Remember?

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2024

Angelique Hernández


              — Podemos começar? — Questionou Dante enquanto mexia no gravador.

              Me remexi na cadeira tentando esconder como estava nervosa por lembrar disso. Era estranho pensar que meu enteado, o qual me chamava de mãe mesmo não tendo uma gota de sangue da família Hernández, fosse tão parecido comigo. Dante, no auge de seus 21 anos, era curioso, obstinado e não desistia até conseguir o que queria.

              Contudo, a maior parte do nervosismo era porque era estranho revisitar um passado, ainda mais um que eu não pensava a tanto tempo, ao menos não completamente.

              Soltei o ar que não sabia que estava segurando. Parece que toda a minha rebeldia e vontade de lutar contra o mundo havia simplesmente sido transferida a Dante. Se fosse isso, nem tudo estava perdido. 

              — Mãe... Está tudo bem? — Olhei para Dante, seus olhos suaves aquecendo meu coração repleto de traumas cravados nas paredes frias da mansão que vivíamos. 

              Ele tocou minha mão e só então percebi que tremia. 

              — Me desculpa, se não quiser falar... Eu posso ficar entrevistando somente a Senhorita Aubert... — Continuou. 

             Aubert. Dante ia frequentemente à casa Aubert para entrevistar a mulher que eu amo sobre o incêndio que acabou com muito mais do que a escola que frequentávamos ou a minha carreira. Acabou com o que eu e ela tínhamos. 

             — Eu... Eu quero falar...  — Me esforcei para escapar da lembranças que reascendiam minha mente como fogo. — Me conte como são as entrevistas com Miss Aubert, só para que eu tenha uma ideia de como agir, e me diga o que exatamente quer saber. 

             Assim eu ganharia tempo para me recompor. Dante chegou a perguntar se eu gostaria de ir á cafeteria temática de balé que tinha perto da Academy of the Stars, mas eu neguei, odiava ser vista em público. Sempre que ele voltava da faculdade passava lá, trazia o item "Angelique Hernández" um dos mais pedidos do cardápio onde todos os pratos eram nomes de bailarinas importantes, o meu consistia numa poção de Macarrons, cada um de um sabor formando um arco-íris. 

             Mas meu favorito era o "Natasha Aubert", uma xícara enorme de chocolate quente com chantilly, acompanhada de alguns biscoitos amanteigados. 

              Barrei o pensamento novamente, pensar sobre Natasha era um caminho sem volta, uma vez que o nome me vinha a mente, eu sabia que passaria horas e horas recordando o passado. Não que eu precisasse de muito esforço, afinal, eu tinha de vê-la todos os dias, até chegamos a trabalhar juntas no fim do ano passado, Natasha não mudara... E eu sentia como se estivessemos nos conhecendo pela terceira vez.

             Quando cheguei ao Golden Talents, já conhecia a reputação da filha de Diana Aubert, mas nunca me deixei intimidar, Natasha era intrigante, misteriosa e reservada e eu, adorava um desafio.

               — Bom, é simples, — A voz de Dante capturou minha atenção de volta para ele — só precisa me contar como era a dinâmica lá, o documentário vai servir para desmentir várias notícias que os jornais apresentaram naquela época, tanto no caso da tragédia quanto nas coisas que aconteciam lá dentro. Por exemplo, a senhorita Lana Theréze Aubert-Lawrence disse que sua tutora, Miss Adrienne, era uma mulher que favorecia o filho, mas que desfavorecia quem não se encaixava nos padrões de "Diamantes", mas, em alguns jornais, é dito que foi ela quem deu a ideia das bolsas para estrangeiros como você e o senhor Elias O'brian, que afirmou que a tutora de mesmo nome sequer lhe deixava fazer papéis de protagonistas. — Dante leu as anotações no caderno. 

Sob o céu estrelado (Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora