1989
Mãos grossas e invasivas prendiam minha cintura, e eram tão pesadas que pareciam correntes de ferro maciço.
Gritei. Mas nenhum som saiu. Minha língua havia sido cortada...
Grandes olhos, uma grande língua e palavras que somente eu poderia ouvir mas nunca ousaria repetir.
Estava escuro e ninguém veio me salvar...
A dor atingiu forte minhas costas quando acordei. Eu havia caído da cama de novo, isso vinha acontecendo com frequência desde o início das férias.
Olhei para minhas irmãs, eu odiava incomodar, mas suspirei aliviada que as duas estavam num sono profundo. Que inveja.
Virei o rosto para a janela ao lado de minha cama buscando calma na rua vazia. Minhas mãos estavam tremendo porque eu estava exausta mas não conseguia dormir por conta dos pesadelos.
Me encolhi o máximo que podia desejando ficar menor até desaparecer. Eu não entendia porque o avanço de Owen me deixara aterrorizada e estava me fazendo ter esses pesadelos, mas o sentimento era de que eu estava suja porque seus olhos haviam me alcançado.
Minha mente iria acabar me matando porque eu não parava de me perguntar o que eu tinha feito de errado para que ele fizesse aquilo... Será que ele ficaria quieto se eu não tivesse dito nada?
Abri o armário que eu e minhas irmãs dividíamos e fui até o lado de Jenny. Duas semanas atrás, eu havia descoberto um fundo falso e disse a ela que não contaria a mamãe se ela me deixasse usar também, Jenny concordou se eu prometesse que não mexeria nas coisas dela e eu cumpri minha palavra.
Com delicadeza, contrabandeei a pequena caixa de presente para fora e tirei os doces dali, eu só precisava de um tempo e de açúcar.
Deixei o quarto para ver Josh no banheiro do corredor. Ele tinha apanhado de novo e olhou o rosto no espelho da pia enquanto usava papel higiênico para estancar o sangue.
— Você está bem? — Tanto Josh quanto eu nos assustamos com o eco de minha voz na grande casa silenciosa.
Meu irmão jogou o papel fora como se eu fosse delicada demais para ver sangue, pensei nos meus pés, que sangravam nos dias que eu mais me esforçava nas sequências de balé.
— Foi o papai de novo? — Perguntei antes que pudesse me conter.
Josh me olhou. Os olhos arregalados de medo guardavam um segredo tão cruel quanto o meu.
— Por que está acordada a essa hora? — Finalmente devolveu.
— Não estou cansada. — Que inferno... Éramos excelentes mentirosos. — Deixa eu ajudar.
Senti as balas de menta se desfazerem e minha língua causando o efeito desejado de calmaria. Josh não respondeu e sentamos no sofá em silêncio. Eu, com a alma ferida, ele, com a carne sangrando.
— Por que papai faz isso? Você tem se esforçado muito, até arrumou um trabalho nesse verão, quase não te vejo mais...
— Porque eu sou diferente, Natasha.
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Sob o céu estrelado (Sáfico)
Romance7 de novembro de 1989. Um incêndio, duas moças apaixonadas, milhares de segredos e palavras não ditas e milhões de segredos enterrados nos destroços de uma instituição de balé. Ser o retrato da perfeição nunca foi fácil, mas Natasha Aubert sempre al...