1988
As coisas estavam ficando feias a cada dia enquanto eu e Angelique nos enfrentávamos, mesmo que a diversas bailarinas ainda me chamassem de invejosa, grande parte dos alunos estavam gostando da competitividade que crescia entre nós.
Na segunda feira, quando a aula acabou, fui trocar a sapatilha de ponta pelo tênis que usava para voltar para casa e pisei em algo grudento. Mel. Que ódio... Angelique sorriu vitoriosa o que fez as outras bailarinas olharem para nós interessadas nessa briguinha.
Ok... Acho que ela estava pedindo...
Os Aubert eram vingativos, de forma que ainda me perguntava como mamãe era amiga de Madame Adrienne. Nós brigávamos pela vitória, vovó contara que uma vez havia colocado tachinhas na sapatilha de sua rival e mamãe disse que rasgou o figurino da sua oponente na época, mas elas nunca foram pegas.
"Faça tudo para ganhar, ninguém é melhor que você. Mas, lembre-se, nunca seja pega as pessoas sempre simpatizam com as vítimas e nós não queremos isso."
Ninguém nunca descobrira suas façanhas, talvez seja por isso que nossa reputação não foi para a lama. Mesmo assim eu nunca me senti especial, afinal, era só eu errar que toda a família me acusava de destruir tudo.
Na terça feira, joguei água sanitária no collant de Angelique o que a fez se atrasar para a aula, mas ela surpreendeu quando entrou na sala de aula com a cabeça erguida e o collant com a mancha branca que parecia elegante somada a sua confiança.
Na quarta feira, ela colocou café solúvel no meu shampoo enquanto eu tomava banho após a aula, Lana teve de me emprestar o dela, mas o cheiro não saiu de jeito nenhum. Foi a primeira e última vez que tomei banho naquela ducha.
Na quinta feira, decidi pegar pesado quando troquei sua sapatilha direita por uma nova que não estava moldada a seus pés. Aquilo a fez cair durante a apresentação e lhe rendeu uma pequena dívida no ateliê da escola.
Enquanto esboçei um sorriso vitorioso, senti uma mãos e fechando em meu pulso. Lana.
— Chega. — Os olhos de minha irmã emanavam fúria e, pelo canto do olho, vi que Amelie também parecia zangada com Angelique.
***
— Você passou dos limites! — Acusou Lana enquanto eu experimentava os pares de sapatilhas para fazer o melhor na noite do espetaculo e tentava me acostumar com a sapatilha escolhida, era mais um dos exageros de mamãe, aquela só havia sido usada duas vezes, essa era a terceira.
— Não fiz nada que ela não tenha feito comigo. — Treino piruetas.
— Você só pode estar brincando, Natasha! Tapacear não é algo que você faz! — Lana cerra os punhos.
— Não fui eu quem começei está bem? — Revido.
— Gente, o que está acontecendo? Dá para ouvir vocês lá de baixo sabia? — Jenny entrou no quarto com aquele estilo de garota livre que fez meu interior se revirar de inveja.
— A mamãe e o papai não estão em casa?
— Eles devem ter saído, sabe como é, mas eu quero saber o que está acontecendo. — Jenny cruzou os braços.
— Natasha está virando uma trapaceira, igual nossa mãe e nossa avó foram. Estou tentnado mostrar a ela o quanto isso é errado mas ela é uma cabeça dura. — Lana acusou.
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Sob o céu estrelado (Sáfico)
Romance7 de novembro de 1989. Um incêndio, duas moças apaixonadas, milhares de segredos e palavras não ditas e milhões de segredos enterrados nos destroços de uma instituição de balé. Ser o retrato da perfeição nunca foi fácil, mas Natasha Aubert sempre al...