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Capítulo 19




Yibo



Horas depois



— Foram os albaneses que vieram atrás de nós nas montanhas?



—  Sim.  Capturamos  três  deles  e  mais  tarde  os… interrogaremos.  Talvez  se  continuarem  agindo  sem qualquer  planejamento,  tudo  o  que  precisamos  fazer  é sentar  e  esperar.  Eles  são  tão  estúpidos  que  morrerão sozinhos. — Leonid fala, em uma tentativa de piada.



Estamos reunidos há quase duas horas,

Organizando um contra-ataque.



—  Eles  não  terão  tempo.  Como  eu  disse  antes,  se não formos nós, acabarão nas mãos de Juan Angel ou dos Italianos.  Tanto  quanto  eu  gostaria  de  assisti-los  serem dizimados,  não  posso  deixar  para  lá.  Suas  ações  exigem uma  retaliação  ou  nos  tornaremos  um  alvo  para  todos aqueles que desejarem o que é nosso.



— O que você quer fazer? — Xue Yang pergunta.



—  Para  começar,  explodam  o  principal  armazém onde  eles  mantêm  as  mercadorias.  Foquem  na  cocaína que é mais valiosa. Se for possível, um dos laboratórios de sintetização  das  drogas  também.  Eles  precisam  entender que estou falando sério, mas além disso, temos que enviar um  recado  para  quem  estiver  pensando  em  atravessar  o nosso caminho.



—  O  armazém  em  troca  do  nosso  navio  e  o laboratório como bônus? — ZhuoCheng questiona.



—  Sim,  mas  não  pararemos  por  aí.  Eu  quero  a cabeça de todo o primeiro escalão. Não poupem ninguém, mas não matem Gjergj. Tragam-no para mim.



—  Isso  não  é  sobre  as  armas  somente,  é  pessoal. —  Cheng  pondera.



—  Não  acho  que  seja  uma  boa  coisa misturar  nossos  problemas  com  os  albaneses  com  seu desejo por vingança por causa do seu ômega.



Acredito que  ele  esteja  esperando  que  eu  o  desminta  sobre  sua referência  a Xiao Zhan,  mas  fico  em  silêncio. 



—  Você  está querendo fazê-lo pagar por tê-lo mantido prisioneiro. Pode acabar  intercruzando  caminhos  e  transformando  um simples acerto de contas em uma guerra.



—  E  qual  é  o  problema?  Não  seria  a  primeira  vez que mataríamos rivais. — Xue Yang se intromete.



—  Mantê-lo  é  estupidez.  —  ZhuoCheng  fala  novamente.



—  Nem  sabemos  se  podemos  confiar  nele,  para  início  de conversa.  Ao  que  me  consta,  ele  poderia  repassar  as informações  que  obtiver  aqui  para  qualquer  outra organização.  Temos  inimigos  em  tantas  frentes  que  não saberíamos nem de onde viria o ataque.



— Eu nunca atraiçoaria quem me ajudou. — Xiao Zhan diz  para  todos,  mas  depois  vem  até  onde  estou  e  se ajoelha. 

—  Mas  principalmente,  eu  não  trairia  sua confiança em mim.



Não  o  vimos  entrando  e  percebo  a  tensão  tomar conta dos outros homens.

Meu  primeiro  pensamento,  é  que  ele  não  combina conosco. Principalmente agora que trocou o moletom por um shorts  e uma camiseta de malha, parecendo mais doce e inocente do que nunca.



Todos  os  presentes  estão  cem  por  cento concentrados nele.



Estudo  o  rosto  perfeito,  tentando  afastar  o  quanto ele me afeta, analisando-o como faria a um inimigo. Ele me olha diretamente nos olhos, sem piscar, as mãos pousadas em  minhas  coxas  e  completamente  alheio  ao  resto  do grupo.

— Não vou pedir que acredite em mim. Também não sou  bom  em  confiar  nas  pessoas,  como  já  deve  ter percebido,  mas  darei  uma  prova  de  que  estou  falando  a verdade.



Ele tenta se levantar, mas eu não permito.



— Não quero me meter nos negócios de vocês, mas posso contar algo que talvez o interesse. — Continua.



Ainda  mantenho  o  rosto  impassível,  sem  deixar transparecer como estou acelerado com sua declaração.



— Como o que, por exemplo?



—  Eu entendo vários indiomas . Eu não tinha muito o que fazer quando estive preso lá,  então  estudava  um  pouco  de  tudo,  principalmente línguas.  Tenho  facilidade  com  idiomas.  E  em…   hum…

Guardar  informações.  —  Ele  pausa,  como  que  para  me permitir  absorver  a  revelação.



—  Eu  ouvia  conversas.  A rotatividade  naquela  casa  era  alta  e  acho  que  com  o tempo,  eles  esqueceram  que  eu  estava  lá.  Era  mais  um móvel a decorar os ambientes.



Não  há  qualquer  emoção  quando  diz  aquilo.  Como se  ser  tratado  como  um  objeto  não  o  afetasse,  mas  eu  o desvendo mais um pouco a cada dia e sei que há dor por baixo da indiferença.

E raiva. Muita raiva.



Sei o que é odiar em silêncio.



—  Muitos  homens  poderosos  frequentavam  a  casa de Guangshan e talvez dois deles sejam importantes para vocês.

Vou contar o que sei, mas preciso de algo em troca.



— Você não está em posição de negociar. — ZhuoCheng fala.



Ele olha para trás, o queixo erguido.



—  Não  estou  falando  com  você,  mas  com  seu Pakhan. —  Responde,  ousado  e  ao  mesmo  tempo  nos deixando saber que compreende quem somos.



