Dollhouse

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1988

                 Angelique não precisava de esforços para ser perfeita. Logo na primeira semana, ela arrancou um sorriso de Miss Adrienne e na segunda, toda a turma já gostava dela. Admito que talvez ela tenha ficado famosa entre os estudantes por ser mais acessível que eu. Meus sorrisos eram raros e nunca fui conhecida por ser comunicativa. Não... Minha mágica era com as sapatilhas de ponta e movimentos perfeitamente calculados.

                      — Não precisa ficar com inveja, eles ainda te admiram. — Me virei para encontrar minha irmã mais nova esticada preguiçosamente em um dos pequenos sofás nas coxias do teatro.

                     No auge de seus 16 anos, Lana era o tipo de garota que lidava com as preocupações não pensando nelas. Era seu primeiro do ensino médio e, diferente de mim, Lana não se esforçou nenhum pouco para ser o centro das atenções como qualquer Aubert era em alguma instituição educacional.

                    — Não estou com inveja, tenho 20 anos caso tenha esquecido. — Um pigarro leve abandonou minha garganta — O que está fazendo aqui?

                     — Amélie rasgou a meia calça e foi buscar outra com a estilista. Nem te conto, lá tem vários figurinos que você já usou, acho que é o lugar mais lindo deste teatro. — Lana contava com uma felicidade inumana, seu tutu acompanhou os movimentos e os pulinhos de felicidade.

                    — Quem é Amélie? — Finalmente deixei de encarar Angelique e seus novos fãs barulhentos.

                    — É a irmã mais nova de Angelique, ela tá na minha equipe, mas a chegada da irmã meio que ofuscou a presença dela. Não que ela se importe, é tipo a gente, sabe? Eu realmente não ligo que você seja melhor.

                    Era verdade, Lana não se importava com a atenção especial de nossos pais para mim, desde que pudesse comprar livros e revistas de moda.

                    — Argh! Não me compare com ela, eu, definitivamente, sou melhor. Ao menos eu não fico soltando suspiros por aí e se aproveitando dos alunos bobos que pensam que eu sou uma celebridade! — Esbocei minha raiva numa careta enquanto mirava seus olhos calmos.

                   Eu não tinha problemas com Angelique estar sendo paparicada, o que me incomodava era que ela parecia gostar da nova atenção e de aparecer. Vovó sempre dizia que a melhor coisa que uma bailarina tem é sua modéstia.

                    — Vai ter que melhorar muito esse discurso se quiser que as pessoas achem que você está de boa com a chegada dela. Quem não te conhece vai dizer que você está com inve...

                   — Tá, Tá, já entendi.  — Fechei a cara e ouvi Lana rir.

***

                     Quando chegamos em casa o sol estava terminando de se pôr. Mamãe estava na cozinha, como sempre, enquanto papai estava na cadeira de sempre lendo o exemplar do dia do Notices from NY e mamãe estava na cozinha como sempre. 

                   Era quarta feira, dia em que mamãe ia ao mercado e trazia tudo quanto é comida saudável ou shake novo para nos ajudar no treinamento de bailarina, ela não tolerava doces nem carboidratos.

                     Eu sempre me perguntava como era possível que mamãe e papai fossem um casal, eles não eram o que eu pensava sobre casais. Não que eu soubesse sobre o comportamento de um casal, mas eles eram casados e, segundo o dicionário, o casamento acontecia quando duas pesssoas decidiam compartilhar o resto da vida juntos, eles deveriam se amar, não é ?  

Sob o céu estrelado (Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora