Voragem da brisa

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Caminhando pelos corredores, Sae procura por um lugar onde possa ficar sozinha, um que fosse bem distante de qualquer coisa, para mais nada chegar a interrompê-la. Tal paraíso ficava distante, a quatro ou cinco lances de escada acima de onde começou sua jornada.

Ninguém frequentava o espaço, tornando-o perfeito para suas vontades. Com poeira em um nível apenas pouco alarmante, ali tinha clima para um cochilo profissional, então ela veio a descansar, sem pressa para se atrasar. Pedia por um momento assim ja tinham algumas horas, antes mesmo de subirem os portões do festival. Estava fisicamente exuta por ter que lidar com pessoas, ou, ao menos, era a isso que queria culpar. Na realidade, sempre se viu como uma pessoa introvertida, então adotou essa como sua verdade absoluta, apesar de nunca achar tanta motivação pra fazer nada, independente de ter, ou não, que socializar com outros seres humanos.

De um jeito ou de outro, a verdade era que as personalidades de alguns dos alunos estavam ficando cada vez menos atrativas de se conviver. Claro, esse tipo de gente sempre esteve espalhado pelo mundo, mas o problema foi se encontrar no epicentro delas, que, como em uma doença contagiosa, pareciam se multiplicar. A começar pelo diretor da escola, literalmente um rato, não existia maneira da U.A se assemelhar a um ensino médio comum. Contudo, isso não importava mais, pois sabia que não podia continuar a repudiar aqueles quem criticava, uma vez que passou a atrair tantos olhares quanto seus maiores inimigos, os grandes "aspirantes à ter um futuro descente".

Era tudo culpa dessa competição ridícula. Só de imaginar quantas pessoas poderiam ter a assistido, naquele instante, se sentia enjoada. Era um exagerado sem tamanho, e o pesadelo que cruzar a cidade seria, depois daquele momento, se tornava óbvio. Não teria um dia de paz se as pessoas a reconhecessem na rua, mas a sensação de vitória a preenchia de um sentimento bom, que remechia seu estomago. Então, ponderando um pouco mais sobre os benefícios que o conjunto da coisa poderia gerar para sua vida pessoal, futuramente, ela se segurava na hipótese de chegar no ponto mais alto do pódio.

É provavel que usaria a atenção como desculpa para não sair de casa, assim como os resultados da competição para se dizer superior aos seus irmãos. Então, deveria agradecer o choque no encontro com o tal Katsuki, por ter a feito refletir. Tão facilmente, conseguiu acender alguma chama pelo esporte, que, apesar de ser incerta e fraca, fazia-a querer se mostrar melhor do que a bomba ambulante, que ameacou-a sem justificativa. Assim, se convencia de participar mais da próxima vez e, talvez, colocar um pouco mais de alma no que fazia.

Horas se passaram e não estava completamente descansada, mesmo fechando os olhos por um tempo. Contudo, enfim, a primeira rodada do terceiro desafio chegava em seu finalmente, com sete vitoriosos e um empate, que seria decidido por um jogo de queda de braço. Todas as partidas foram interessantes, algumas mais do que outras, com seus socos e reviravoltas. A discrepância das habilidades de certos participantes ainda era muito grande para se ter algo diferente do resultado obtido, como na luta de Todoroki, Kazato e Katsuki, com movimentos grandiosamente destrutivos, mas todos deram seu melhor, aparentemente.

Não tinha mais o que fazer por um tempo, agora ela esperava pelo momento do terceiro confronto da rodada, onde seu nome estava marcado, ao lado de um tal de Iida. Preguiçosamente, fez o esforço de descer a escadaria, até encontrar o corredor das salas de espera dos participantes, onde seu único objetivo era pegar seu telefone para verificar as mensagens que passou a manhã inteira ignorando. Foi apenas depois de entrar que notou estar na sala errada.

A surpresa de um silêncio incômodo a congelou sob o olhar choroso de uma menina com um curativo no rosto. Atrapalha-la em tal momento era seu menor desejo, por isso tentava sair de ré, evitando demais julgamentos. Seus passos eram tensos, como se aquela fosse uma situação de guerra, que explodia em conflito no instante que esbarrou em alguma coisa antes de voltar aos corredores. Um menino, nem tão baixo e nem tão alto, com um cabelo verde bem cheio, parava, agora, em sua frente, boquiaberto.

Hero's Legacy - Boku No HeroOnde histórias criam vida. Descubra agora