Um lar para quatro

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2023

          — Natasha... Seja boazinha, ok? Lembre-se que elas acabaram de ficar órfãs e que a avó delas está desaparecida. — Lana parecia um disco arranhado repetindo isso sem parar desde o dia anterior.

         — Como se eu fosse uma bruxa má. — Revirei os olhos ajeitando a bolsa preta no ombro — Sei ser boa, mas isso vai implicar uma grande mudança e eu odeio mudanças.

          Lana negou com a cabeça e viajei em meus próprios pensamentos. Eu tinha me preparado muito na última semana lendo artigos sobre luto e educação positiva e comprando coisas que para deixarem elas mais confortáveis. Tentei não pensar nada em nada do passado, eu podia controlar meus sentimentos, eu era adulta e minha família precisava de mim.

            Vi as meninas na escada rolante. Elas estavam acompanhadas da assistente social e vestiam preto, o que o abrigo fizera com elas? Os olhos fundos e os cabelos presos sem esmero algum.

           — Meninas, essas são Natasha e Lana, as tias-avós maternas de vocês. Vocês vão ficar com elas, mas farei algumas visitas para ver se estão se saindo bem.

          —  E se a vovó aparecer ? — Christina, a mais velha, parecia cansada e apreenssiva.

         — Ela terá prioridade na guarda de vocês. A outra opção seria você fazer 18 anos.  — Respondeu a assistente social com suavidade.

         Ela assentiu.

         Pelo o que Lana me contara, Christina tinha 17 anos e só chegaria a maioridade no ano seguinte, então, ela teria pelo menos um ano com as parentes que mal conhecia.

          Lana e eu optamos por deixar as meninas se aproximarem ao seu tempo. É como quando um gatinho é adotado e passa horas dentro da caixa de transporte, pessoas que tem gatos dizem que é melhor esperar eles se acostumarem do que forçar sua entrada no novo ambiente.

          Pois é, duas mulheres solteironas com pouca experiência com crianças estavam baseando o conforto de suas novas pupilas com o conforto de gatinhos.

          Mas, devo admitir, as meninas pareciam mesmo filhotinhos assustados.

          Lana e eu observamos quando Christina colocou Marrie no chão e segurou sua delicada mãozinha. Marrie tinha 4 anos, era óbvia a sua confusão com toda essa mudança, mas ela estava protegida por sua inocência.

          Quando a mulher nos deixou a sós, Lana fez o que sempre fazia quando via crianças: Mima-las e fazê-las sorrir. Coisa que era 1000 vezes mais complicado para mim.

         — É um prazer conhecer vocês, meu nome é Lana. Que tal um sorvete? — Ouvi gritinhos de alegria da menor que começou a contar suas histórias infantis a minha irmã. A mais velha me olhou com se me analisasse.

        — Isso quer dizer que eu vou ficar grisalha mais cedo? — Perguntou olhando para meu cabelo. 

        — Muito provavelmente.  

         — Credo — Disse sem expressão alguma para em seguida acrescentar — Você é uma bailarina? 

         — Ah, — Fiz meio surpresa — Ex-bailarina, como sabe disso?

        — Sua postura ainda é perfeita. — Explicou colocando a mecha rebelde de seu cabelo atrás da orelha.

        — Gosta de balé?

       Sua cabeça balançou positivamente de maneira lenta. Tinha olhos vazios.

          — Vamos ter muito o que conversar. — Recebi um aceno leve de sua cabeça e andamos para alcançar Lana e a garotinha mais nova.

Sob o céu estrelado (Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora