Hora do almoço

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— Kazato-san? — Uma voz ecoa entre a pequena sala. Não sobrara ninguém além dela por ali. — Não vai almoçar? — Disse o garoto, mesmo quando pouco tempo faltava para o intervalo entre as aulas acabar.

Seu cabelo verde era comum agora, mas a garota não se sentia bem para responde-lo, ou se quer para o encarar.

— Você está bem? — Ele se aproximava.

Era uma questão de orgulho. Se esqueceu do que levou-a a remoer o passado pelo resto do dia. Duvidaria que algo fosse capaz de mudar sua mente, e não se perdoaria por deixar ceder.

Ela buscava pelo telefone que tanto evitou desde a notícia do dia anterior. Queria ligar pra casa, pedir para autorizarem sua saída, para Noah levá-la pra tomar sorvete, ou para Yusei vir buscá-la para ir ao shopping. Qualquer coisa era melhor do que aquela humilhação.

O dia já não seria normal em seu humor ansioso, a culpa, então, só piorou seu enredo fatídico. Nada de bom teria nesse capítulo de sua vida, apenas a necessidade de preencher a linha cronológica para o próximo fazer sentido, assim como o próximo, e o outro depois desse. Isso tudo por causa daquela mensagem, e o único motivo dos seus pensamentos terem consciência nesse momento eram os olhos verdes daquele garoto.

Não gostava. Preferiria viver esse dia em anestesia do que acontece em sua volta, como uma espécie de punição por se deixar levar em tanto papinho heróico do tal professor Aizawa.

Midoriya estava adiantado afinal. Ninguém costuma procurar as salas durante esse horário, principalmente pessoas que vivem cercadas de amigos. No mínimo, era estranho ter a sua presença ali. Sozinho, como nunca antes, ele caminhava com um papel em mãos, de uma única palavra escrita, e o ar de quem guardava segredos...

— Qual é a sua, em? — Rosnou a novata, enquanto se levantava para encarar aqueles verdes olhos.

Ardiam como o fogo, penosos e quase assustados.

A princípio, não viu problema naquele jeito de falar, foi um pensamento simples, porém, depois, pôde notar que soava um pouco rude. "Asumi vai ficar brava comigo se descobrir", ela pensava, porque, ultimamente, tinha mais os outros do que si mesma na cabeça e, agora, queria poder admitir isso.

— Q-que? — Midoriya se enolhia.

Nada era dito em poucos suspiros. Perdoava-se sem pedir desculpas àquele a quem devia.

— Você... sempre que te olho... você guarda alguma coisa.

— E-eu? P-por que eu g-guardaria? — Ele parecia nervoso.

Os sinais de sua omissão eram evidentes e, ainda assim, não conseguia se enfuriar com o tal.

— O que faz aqui então?

— E-eu precisei vir p-pegar m-meu... meu... — Se enrolava. — meu c-caderno! — Esclarecia, caminhando em passos inseguros até a própria mesa, muitas fileiras a frente da de Sae.

Era um bloquinho surrado, pouco profissional aquilo parecia, mas Izuku tinha-o tratado com carinho e respeito.

— Pra que o caderno? Ainda é hora do almoço. — Sae, incredulamente, tenta lembra-lo da maior furada de sua mentira.

— É-é pra... verificar minhas anotações! — Claro. Ele gritava, como se o volume de sua voz tornasse o que dizia mais verídico.

Assim, lenta, Kazato ousou se aproximar da carteira daquele mentirosinho.

Via paginas e mais paginas com informações precisas sobre heróis, e muitas outras sobre seus colegas de sala.

Perto do final, seu nome escrito.

Hero's Legacy - Boku No HeroOnde histórias criam vida. Descubra agora