002

1.5K 220 30
                                    

Capítulo 2

Xiao Zhan

Albânia — Europa

Dois dias depois

A mulher que me alimenta diz alguma coisa, mas eu não entendo sua língua. Eu sei falar inglês, além do mandarim.

Aprendi quando passei a ajudar nas tarefas na mansão dos Wens A esposa do doutor Rouhan, Wen Lingjiao, é professora de  inglês  e  todos  os  empregados  lá  precisavam  saber  inglês,  de modo que acabei tomando algumas lições por minha conta mesmo. Como sou muito curioso, passei a procurar vídeos aula, o que enriqueceu bastante o meu vocabulário.

Um turista americano que esteve uma vez em nossa ilha  disse  inclusive  que  a  minha  pronúncia  é  bem  clara.

Acho  que  eu  tenho  facilidade  para  idiomas.  Em  uma  das aulas  online  que  assisti,  um  professor  falou  que  algumas pessoas aprendem a língua “de ouvido” e talvez seja esse o  meu  caso.  Ainda  assim,  não  faço  ideia  de  qual  seja  o idioma dessa senhora.

Ela  coloca  o  prato  de  comida  e  a  água  na  minha frente  e  a  seguir  me  mostra  uma  toalha.  Acho  que  eu entendo. Ela quer que eu tome um banho.

◈𝅒 𝅓 𝅒 𝅓 𝅒 𝅓 𝅒 𝅓 𝅒 𝅓 𝅒 𝅓 ◈

Olho  para  a  refeição  que  trouxe.  A  aparência  é estranha  como  sempre,  mas  ao  contrário  dos  primeiros dias,  agora  eu  tenho  me  alimentado.  Zanjin  já  veio  me  ver mais  duas  vezes  e  disse  que  eu  preciso  me  manter  forte.

Ele  também  me  aconselhou  a  pensar  em  coisas  boas quando  estiver  triste.  Nos  lugares  que  conheceremos juntos quando sairmos daqui.

O  estranho  é  que  toda  vez  que  sinto  medo,  não  é mais  em  meus  pais  que  penso,  mas  nele.  Zanjin  passou  a ser a boia que me permite ficar com a cabeça fora da água.

De  madrugada,  quando  o  pânico  ameaça  me  engolir,  eu relembro  de  suas  palavras:   nós  vamos  sair  daqui,  mas precisamos antes, sobreviver.

—  Eu  vou  a  algum  lugar?  —  falo  com  ela  pela primeira  vez,  mesmo  achando  que  não  entenderá.  Tento manter  a  voz  calma  e  distante,  assim  como  Zanjin  me instruiu.

Na  verdade,  não  preciso  de  uma  resposta.  Eu  já sabia que alguém viria me buscar porque meu amigo me avisou.  Só  não  tínhamos  certeza  de   quando.  O  plano  de Zanjin era justamente esse: que eles nos levassem embora daqui, no entanto, para sairmos em definitivo, livres, eu vou precisar ser um bom ator.

Nossa única chance será se eu for  o escolhido, caso contrário, ambos estaremos em maus lençóis.

Ao invés de falar novamente, a mulher aponta para o banheiro.

Meu  coração  está  muito  acelerado.  Com  todo  o terror que passei esses últimos dias, ao menos eu estava sozinho, mas no momento em que atravessar aquela porta, nada  mais  será  garantido.  Zanjin  me  explicou  qual  deverá ser o nosso destino caso eu não seja selecionado como o companhia solicitado.


A mulher deixou um conjunto de calça cargo e uma camisa de botão em cima da cama. É bonito, o tecido macio, o que parece um absurdo. Eles me puseram  em  um  quarto  frio  e  me  alimentaram  muito  mal esses  últimos  dias  e  agora,  por  eu  ter  sido  pré-escolhido, ganho banho e roupa.

Amor e Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora