Furacão interior

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A porta se abre e todos olham em sua direção ao mesmo tempo. Present Mic era o professor em aula, que interrompia sua matéria para recebê-la com um sorriso.

— My favorite student decided to join us! — (minha aluna favorita resolveu se juntar a nós) Ele brinca. — Pode se sentar, Sae, estamos falando sobre Passive Voice. Gostaria de nos dar um exemplo?

— Hm... — Ela pensa com preguiça, não demorando muito para achar uma resposta. — Não, obrigada. — Dizia, com um olhar fundo que mandava manter distância.

Caminhava para sua cadeira sem mais interrupções, sentindo a queimação de estar sendo observada de perto. Jogava seus pertences sobre a mesa e sentava-se com um livro em mãos, de capa estrangeira, estilo moderno.

— Ei, onde você tava? — Shinso sussurra ao vê-la descansar. Ficou preocupado esse tempo todo, o coitado.

— Um professor me chamou, tive que ir... vê se presta atenção na aula, Hitoshi. — A loira da uma bronca no menino, abrindo o livro grosso em uma página marcada.

Os dois ficavam quietos.

De canto de olho, era possível ver a garota se frustrando, claramente desligada das palavras nas folhas de papel. Assistia a esquentadinha surtando com os dedos entrelaçados no cabelo e lápis batendo desagradavelmente sobre a bancada, chegava a ser cansativo.

Nada nunca parecia produtivo perto dela, mas hoje temia pela morte se atrapalhasse seu momento de introspecção. Talvez Shinso nunca tenha sido capaz de fazer tantas anotações de biologia, ou resumir tantas palavras sobre história da arte, porém, não há folhas de caderno que sobreviveram ao seu empenho naquele dia. Era meio triste ficar completamente sozinho em aula mais uma vez.

O sinal toca às 15:30, logo depois de um último encontro com o professor-coordenador na sala da turma c. Ali Shinso ficou, até o espaço estar quase vazio. De longe, como se preparasse o campo para uma batalha, tentou respirar fundo antes de tomar coragem.

— Tá brava comigo? — Questiona a menina, que encarava a janela sem se mover, perdida em pensamentos.

— Que? — Ela rosnou. Seu rosto era desentendido, igual ao de alguém que pouco saberia do que ele estava dizendo, quem ela realmente era naquele instante.

— Pelo que eu disse no almoço... — O menino se explica, coçando a cabeça. — Desculpa se e-

— Cala a boca, Hitoshi. — Sae murmura o interrompendo, guardando o material com um pouco mais de agressividade. — Pouco me importo com o que você acha da minha aparência, valeu? — Fecha a bolsa, quase arrancando o zíper. — Eu sei que estou cansada e sei que todo mundo nota, então cala a boca.

Enfurecida se afastava, batendo o quadril na quina de uma mesa. Puxava fones de ouvido sem medo de quebrar, dando play na música com uma polegada firme. Quase dava para escutar o indie rock tocando em sua cabeça, sentindo a curtição furiosa dos seus passos até chegar ao corredor. Mas o menino a segue.

Seguro em seu aperto, fazia Sae o olhar nos olhos para prestar atenção, pois sabia que sua esquiva nunca aconteceria se estivesse tudo bem mesmo, e assim teria certeza de que ela o escutaria.

— Se não fui eu, o que está acontecendo? — Pergunta sério, com as sobrancelhas juntas em confusão.

— Larga do meu pé, Hitoshi! — Ele é empurrado para longe, não o suficiente para o impedir de prosseguir com sua tentativa de ajudar.

— Para de me chamar assim.

— Ah! VOCÊ SÓ ENCHE O SACO!— Ela grita de uma vez por todas. Respirando fundo, de olhos colados ao chão, sua calma bate de maneira veloz.

Hero's Legacy - Boku No HeroOnde histórias criam vida. Descubra agora