Sopro de familiaridade

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Por baixo de seus suspiros, vozes começavam a ter sentido entre murmúrios abafados. Elas discutiam alto sobre algo que não entendia bem, então tentava esquece-las para voltar a sonhar. Tudo continuava sendo irritantemente exagerado e insuportavelmente diferente. Pedia de coração que essa fosse uma nova encarnação e sua vida se tornasse mais normal, algo que não tinha muita fé de ver acontecer.

— Por que vocês não podiam ter um segundo de entendimento?! — Alguém gritava naquele pequeno ambiente. — Duvido que estaríamos nessa se prestassem mais atenção na sua irmã do que em uma discussão boba.

— Ela tinha prometido não exagerar, imbecil... se esqueceu disso?! Ninguém colocaria a Sae em risco, mas não da pra proteger ela de tudo!

— Idiota, essa sua justificativa não resolve nada!

— Muito menos a sua bronca!

— Eu to tentando ajudar!

— Tá atrapalhando, isso sim! Essa garota sempre foi uma peste, não sei porque você acha que isso não aconteceria!

Ja havia bastante tempo desde a última vez que os escutou brigarem, até porque nunca faziam isso na frente de adultos, ou qualquer pessoa de fora da família, apesar de seus irmãos nunca terem se dado muito bem. Claro, parecem animais em uma floresta perdida, como quem nunca teve contado com o mundo "civilizado". O pavio é curto demais e explode rápido, o recente problema era apenas ideal para deixar a cidade em chamas.

— Eu acho melhor fazer-mos silêncio. — Outro diz entre a discussão irracional. Esse, por sua vez, era bem mais novo do que os outros dois, soando muito mais introvertido também, o que não condizia com a realidade.

— Cala a boca, Kenta! — Os garotos diziam em uníssono, quase arremessando o menor para longe apenas com o som. Contavam apenas com a sorte para não serem expulsos do hospital.

O incomodo daquela no centro de toda a tensão era evidente para quem prestava atenção em seu franzir de sobrancelhas, o que dava um total de zero pessoas. Ela sentia seu peito pesado, assim como suas pálpebras, e, facilmente, notava o cheiro esterilizado de hospital. A máquina que bombeava oxigênio era ruidosa, mas, além da sonolência e da baderna de sua própria família, Sae já não tinha do que reclamar.

Tentava acordar com calma, para absorver o que acontecia sem muito alarde, falhando em prosseguir despercebida ao começar a engasgar com o tubo que levava o ar até sua traqueia.

— Sae-nee! — A voz mais infantil comemorava, vindo as pressas para o lado da sua cama, com suas mechas cor de rosa saltitando conforme apertava o passo. — Aí que alívio! — Ele suspirou tímidas lágrimas. — Eu achava que você tinha morrido dessa vez. — chorava.

— Garoto idiota, a gente tem que chamar um médico! — Gritava o moreno mais velho, correndo até a porta...

Não demorava muito para uma enfermeira desentuba-la, muito menos para a família se reunir depois do checkup do doutor, que dava um breve resumo para as crianças e saía para atualizar o caso da menina para seus responsáveis. Voltando a aproveitar o momento apenas entre irmãos, quando Owen e Asumi foram ver o plano de tratamento com mais detalhes, Hayato Kenta, Kumori Yusei e Noah Collins, sorriam ao ver sua irmãzinha sem muitos fios ligados ao seu corpo.

Os rostos tinham estampado o sopro de alívio, que confirmava, em suas cabeças, não existir crime que culpasse-os por algo no qual foram agentes indiretos. Era uma mágica completa, com certeza. Fazer alguém ir de "clinicamente morta" para "mais uma sexta-feira comum" e depois ainda tomar um café, não é algo que qualquer um pode fazer.

— Onde estamos? — A menina acamada suspira, trazendo consigo a surpresa no olhar de quem a escuta.

— No hospital geral de Musutafu. — Noah dizia.

Hero's Legacy - Boku No HeroOnde histórias criam vida. Descubra agora