Chapter 11: TIC-TAC

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- O relógio de bolso, me entreguem ele, quero vê-lo para constatar se tudo está como deve estar. – Anthony me pede, mas, atribuo a tarefa de retirar o relógio do compartimento secreto à Felipe, que rapidamente obedece, enquanto eu trancava as correntes que ficam envolta do caixão no cadeado.

- Aqui está você, gracinha valiosa. – Meu primo diz, retirando o relógio de onde estava depositado, e encarando-o deslumbrado. Acredito que o fato de o relógio ser a chave para acordar a criatura o deixou, aos olhos de Felipe, infinitamente mais atraente.

- Mas o que estão fazendo aqui? E quem é ele? – Uma quarta voz, desta vez, feminina se faz presente no local

- AHHHHHH. – Felipe se assusta, e no calor da emoção, se desequilibra, e arremessa o relógio para o alto, fazendo com que todos os presentes agora gritem, assustados, pelo grito de Felipe e a aparição repentina de Rebeca no recinto.

O mundo naquele instante pareceu desacelerar, todos nós ficamos observando o relógio voando pelo ar. Parecendo estar em câmera lenta. Todos com os olhos assustados. Anthony foi o primeiro a saltar para tentar pegar o relógio antes que caísse ao chão. Mas, esbarra seu corpo contra um grande candelabro que estava ao lado do caixão. Não teve jeito, o Relógio caiu, com o pino de acionamento virado para baixo.

O silêncio é instaurado no mesmo momento. E graças a falta de som, pudemos escutar um breve e rápido TIC-TAC, feito pelo relógio caído aos pés de Rebeca. Rapidamente Felipe apanha o pequeno objeto no chão, com as mãos trêmulas e o analisa.

Eu, que apenas observava a cena boquiaberto, escuto uma voz um tanto quanto familiar me dizendo: "Como este teu amigo é burro!" seguido de uma risada grave e assustadora. Aparentemente apenas eu escutei. Olho desconfiado para o caixão, mas tudo normal. O silêncio constrangedor é quebrado por Felipe.

- Acho que não aconteceu nada. – Ele diz, estendendo o objeto a Anthony, que o pega em silêncio.

Ao tocar as mãos do Lobo, o relógio emite uma luz branca, e diversas borboletas, algumas azuis, amarelas, brancas, e vermelhas, são projetadas sobre ela. Todos assistimos a cena sem entender nada, o único que parecia fazer ideia do que era aquilo era o próprio Anthony.

Quanto a Rebeca, saiu correndo no momento em que as criaturas começaram a sair do relógio, gritando desesperada, Felipe, por impulso, correu atrás dela, para impedir a garota de dizer o que havia visto ao pai, ou a Benjamim. Ficando, por fim, apenas eu e Anthony ali.

- Está tudo normal, por sorte, o pino não foi acionado. – O garoto diz, simplesmente, depositando o relógio onde deveria estar. Fechado o compartimento.

Anthony então, vira-se para mim, caminha até estar próximo o suficiente, coloca a mão sobre meus ombros, e proclama:

- Tenho que ir agora, em poucas horas vai amanhecer e eu preciso estar longe daqui. Boa sorte e que Deus os proteja. – As palavras do garoto vagueiam pelo cômodo, enquanto ele transforma-se novamente, pegando sua forma animal, e enquanto corre para o portão de saída, suas roupas vão caindo ao chão, sendo deixadas para trás. O animal para antes de sair, olha para trás, conectando seus olhos ao meu, e em seguida, segue seu rumo, me deixando, agora, sozinho naquele barracão, naquele cômodo, e com aquele caixão.

Girei meus calcanhares, de modo que fico frente a frente com o caixão, no momento exato para ver uma fumaça branca saindo das bordas da tampa, e aquele cheiro novamente tomando conta do ambiente.

No mesmo instante, o que não poderia ficar pior, fica, as várias caixas de som, espalhadas por todo Zoológico, e inclusive, dentro do barracão, que servia para a direção passar algum comunicado, começaram a tocar uma melodia que logo no primeiro acorde a reconheço. Se tratava de uma música de Carl Orff, chamada "O Fortuna ~ Carmina Burana.

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