Agora todos prestamos muita atenção nele.



Por mais que a ideia seja desagradável,Cheng tem razão.  Preciso  ter  certeza  se  posso  confiar  em Xiao Zhan, senão estaria arriscando não somente a minha vida, como comprometendo toda a Organização.



—  Você  me  diz  algo  que  sabe  e  depois  eu  escuto sobre o tal favor que deseja. Não prometo ajudá-lo quanto a isso, mas deixarei que me explique sobre seu pedido.

Ele ensaia se levantar novamente e dessa vez eu a deixo ir.



Há  poltronas  livres,  mas  isso  o  manteria  próxima  a pelo  menos  um  de  nós,  então  Xiao Zhan se  senta  no  chão,  mas em uma posição em que permite olhar todos.



—  Havia  dois alfas,um russo e um chinês  que  estiveram  na  casa algumas  vezes.  Pelo  que  pude  entender,  eles  eram  de Seattle,  mas  tinham  interesse  em  controlar  essa  costa  do país.  Falaram  em  dominar  os  Estados  Unidos…  além  de outras coisas…

Imediatamente,  gelo  se  espalha  no  ambiente.  Um silêncio denso atingindo o grupo.

Xiao Zhan mantém  os  joelhos  dobrados  junto  ao tronco, abraçando-os e me pergunto se está com medo.

Eu  não  estava  esperando  que  ele  dissesse  aquilo.



Mesmo que tenhamos descoberto um vazamento entre os nossos,  achei  que  me  passaria  informações  sobre  as armas ou outras negociações.



— Você pode nos dar nomes? — Leonid pergunta.



Ele  balança  a  cabeça  de  um  lado  para  o  outro, negando,  olhando  diretamente  para  mim.  Desde  que entrou,  não  desviou  os  olhos.  É  como  se  me  mostrasse que não está mais escondendo nada.

— Não, mas posso descrevê-los. Um deles, o mais velho,  tem  uma  barriga  avantajada,  apesar  de  não  ser gordo. Sempre estava de terno e parecia alguém poderoso.

Ele  me  causava  arrepios.  —  Revela.  Não  sei  se  percebe que  está  baixando  as  defesas,  admitindo  seus  medos.



— Havia também um outro homem.  Esse segundo tinha uma marca de nascença rosada na lateral da testa, em formato de um mapa. Nunca se referiram ao homem mais velho por outro nome que não fosse  Chefe, mas esse mais novo eles chamavam de  Piloto.



ZhuoCheng  se  levanta,  mas  eu  o  paro  com  um  gesto.

Não há qualquer dúvida de que ele está falando a verdade.

Piloto  é a alcunha de Dima Abramov, um ladrão de carros que  ganhou  fama  quando  adolescente  por  precisar  de menos  de  dois  minutos  para  conseguir  roubar  qualquer automóvel.  E  o  homem  mais  velho  de  quem  ele  falou  só pode  ser  seu  chefe,  Oleg  Chaban,  o  atual  conselheiro russo do Pakhan.



—  Puta  que  o  pariu!  —  Xue Yang  berra,  mas  ele  nem pisca, ainda me encarando.



—  E  o  que  eles  foram  fazer  lá?  —  Pergunto,  sem mostrar o quanto me abalou sua revelação.



—  Não  direi  mais  nada  até  que  me  dê  sua  palavra de que ouvirá o que tenho a dizer sobre um ômega.



Ergo  uma  sobrancelha.  Ele  não  para  de  me surpreender. Achei que o favor envolveria a si próprio ou a Zanjin.



— Você a tem. — Concedo.



—  Há  um  homem,  um  colombiano   chamado Gerónimo Pérez. — Ele começa. Claro que eu sei quem é o bastardo, mas não demonstro qualquer reconhecimento.



—  Ele  tem  um  acordo  com  os  albaneses.  Na  verdade, tinha,  porque  da  última  conversa  que  ouvi,  não  conseguiu cumprir o combinado. Guangshan havia pedido como garantia o enteado chinês  desse  homem.  Não  sei  muito  sobre  o  garoto, apenas  que  seu  nome  é  Guo Cheng.    Ele  balança  o  corpo para frente e para trás, aumentando o aperto em torno das próprias pernas. Mostrando tanta vulnerabilidade que sinto vontade de expulsar os outros homens e lhe jurar que não precisa mais ter medo.



— Mas eu sei o que eles planejam

Fazer  com  ele.  Guangshan  disse  ao  padrasto  que  o  devolveria assim que o que o homem lhe deve fosse pago, mas isso não acontecerá. Eles pretendem vendê-lo.

—  Continue.  O  que  você  está  exatamente  me pedindo?



— Deixe-me avisá-lo ou então mande que alguém o faça. Ele precisa se esconder.



—  Vou  considerar  tudo  o  que  me  contou  e  tomar uma decisão.



— O ômega não tem muito tempo. Um aviso. É tudo o que estou pedindo, Yibo.

Assim, ele ao menos terá uma chance.  Saberá  o  que  está  vindo  em  seu  caminho,  ao contrário de mim.



Ninguém mais fala, mas conhecendo meus homens, sei  que  todos  pensam  a  mesma  coisa.  Guangshan  precisa morrer. Não porque acreditemos que não existam centenas iguais  a  ele  pelo  mundo,  mas  porque  o  bastardo  está ficando fora de controle.



—  Analisarei  seu  pedido.  Agora,  você  precisa  me contar tudo o que sabe sobre os chineses que viu em Nova Iorque.



— Tudo bem.



(....)

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