Piloto

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Os poderosos têm o dever de proteger os mais fracos, é assim que o bom senso foi escrito. Em uma sociedade de habilidades sobre-humanas, das mais diversas, foi necessário a criação de quem sustentaria a paz de um mundo que nunca existiu.

Os livros de história contam, agora, os anos sombrios da humanidade, quando a violência sem justificativa estava em seu auge e a justiça era cobrada com as próprias mãos. A juventude comum não experimentou isso, como seus pais, muito provavelmente, também não sentiram na pele o que era a sobrevivência em seu mais puro instinto.

Atualmente, grupos radicais questionam seus métodos, mas o heroísmo é a maior arma que o ser-humano tem. É assim que toda a criança sonha em salvar a pátria e, algumas delas, realizaram seus desejos sem muita enrolação.

O problema é quando esse sistema falha miseravelmente com uma das mentes jovens que precisava inspirar. Escondido onde nada se vê, mesmo que os olhos não consigam descansar.

A vida é uma experiência curta, tira-la de alguém é um dos piores maus conhecidos. Porém, apesar do malfeitor ter sido preso no mesmo dia, não lhe foi cobrado justiça por tal delito abominável, que o manteria na cadeia por uma vida inteira, mas sim por roubo e uso indevido de individualidade, o privando de liberdade por alguns contáveis anos.

Viver se tornou algo relativo. Não havia mais alguém ao seu lado em todos os momentos, com o gentil sorriso de amor incondicional e absoluto. Não existia ninguém que a fizesse voltar no tempo para o dia que ela teve tudo. Então, sobrara sozinha, Kazato Sae, uma garotinha de pele escura como chocolate ao leite, cabelo ondulado, naturalmente platinado, e olhos azuis, tão claros que assombram. Ela carregava algo importante consigo, esse o único resquício de familiaridade que tinha com aqueles que foram deixados pra trás, uma individualidade, que apareceu apenas quando estava perto de completar 5 anos.

Quando estressada ou incomodada, rajadas de vento fortes passaram a lhe cercar. Infelizmente, Sae poderia ser um pouco temperamental e essa mágica situação se torna frequente depois de sua descoberta, causando alguns acidentes. Chamaram-na de Kamikaze, poderosa apenas por seu nome e tão especial que prejudicou sua adoção. A pobre garotinha não era mais considerada segura para lares simples, forçando-a a esperar por um lugar preparado para o desafio, em uma escola interna preparatória... mas isso é outra história.

Entre seus quatro e nove anos, viveu trancafiada atrás dos grandes portões da Academia Prince, em Tóquio, até acabar em uma casa gigantesca em Hosu. Owen Collins, um ex-militar australiano, um tanto simpático, apesar da figura amedrontadora, tinha o nome da escritura. Na época morava com sua esposa Asumi, que nasceu na cidade, e tinha apenas dois filhos, Noah e Yusei, o segundo menino adotado quando ele tinha 9 anos.

Passou a viver nessa estabilidade intrigante, em um ambiente agradável, com pessoas legais, onde tudo sempre fazia sentido. Ainda estudava no internato, mas agora tinha um lugar onde podia passar os fins de semana.

De qualquer forma, pouco importa o que ocorreu até ali, pois havia chegado ao ensino médio e sua história foi resetada no instante que pisou no novo campus. Sortuda era ela por entrar em uma das atuais instituições mais renomadas do país, aquela descendo a penúltima parada da linha de trem.

Não é de se gabar, mas sua nota foi tão deslumbrante na prova de admissão que nem tinha o que questionar, era uma garota simplesmente inteligente. Sae deveria ter orgulho.

Em sala, era do tipo que os professores demoram para descobrir o nome e as pessoas temem incomodar. Viveu em seu mundo durante dias, lanchando no telhado da escola, com apenas um menino de cabelo roxo, que insistia em segui-la. Nada atrapalharia a paz criada na bolha onde se encaixou, mas as atividades escolares continuavam e a academia tinha grande destaque nelas.

Hero's Legacy - Boku No HeroOnde histórias criam vida. Descubra agora