O universo manda sinais

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                                                                                       2023

      2 meses depois 

               2 meses sem Jenny. Minha irmã sempre dizia que odiava funerais por conta da quantidade de lágrimas derramada por alguém que sequer podia vê-las, mas Jenny abriu um buraco horrível no que restava da nossa pequena família.

               A morte as vezes era como o que eu entendia de amor: Dor e saudade. Não sei ao certo quando conseguimos seguir novamente, só sei que um dia, passei a planejar aulas como uma pessoa normal e não fazer milhares de relatórios sobre recitais que jamais viriam a existir, Josh voltou para o consultório e atendeu crianças que precisavam de terapia, Lana foi a cidade vizinha comprar novos materiais para figurinos e sapatilhas  e Christina voltou a frequentar a faculdade e o balé. 

               O diário de Jenny ficou lá, intocado, eu ainda não tinha coragem de lê-lo. Toda vez que eu me aproximava, lembrava que Jenny não estava entre nós, eu nunca mais ouviria minha irmã rir, contar algo incrível ou dar conselhos. Jenny era empoderada, ela tinha ideias que eu ainda não me permitia ter ou pensar devido a nossa criação...

                 Se eu tinha um consolo, era conviver com minhas alunas e minha estagiária. Eu havia aprendido algumas coisas na língua de sinais. Claro, não cheguei aos pés de Lúcia, a intérprete, mas foi divertido ver minha aluna e minha estagiária felizes quando lhes dei "Oi" em libras, por exemplo. 

                 — Ela disse "até logo". — Traduziu Vênus, quando Odette sinalizou para mim.

                 Levei um choque quando descobri que Vênus, minha aluna de 10 anos que estava na turma de alunos de 17 aos 21, e Odette, minha estagiária, eram irmãs. Isso era ótimo, as vezes Lúcia não dava conta de traduzir para mim o que ambas sinalizavam, então Vênus tomava aquele papel. 

                  Alguém paga um salário pra essa menina. Eu sempre pensei, tinha algo que essa garota não conseguia fazer? 

                   Contudo, a experiência mais louca que eu já tive foi entrar na sala dos professores pela primeira vez após 20 anos trabalhando naquela escola. 

                    Aquela sala era grande, como toda a escola, mas fiquei impressionada em como cabia cerca de 30 pessoas ali dentro. 

                      Como em toda a escola, as paredes eram pintadas de branco ou com papel de parede de flores em tons pastéis que faziam contraste com as pinturas de bailarinas, em cada mesa da sala, tinha um jarro com rosas e máquinas de café automáticas. Escolhi uma poltrona solitária para sentar quando vi que Lana estava mais próxima dos professores conversando com... Angelique.

                    Minha irmã me viu e acenou para mim, respondi com um aceno de cabeça e, só para não acharem que eu estava vigiando,  fui até a máquina pedir um expresso sem açúcar. 

                    Lana se aproximou de mim sem que eu precisasse dizer nada. Vi que Angelique parecia a vontade com os outros professores da sala. 

                    — O que faz aqui, Lana? — Minha irmã tinha uma sala só para ela, afinal, ela era a figurinista da academia. Só recebia ajudantes quando tínhamos um espetáculo, por isso, era surpreendente vê-la ali, embora ela se saísse melhor do que eu socialmente. 

                  — A senhora Danse pediu que nos reuníssemos aqui. 

                  Dei um gole no café. 

Sob o céu estrelado (Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora