A memoria de um vendaval

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Era uma noite fria em Tóquio, com chances de neve durante a madrugada. O mundo parecia fantástico nessa hora proibida para se estar de pé, mas nada nunca fez tanto sentido quanto seus picos de energia, que mantinham-na acordada desde as 16h daquele mesmo dia. Timidamente, sua curiosidade mandava arriscar tocar a ponta dos dedos no corrimão de ferro da saida de seu prédio, mas logo se arrependia, com a sensação congelante que arrepiava a espinha.

— Vem, meu amorzinho, é hora de irmos. — Uma voz doce lhe chamava, bem distante de onde esperava. — A Sae-chan não quer atrasar o papai para o compromisso dele, não é?

Sua voz lhe fazia gargalhar, como se fosse a maior aventureira que a noite ja viu. Então, em seu pequeno vestido sufocante, ela corria como nunca antes, até chegar na origem de sua felicidade. Abraçava com firmeza o par de pernas a esperando no final da calçada, cobertas por um longo vestido e uma meia calça grossa o suficiente para esquenta-la sem problemas. Ali se sentia segura, protegida pelo cafuné que conferia se seu pentiado ainda estava inteiro.

— Que terror, meu amor. — A mais velha ria. — Não pode exagerar assim nas brincadeiras. Estamos de saída, esqueceu? Vou ter que arrumar sua trança de novo...

Incomoda-la nunca parecia um problema. Sua vontade era de repetir todas as trapalhadas que fazia para escutar sua risada mais e mais uma vez, sem parar. Tinha certeza que nunca se cansaria disso.

— Quem te deixou fazer isso, mocinha? To achando que você vai dar trabalho para todos quando crescer.

Os faróis do carro se acendiam e, com eles, a nevoa se tornava mais nitida. Por uma vez em anos, as ruas pareciam desertas, como uma cidade abandonada, com seus outdoors brilhando em plena madrugada.

A mais velha abria a porta de trás, conferindo o interior do veículo antes de cumprimentar o motorista. Tudo ja lhe era tão conhecido que nem estranhava, procurando loucamente pelo pote de balas na frente do banco central.

— Desculpa, mamãe.— Sae dizia antes de fecharem a porta, sem realmente se importar com qualquer coisa que não fosse seu conforto.

— Não tem problema, querida. Agora temos que ir.

>>>> Fim do Capítulo <<<<

Hero's Legacy - Boku No HeroOnde histórias criam vida. Descubra agora