Diante daquele enorme túmulo, com o caixão de prata em cima, envolto por correntes, assistindo Felipe mais uma vez retirar o relógio de bolso daquele compartimento secreto, e após ouvir, em silêncio, a misteriosa voz se pronunciar pouco tempo depois de entrarmos aqui, aproximo-me do túmulo, e começou a vistoriar as correntes que estavam envolto dele, quando descubro um pequeno cadeado eletrônico, bem escondido, ao fundo de alguns candelabros, o mesmo, após ser tocado, acendeu a tela e pedia uma senha de 8 dígitos.
- Felipe, olha isso. – Chamo a atenção de meu primo que já estava com o relógio em mãos.
- Ah sim, o cadeado, eu também o achei algum tempo atrás. - Felipe diz, ficando ao meu lado, de cócoras, observando o objeto em sua mão. – Mas, a senha que pede aí não é a de meu pai, e eu não sei a do seu, logo, você bem que poderia tentar, né?
- Acho melhor não. – Falo, sensato.
- Você nunca teve curiosidade de saber o que tem ali dentro. E que perigo poderia haver nisso? Seria apenas uma espiadinha, ele está dormindo, não é mesmo, que mal teria?
- Feh, você se esqueceu que ele está consciente de tudo que fez hoje? E se a gente abrir e ele voar em nossa garganta?
- Acho pouco provável, Louis! Deveríamos fazer isso.
- Você não vai me deixar em paz enquanto eu não o fizer, né?
- Ainda bem que você sabe. – Felipe diz sorrindo de uma forma bem ridícula.
Pego então o pequeno cadeado em minhas mãos, e digito a senha de meu pai, afinal, que mal teria, se a senha de meu tio não foi capaz de abrir, porque a do meu pai abriria, não é mesmo? Penso! Quando termino de digitar a sequência numérica aperto ENTER, e, para minha surpresa, o cadeado é destravado, soltando a corrente de imediato, que cai de cima do túmulo, deixando-o totalmente livre. O ato faz com que eu me levante com pressa, preparado para correr, como se não houvesse amanhã, caso algo saia dali de dentro. Mas nada acontece.
Felipe, que levantou-se comigo, acho que na mesma intenção que eu após notar que tudo permaneceu na mais bela calmaria, caminha para perto do túmulo, procurando talvez uma maneira de o abrir, eu presumo. E um simples empurrão contra a tampa, causado por mim, quando fui me virar para ver alguns objetos que havia na sala, foi capaz de abrir a tampa, mesmo que minimamente. Curiosamente, nenhum odor ruim saiu de dentro, muito pelo contrário, um cheiro estupidamente agradável e chamativo emanou dali, impregnando todo o ambiente.
Decido então empurrar de vez aquela tampa para o lado, expondo um corpo muito bem conservado, o homem parecia dormir tranquilamente com um sono profundo. Seu corpo é muito maior que o meu, presumo que ele tenha mais de 1 metro e 80, sua musculatura bem definida, é visível pois, sua roupa estava bem surrada, obra do tempo, havendo uns buracos, expondo seu peito esquerdo, não tenho a mínima ideia de que roupa seja essa, nunca vi algo parecido, seus cabelos castanhos escuros, cacheados, penteados para trás, pele por incrível que pareça, não tão pálida como deveria ser, ou pelo menos, como eu imaginava.
- Uau. – Felipe exclama, apoiando-se nas bordas do caixão de prata, e observando as feições do homem à nossa frente. – Quem me dera eu fosse assim. – Exclama por fim, soltando um riso nasalado. – Será que é um vampiro? Levante a gengiva dele, vamos descobrir.
- Porque eu? Levante você! E se na hora que aproximar a mão ele me der uma mordida? Nem fodendo que eu faço isso, Felipe!
- Cagão, se fosse pra ele fazer algo, acho que ele teria feito assim que nós abrimos a tampa, não acha?
- As vezes ele só está esperando a hora certa. – Exclamo por fim.
- AFF, tenha dó, viu, faço eu então. – Meu primo diz, levando a mão cuidadosamente até próximo do rosto do homem, fazendo um aceno frente a ele, para ver se saia algum movimento do do corpo imóvel a nossa frente, nada acontece.
Quando Felipe toca seu queixo, na intenção de revelar sua arcada dentaria, um candelabro, uma porra de um candelabro cai no chão, bem a nosso lado, fazendo um barulho medonho, Felipe imediatamente afasta a mão do homem, gritando. Meu susto foi tamanho que eu nem sequer tive forças para gritar, simplesmente a voz não saiu.
