Sorte aos ventos

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- Eu quero dormir... - Ela diz.

Leva lá algum tempo para estar de pé novamente, mas pouquíssimas horas para retornar à rotina. Voltara a fazer as atividades de casa assim que foi possível, para então conseguir saber o conteúdo perdido na aula durante sua ausência, mas nada era muito difícil. Usou do tempo que lhe restava para esvaziar a biblioteca da ala infantil do hospital, que a surpreendeu ao não apresentar nenhum livro tão interessante como "Uma lagarta muito comilona". Depois de receber alta, parecia que nada aconteceu nesse meio tempo. Tudo continuava igual.

Ao chegar em casa, encarou uma série de treinos, estilo militar, os quais teve que aguentar por dias. Diz Owen que são atividades próprias para exercitar e estimular sua individualidade e o equilíbrio com o corpo, mesmo não sendo profissional algum da área da saúde para saber o efeito direto que um tem sobre o outro. Mas, de certa maneira, ele era o mais apto a tomar tais decisões, pois ainda sabia as manhas de planejar exercícios de alto impacto para um batalhão - e coloque alto nisso.

Corrida, ginástica, natação, luta. Sae poderia virar uma atleta olímpica famosa se quisesse, ganharia todas as medalhas. Só não a chame para uma queda de braço, que qualquer um poderia humilha-lha no quesito força. De qualquer forma, é muito esforçada nos treinos. Pode reclamar o quanto for, porque gosta de se distrair com esse tipo de trabalho, independente do esforço. Gosta de ver seu progresso no que faz. Além do que, é acostumada com essa rotina desde pequena.

Então, quando estava bem o suficiente para voltar à escola, notou que o exercício drenou sua energia até mal sentir seu corpo se mexer, era por muita sorte que apenas existia onde precisava estar, ela disse, dormindo em algumas aulas no caminho e esperando pelo dia que voltaria a sentir os músculos mais uma vez. Nunca esteve tão desvalida. Preocupou seu professor algumas vezes, mas, verdadeiramente, aparentava melhor do que descrevia.

- Você parece um zumbi... - Brandou Hitoshi em resposta a amiga, com um sorriso brincalhão.

Não concordava com suas próprias palavras, achava lindo apenas vê-la ali em sua frente, com rosto tão tranquilo. O sol batia apenas da maneira perfeita para que a inveja faça outros desejarem seu mal, com a fina pelugem do canto da bochecha reluzindo beleza de sua forma tão delicada. Ela sempre foi uma das meninas mais bonitas da escola, até onde sabia. Mas, infelizmente, o doce som de voz do menino, nesse instante, soava como lixa aos ouvidos da Monalisa, tornando sua atenção para tal calúnia proferida, com rancor em seus olhos.

Não parecia nada feliz de repente. Sae, com pouco apetite desde a época de hospital, aproveitou o momento de indignação e guardou seu almoço para outra hora. Agora se espreguiçava, pronta para dar um soco no rosto daquele com cabelo roxo, se fosse necessário.

- Como se você estivesse melhor, Hitoshi. - Ela dizia ríspida. Sua testa franzida fazia o menino rir um pouco mais.

- É Shinso pra você, ja conversamos sobre isso. Somos amigos, pode me chamar pelo primeiro nome.

- Tanto faz, senhor Hitoshi. - diz, de uma maneira ainda mais formal do que antes, quase como um insulto.

- Garota chata... - Shinso brinca. - Só estou dizendo que você está mesmo parecendo cansada.

- E eu já te disse que estou. - Ela se emburra, como uma criança desentendida. - Você não precisa reforçar minhas palavras, elas podem ter sentido sozinhas.

Era engraçado, para não se dizer trágico, o jeito como era simplesmente impossível chegar em meios termos. Seu rosto não demonstrava delicadeza, coisa que nunca chegou a apresentar desde o momento em que se conheceram, parecia seria como uma tábua. Não era muito rotineiro, apesar de natural. Sae não tinha qualquer tolerância com piadas, ou coisas supérfluas, uma maneira de se dizer que se sente desrespeitadas quando sua razão não basta. Era, as vezes, irritante. Porém, todos concordam que teria sido melhor para seu coitado amigo se ele tivesse ficado calado.

Hero's Legacy - Boku No HeroOnde histórias criam vida. Descubra agora