A viagem do destino

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Havia um grande campo aberto atrás da escola, depois das pistas de corrida, bem próximo da muralha norte, que se escondia na floresta. Nele, não era permitida a presença de crianças sem supervisão, mas justo a falta de olhos para o terreno criava a brecha necessária para a presença delas ali.

Sentava-se na grama um pequeno grupo de alunos uniformizados, que não queriam estar em suas aulas. As roupas em vermelho escuro e cinza se destacavam no descampado, mesmo que fosse impossível de percebe-los por ali, e eles sabiam disso. Sae, Kai, Akira e Katori, os prodígios, para não exagerar de mais na nomenclatura, aprenderam todas as estratégias e pontos cegos da escola para conseguirem esse minuto de paz.

O professor de literatura clássica não costuma fazer a chamada, por isso nunca notou a falta deles em sala, e, logo depois, a aula de educação física fazia o campo de encher de gente, o que distraía os professores de sua chegada precosse. Conheciam a rotina com a palma da mão desde a educação infantil, aplicam apenas com maestria agora que estão no fundamental.

— Nunca quis sair daqui? Ver por fora dos muros? — Suspirou o menino esquentado, Kai, aquele de pele avermelhada e cabelos em chamas. Sempre foi simpático e muito educado para o passado que teve, ou, pelo menos, é o que dizem. É raro o ver sem seu sorriso.

— Não. — Katori responde. Esse era um tanto mais sério e reservado que o primeiro, poucos meses mais velho também, o que não vem ao caso, de qualquer forma.

— O mundo lá fora é tão ruim quanto aqui dentro, mas sua vida está em risco todos os dias por lá. — Explica a Sagami. Akira Sagami, filha do meio de um casal de ricos, a única, por ali, com lugar para chamar de casa, e simplesmente muito comum para querer parecer especial. — A rua da minha família é extremamente perigosa, e isso só piora quando você dirige pro centro da cidade. — Um ano mais velha que qualquer um do grupo, tinha grande desfalque em relação à outros colegas de turma, mas seus conhecimentos sobre o cotidiano da cidade a tornaram uma espécie de sábio.

— É pra isso que somos treinados, não? — Kai volta a perguntar.

— Somos tão inúteis quanto qualquer herói fora desses muros. — Katori volta a dizer. — Ou até mesmo mais fracos.

— Ei! Nos somos os mais fortes! — Esclareceu o primeiro.

— Entre o fundamental inicial da Academia.

— A diferença não pode ser muito grande! Ganhamos daqueles caras do ensino médio no teste da aula da semana passada!

— Eles pegam mais leve.

— Não pode ser tãããããão mais difícil. — Teimou Kai.

Uma brisa rasa sopra o gramado, ao ponto de deixar aquela almofada natural desconfortável. Os olhares se cruzavam em um só golpe e apontavam diretamente àquele ser que pouco na vida se escutava a voz.

— Sabe quem são aquela gente para o Médio, Kai? — Sae branda. Nessa época seus cabelos eram ligeiramente mais longos e se entrelaçavam na frente do seu rosto. Tinha um ar sombrio em si, quase morto.

— N-não. — O garoto prendia suas palavras.

— Os alunos mais fracos. — Dizia. — Ainda assim, tivemos dificuldade para enfrentá-los.

— Aqueles que deixam a escola tem que se destacar como indivíduos. Faz sentido não colocarem a elite pra brigar com as crianças. — Katori refletia.

Os adolescentes daquela instituição viviam com essa constante pressão sobre seus ombros, pois a maioria não aguenta mais essa estática em suas rotinas. Mas, entre todos os destaques da instituição, apenas um pequeno bocado consegue oportunidades realmente interessantes. No caso dos prodígios do gramado, por exemplo, a Sagami é a única que estaria nessa porção, por ter dinheiro pra atrair grandes olheiros, enquanto o resto sofreria com outro destino.

Hero's Legacy - Boku No HeroOnde histórias criam vida. Descubra agora