Tanto meu primo quanto eu, corremos em direção a porta, mas, ela é fechada abruptamente, por forças misteriosas, tentamos forçar a maçaneta, puxar, empurrar, mas não abriu. Olhamos de volta para o caixão, nos tremendo da cabeça aos pés, e tivemos a constatação que esperávamos, o homem ainda deitado, na mesma posição.
Tornamos a nos aproximar dele, desta vez, com cautela em dobro, e eu, silenciosamente, sem comentar com Felipe, reparei que sua feição agora parecia um pouco mais contraída, eu diria que, talvez até pudesse estar sorrindo, caso não estivesse dormindo, detalhe que aparentemente passou despercebido por Felipe. O rosto do homem agora parecia como se ele tivesse se divertido com a situação que acabara de acontecer.
Felipe mais uma vez leva a mão ao queixo da criatura, e puxa para baixo, rapidamente, revelando dentes extremamente alinhados e brancos. Sem nenhuma preza, ou caninho fora do normal, a criatura tinha uma arcada dentária tal qual como a nossa. Enquanto o loiro ao meu lado ganhou confiança e começou a mexer na boca do homem, reparei apenas que os dois dentes superiores da frente, eram um pouco maiores que os demais, mas, isso não se classificava como uma presa, ou algo ameaçador.
Olho nas mãos do homem, e reparo que abaixo delas há um pequeno papel dobrado. Se foi colocado ali é porque ele não se move, ou seja, eu posso retirar este papel para examiná-lo, afinal, sem risco algum, presumo.
Felipe retira as mãos do rosto do homem, e assiste meus movimentos com atenção. Eu calmamente encosto sas mãos dele, e um arrepio sobe por todo meu corpo. Levanto-a e constato que ele não está enrijecido, como de costume. Pego o papel em minhas mãos e o desdobro. Há algumas palavras ali, escrita com uma letra muito forte, mas em um idioma totalmente desconhecido por mim. Mostro a carta a Felipe, e ele também não reconhece a língua. Decidi então guardar o documento recém descoberto em meu bolso a fim de estudá-la, se a gente não morresse hoje, depois devolveremos.
- Mano, temos que voltar, já tem um bom tempo que estamos aqui, certamente seu pai deve estar estranhando esse passeio noturno. – Felipe me diz, já pegando a tampa e o tampando. Logo em seguida, eu, sem responder o mesmo, pego as correntes e as passo em volta do caixão, imitando o jeito que estavam. Felipe pega as duas pontas da corrente, e passa o cadeado entre elas, e o tranca.
Neste momento, a porta se abre, como mágica, liberando nossa passagem, e saímos apressadamente dali. Próximo a saída do barracão, aceno para Josh, que acena alegremente de volta.
- Tchau, Lobinho. - Felipe diz a Josh, que somente acena para ele também.
A volta para casa foi apressada, não queríamos passar por nenhum outro incidente naquele dia. Ao chegar, subimos direto para meu quarto, apenas pude ouvir Felipe gritar para o tio Peter "papai, dormirei hoje aqui" recebendo um "juízo, vocês dois" como resposta.
Quando entramos no quarto, a primeira coisa que fiz foi abrir meu notebook, entrei no Google e comecei minha pesquisa por escritas antigas. Enquanto Felipe fazia o mesmo, pelo celular. Não demorou muito para acharmos uma escrita que se assemelhava muito com as palavras discorridas no papel. Chegamos à conclusão que provavelmente o documento estava escrito em aramaico.
Graças a tecnologia, achamos um alfabeto de aramaico no Google, não tínhamos certeza se era funcional, verídico ou confiável, mas, não custava tentar, né? Felipe e eu começamos então a "traduzir" o documento, eu logo fiquei com uma pulga atrás da orelha, afinal, usando aquele documento para traduzir, a primeira frase que formamos, não fez lá muito sentido não, mas, ainda assim continuamos, vai que no final pode dar certo, né?
*****NOTAS DE RODAPÉ*****
Chegamos ao fim de mais um capítulo, espero que tenha curtido.
Este foi um pouco mais sossegado, porém, muito importante. Não se esqueça de comentar e deixar seu voto, se possível.
Até o próximo, te espero lá.
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Crisântemo Zoo
AventuraHá quem diga que "Crisântemo Zoo" não é apenas um Zoológico comum, as pessoas desconfiam que ali não há somente animais em exibição. Eles nem imaginam o quanto estão certos. Em um mundo repleto das mais diversas criaturas sobrenaturais, foi criada n...