentes na cena. Agora, apenas gosto do que vejo.

Sinto areia atrás da minha nuca, pinicando as minhas costas. Me dou conta de que estou deitado ao lado de uma caminhonete, sobre uma toalha de banho amassada e cheirando a álcool. Meus olhos vagueiam pela cena, incapazes de se manterem fixos em um só lugar. Sinto o toque de mãos quentes na minha barriga, subindo até o meu peito e então o rosto de Raphael entra no meu conturbado campo de visão.

Não pode ser.

Mordo a língua, com força suficiente para o gosto de sangue brotar na minha boca. A dor ajuda mais uma vez, e ao abrir os olhos, vejo o refeitório deserto que nunca havia parecido tão acolhedor quanto agora.

Um segundo depois, a presença de Dave se torna ainda mais forte. Sinto a respiração dele no meu rosto, seu peso no meu colo, me impedindo de levantar. Há garras na minha garganta e mesmo que eu não possa ver sua expressão, sinto que ele está se divertindo muito.

"Não..." Sussurro, num pedido inútil de misericórdia.

Quase posso ouvir os lábios dele se contraírem em um sorriso aberto. Não quero ver aquilo, não quero sentir. De repente, percebo que tenho mais nojo de mim do que de Raphael. Então, as imagens voltam com força total, apagando de vez a realidade ao meu redor e preenchendo a minha mente com os pensamentos de Dave, retirados das mais profundas camadas do meu ser.

O Sussurro do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora