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Capítulo 45


Xiao Zhan


Semanas depois

—  Filho, estou tão nervosa com essa viagem!

— Não fique, mamãe. Dará tudo certo.

Nossas  últimas  conversas  têm  sempre  começado assim, mas eu desconfio que por trás de sua ansiedade, há também  uma  ponta  de  excitação  porque  volta  e  meia  ela me pergunta como é a vida aqui nos Estados Unidos.

Eu  não  quero  deixá-la  triste  recordando-a  de  que  a maior parte do tempo que passei no país foi sem ver a luz do sol, então tento disfarçar e fugir das perguntas.

Sei  que  ela  não  faz  por  mal.  Talvez  dentro  de  sua cabeça,  tenha  blindado  a  memória  de  que  eu  não  estava estudando e sim, preso.

Eu  e  meu  pai  já  conseguimos  conversar  com  mais naturalidade  e  aos  poucos,  ele  voltou  a  ser  o  homem  do qual  eu  me  lembrava:  um  tanto  severo,  sempre  querendo saber de cada detalhe da minha vida.

Acabei  revelando  à  mamãe  sobre  o  noivado  e  dias depois,  a  gravidez,  através  de  uma  chamada  de  vídeo.  A documentação  estava  demorando  mais  tempo  do  que  o esperado para ser concluída e comecei a ficar ansioso por estar escondendo algo tão importante.

Ficaram surpresos, mas não chocados.

Yibo tem se esforçado para interagir com eles, mas acho  que  mesmo  que  não  fosse  quem  é,  sua  natureza  é reservada. Ele não fica confortável tornando-se íntimo das pessoas. As únicas exceções somos eu e seus homens de confiança, que considera como família.

Falando em família, o avô dele adiou a viagem para os Estados Unidos. Não sei por que, mas algo me diz que quer chegar de surpresa.

—   Não  consigo  não  ficar  nervoso.   —  Mamãe  me puxa  de  volta  à  conversa.  —   Nunca  andei  em  um  avião antes. Não é perigoso?

—  Não,  mamãe.  Avião  é  o  segundo  meio  de transporte  mais  seguro  que  existe.  Só  perde  para  o elevador.  E  vocês  viajarão  no  jatinho  de  Yibo.  Pode  ter certeza  de  que  ele  garantirá  que  o  aparelho  seja inspecionado mais de uma vez.

—  Seu noivo está fazendo muito por nós. Seu pai  fica constrangido em aceitar tanta generosidade sem ter como retribuir de alguma maneira.

—  Yibo  não  espera  nada  em  troca,  mãe.  Ele  quer que eu seja feliz e ver vocês me fará feliz. Estou com muita saudade.

—   Falta  pouco  agora,  meu  amor.   —  Diz,  não  pela primeira vez.

A perspectiva de ser mamã em breve, fez desaparecer qualquer  resquício  de  mágoa  que  ainda  restasse  pela decisão equivocada do meu pai de me mandar para longe.

A  cada  telefonema,  compreendo  o  quanto  sofreram também  e  me  colocando  em  seus  lugares,  eu  ficaria desesperado  se  um  filho  meu  desaparecesse.  Só  pensar nisso  já  faz  com  que  minha  mão  pouse  automaticamente sobre o abdômen.

Meus  pais  virão  por  um  período  de  dois  meses  e Yibo me disse ontem que nosso casamento acontecerá em no máximo daqui a trinta dias.

Temi  que  ficassem  aborrecidos  com  um  casamento logo após sua chegada, mas depois que soube que estou grávido, meu pai falou que não devíamos esperar.

Claro que para todos nós, são muitas mudanças de uma vez. Não só o reencontro, mas também com relação à vida simples que meus pais levaram até hoje.

Acho que será a primeira vez em que ambos darão uma  pausa  no  trabalho.  No  universo  da  nossa  ilha,  a palavra  férias nunca existiu.

—  Você está feliz?  — Ela pergunta isso sempre que estamos prestes a desligar.

—  Muito,  mamãe.  E  tudo  ficará  perfeito  quando vocês chegarem.

Depois que encerramos, penso em Zanjin.

Conseguimos  uma  maneira  de  nos  comunicar através  de  um  e-mail  que,  Yibo  me  deu  sua  palavra,  não rastrearia.  Não  será  assim  para  sempre,  somente  até Haiukan desistir  de  procurá-lo.  Ele  esteve  aqui  uma  única vez desde que ele partiu, mas não fez perguntas. Acho que é  tão  orgulhoso  quanto  o  meu  homem,  embora  não  me engane. Não duvido que ele esteja em seu rastro.

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Zanjin  está  morando  na  Califórnia  e,  ao  menos  na superfície,  parece  mais  sereno.  Ao  contrário  do  que  havia planejado,  se  matriculou  em  um  curso  de  segundo  grau para adultos. As aulas são à noite e na parte da manhã ela trabalha em uma  pet shop. Torço para que um dia possa realinhar sua mente o bastante e consiga vir para perto de mim.

De qualquer modo, seu visto de estudante não será eterno, então mais cedo ou mais tarde, ele terá que tomar uma decisão.

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Seis dias depois

— Estou morrendo de fome. Você demorou.

— Deus, Zhan, atrasei poucos minutos.

Apesar  do  que  diz,  ele  está  sorrindo.  Yibo  ama satisfazer  meus  desejos  e  hoje,  particularmente,  estou louco por uma pizza.

— Fale isso para o bebê. Esqueceu que agora tenho companhia em minha gula?

— Como posso esquecer da razão da minha vida?

—  Não  diga  coisas  assim.  Sabe  como  tudo  me  faz chorar ultimamente.

Estou  muito  chato.  Nunca  fui  emotivo,  mas  agora, choro com tudo.

Quando  mamãe  me  disse  ontem  ao  telefone  que finalmente  chegariam  aos  Estados  Unidos  essa  semana, chorei de soluçar.

Zanjin  manda  um  e-mail  e  choro  de  saudade  por quase uma hora.

—  Se  me  ouvir  dizer  que  sou  louco  por  você  o  faz chorar, devo estar perdendo o jeito então.

—  Não  seja  bobo.  Fico  emocionado  porque  penso que  se  as  coisas  fossem  diferentes,  eu  nunca  teria experimentado  a  felicidade. 

Escondo  o  rosto  em  seu peito enquanto falo. Acho que nunca será fácil me abrir.

— Ser um esposo, me tornar mamã e daqui a alguns anos, se Deus  quiser,  ter  uma  profissão,  é  como  transformar  todos os meus sonhos em realidade.

—  Mas  você  conseguiu  e  esse  é  só  o  começo  das nossas  vidas,  então  não  pense  no  que  poderia  ter  sido diferente. Acabou,  baby. Você está aqui comigo. Protegido.

(...)

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