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Capítulo 1


Xiao Zhan

Cidade sem noite — China

Dezoito anos depois

—  Um  leão  ou  um  vaso  de  flores? 

Não. Definitivamente é um coelho.

— O que você está resmungando aí?

Sinto  minhas  bochechas  esquentarem  enquanto olho na direção do garoto que acaba de falar comigo. Ele deve  ter  a  minha  idade,  dezesseis,  mas  parece  ser  bem mais velho.

Talvez  tenha  dezessete.  Papai  disse  que  todos  os ômegas  que  ganharam  bolsas  de  estudos  do  doutor Wen Rouhan têm por volta de dezesseis ou dezessete anos, apesar desse parecer uma adulto.

Ele  está  usando lápis de olho  e  é  bonito  como  um ator de cinema.

—  Você  não  sabe  falar?  Estou  escutando-o resmungar há alguns minutos.

— Sei sim. Eu sinto muito.

—  Então,  o  que  diabos  foi  aquilo  sobre  leões  e coelhos?

Dou de ombros, sem jeito.

— Eu estava observando as nuvens. Gosto de tentar adivinhar quais figuras elas formam.

— Meu Deus, você é tão infantil. Acha que tem cinco anos  de  idade  ainda?

Acabamos  de  chegar  a Yunmeng  e vamos finalmente poder viver. Estudar também, claro, mas principalmente conhecer novos lugares.

O garoto  é  estranho.  Quero  dizer,  está  falando  comigo como se já me conhecesse há muito tempo e sequer disse o próprio nome.

Decido contornar sua maneira rude.

—  Boa  tarde,  eu  sou  Xiao Zhan  —  Falo, oferecendo a mão para cumprimentá-lo.

Ele me olha por um tempo e enfim a aperta, mas é um  toque  leve,  quase  como  se  achasse  que  eu  tenho algum vírus que pode contaminá-lo.

— Zhu Zanjin. De qual cidade você é?

— Yiling

—  Está  explicado  esse  seu  jeito  bicho-do-mato.

Vamos rezar para que consiga ao menos interagir com as pessoas.  Quer  um  conselho,  Xiao Zhan?  Perca  esse  ar  de criança. Tenho certeza de que grandes oportunidades virão para nós nos próximos meses.

—  Certo.  —  Respondo  e  volto-me  para  a  janela, encerrando a conversa.

Não quero começar meu primeiro dia longe de casa arrumando  inimizade,  mas  esse  menino  não  sabe  nada sobre  mim,  deve  ter  pouco  mais  do  que  a  minha  idade  e, no entanto, fala como se fosse muito experiente.

Zanjin,  porém,  não  parece  disposto  a  se  dar  por vencido  e  cutucando  meu  braço  de  leve  com  seu  ombro, finaliza.

—  Não  se  preocupe.  Eu  o  ajudarei  a  ser  mais esperto.

Não  sei  se  entendo  muito  bem  o  que  ele  está dizendo.

— O que isso significa?

— Significa que ficarei de olho para que não se meta em encrenca.

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